quarta-feira, 27 de abril de 2011

RENÚNCIA


Entrei no sótão repleto de cacarecos, coisas passadas que por um motivo ou outro foram deixadas ali. A poeira cobria tudo e o sol que entrava pela clarabóia criava uma névoa que trazia a tona velhos fantasmas do passado, um frio percorreu minha espinha. Mas estava decidida a por fim naquela bagunça, iria separar documentos e fotos antigas de família e o resto seria lixo, comecei devagar sem pressa, entre lembranças, muito pó e a firme decisão de romper definitivo com o passado. Lágrimas e risos percorriam minha face ante uma foto, um jornal de época, livros de escola, um presente de uma amiga, meu pai, meus avós, e assim fui limpando e recriando meu passado em minha mente junto daqueles pertences. Já passava metade da manhã e resolvi tomar um chá quente, estava muito frio e o ambiente úmido contribuía para gelar meus pés, desci peguei uma xícara de chá e voltei para cima, sentada em uma pilha de livros fui sorvendo gole a gole o liquido quente, enquanto meus olhos percorriam páginas amarelas de um álbum. Os vestidos, os sarais tudo ali registrado na velha máquina fotográfica, larguei o álbum e uma pilha de papéis amarrados chamou minha atenção, deixei a xícara de lado e desamarrei curiosa, eram cartas e junto delas um retrato, era você, lágrimas caíam sem parar molhando sua foto e uma dor se apoderou de mim e era tão forte que quis morrer. Por que estavam ali? que peça o destino teria me pregado? Olhei a fotografia longamente seus belos cabelos negros bem penteados, ressaltavam ainda mais o brilho de seu olhos castanhos escuros, dando vida aquele rosto que parecia que me sorria. Ainda tremula pela emoção peguei suas cartas juras de amor eternas, mas o que estavam fazendo lá? Você tinha ido embora, me abandonado sem razão, sem explicação, mandou um bilhete meses depois dizendo estar casando com outra. Como podia doer tanto até hoje, eu tinha casado, construi família e você tinha ficado oculto em meu coração, escondido atrás da mágoa da traição. Levanto decidida a não mais continuar ali, as lágrimas voltavam a face sem parar, no meio aos papéis uma carta dobradinha me chamou a atenção, abri e quando li seu conteúdo, ali mesmo morri.

Itália, 20 de dezembro de 1947
Querido Amor, Um dia quando esta carta chegar em vossas mãos entenderás o por que do meu abandono, sempre te amei e tu és minha doce e eterna amada. Junto de ti sonhei viver, desejei dia após dia tocar seu corpo, desfrutar as delicias de nosso amor, mas hoje uma doença incurável toma meus dias e já não consigo fingir mais diante de ti. Tenho poucos meses de vida e não quero minha amada que venhas a sucumbir junto de mim, passando noites em claro junto de meu leito, a secares meus suores e o sangue que escorre de meus lábios, lábios que nunca te poderá beijar. Sei que me odiarás, mas é melhor assim do que ficares ao meu lado em minha enfermidade sem ao menos poder tocar-me, quer sacrifício maior que este? Vou levar teu amor junto comigo, te amo mais que minha própria vida, és moça, tens uma vida pela frente, que egoísta seria eu não te deixando viver. Teu...

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A DISTÂNCIA






Um dia quando a distância nos separar,
Seja por terra, seja por mar....
Leve em tua alma junto a ti
A triste lembrança do meu olhar.

Separa-se o corpo, a carne,
Fica tatuada as marcas no coração...
Que mesmo estando a perecer!
Não deixa de sentir emoção.

Emoção das noites de lua,
Em que brincavamos de amar...
Onde beijos ardentes e carícias
Eram parte deste sonhar.

Sonhar que me levou a loucura,
De quem desejou mais que brincar...
Não quiz ser só uma aventura
Morreu de tanto amar

E quando a noite avistar,
Um barco a deriva...
Só em meio ao mar
Sou eu em minha solidão
Por ti a procurar.