domingo, 28 de maio de 2023

Cores e sabores



Quando a lua se põe

A alma versos compõe

Versos tristes

Carregados de melancolia

De tudo que sentia

Foi deixado a mercê

De um amor passageiro

Com nome, sobrenome e cheiro

Que levou consigo o querer

Mas quando o sol vem raiando

Bebendo as lágrimas da noite

O coração bate como um açoite

Pedindo para viver

Quem sabe novos ares

Sem pesares

Só poetas e versos

Sem pretensão a amores

Sem luares

Apenas experimentar

Cores e sabores!


Jussara Rocha Souza

Um olhar a mais


 Pintura acrílico sobre tábua 

Girassol




Pintura em acrílico sobre tábua


Jussara Rocha Souza 













Crônica do amanhecer




Desejar bom dia não quer dizer que quem esteja desejando esteja em um bom dia, mas ele quer que você esteja, ele se esforça para que o mundo a seu redor esteja bem, mesmo que ele não possa estar.

E de repente a mágica acontece, o teu bom dia transforma a tristeza dele em alegria, é um sorriso amigo, uma palavra de fé, é um incentivo a viver, é um "acorda menina" e então aquele bom dia se multiplica e a pessoa que não tinha motivos para dar bom dia, acaba "esquecendo" a sua dor.

É a corrente do bem, da gentileza, do amar por amar e isto só traz coisas boas, o universo conspira a nosso favor quando nos tratamos uns aos outros com amor, e até mesmo o mais rabugento dos seres se dobra a um carinho.

O sol anuncia o despertar de um novo dia e mesmo nublado ele está lá nos trazendo senão calor, luminosidade traz a claridade de um novo dia, nós também estamos aqui, talvez com problemas difíceis de resolver, mas ainda estamos por aqui e isto é maravilhoso, é vida!

Se você já não é mais o que foi, não se preocupe, ninguém é mais o mesmo após um dia, eu escolho sorrir, ser gentil e mesmo quando tudo fica escuro e a alma diante do corpo enfermo também adoece, eu fecho meus olhos e imagino o bom dia de meus amigos, os sorrisos, imagino uma janela em minha alma e desenho nela um sol através da vidraça, pronto, já começou a iluminar.

A dor não dura mais que uma noite, para aqueles que fazem da sua dor a alegria de doar amor 

"Acorda menina" ainda há vida, e enquanto há vida há esperança!


Bom dia!


Jussara Rocha Souza

sexta-feira, 19 de maio de 2023

O tempo apagou teu rosto

 


Estou te deixando aos poucos

Não que eu queira te deixar

Apenas o tempo


Este cruel vilão

Me fez esquecer teu rosto

Tento lembrar do beijo

Do gosto

Mas tudo foi se perdendo

Eu não quero que vá embora

Faço esforço

Busco reforço

Mas é inútil

Estou te deixando aos poucos

Então fico louco

Pedindo para sonhar

Para que eu volte a te memorizar

Sei que devo deixar partir

Mas não suporto não ter nada para lembrar

Porque o tempo este cruel vilão

Não faz a dor cicatrizar

Estou te deixando aos poucos

Não que eu queira

Mas já não vejo teu rosto

Apenas este amargo gosto

De solidão!


Jussara Rocha Souza

quinta-feira, 11 de maio de 2023

terça-feira, 9 de maio de 2023

A beleza da maturidade

 Esta crônica é em homenagem a todas meninas maduras como eu, meninas nós somos demais!


Gosto da minha pele, do meu corpo, do meu rosto. Do jeito que me olho com gosto, gosto do meu sorriso, aprendi a me arrumar para mim mesma, de tomar banho gostoso, passar creme e arrumar o cabelo tão somente para deitar.

Já não tenho certas prioridades de quando era jovem, mas me sinto jovem por inteira no momento que me faço interessante para mim mesma.

Gosto de ler um livro, tomar uma taça de vinho, tirar fotos de mim mesma e me olhar com carinho.

Descubro com a idade minha verdadeira identidade onde antes nem sequer me conhecia, pois era dos outros a vida que eu vivia, para quem tem cicatrizes é difícil ter outras diretrizes, fatos, momentos te levam ao passado, mas agora fiz as pazes com ele e este já não me machuca mais, as cicatrizes são meu charme, tatuagens naturais do meu novo corpo.

Falo com o tempo e ele me diz: bora menina, ainda há muito o que fazer, mesmo que o tempo não seja mais do que horas, minutos, é o meu tempo e quero de novo nascer.

Hoje acordei senhora de mim e quero que você também se sinta assim, somos jovens demais para morrer.

Hoje me olhei no espelho e ele me sorriu, então pensei, valeu a pena, pois me olhar com gosto é apenas o reflexo de tudo que no meu interior construí para mim.


Jussara Rocha Souza


Espelho da alma

 Sou gota d'água

No espelho de tua alma!

Jussara Rocha Souza 


Canção do vento

 



Escute o passar do vento, trás melodia de além terra, é a natureza em cio.

Vem colher beijos das verbenas e trazer alento a quem tem no coração frio. Vem de muito longe, cantou ao monge, ao velho e a menina, cada um escuta conforme sua sina.

Por vezes canção triste vem anunciar da partida para não mais voltar, outros canções de vida a celebrar a quem o vento trouxe ao mundo para iluminar.

Escute o passar do vento rugido forte, de vida e morte, o refrigério dos dias quentes, o assoprar do fogo para aquentar o doente, justo e revolto canta canção de guerra, com brado forte defende os seres da natureza e mesmo temerário mostra a sua beleza.

Hoje o vento trás canção da paz, anunciando que o amor ainda existe, que a temporais resiste, feche seus olhos, deixe a melodia chegar a teu coração, escuta, venho acompanhado de chuva limpando a dor desta nação!


Jussara Rocha Souza

quinta-feira, 4 de maio de 2023

Se o encontrares



Quando fores por aí 

Procures ele por mim

Talvez tenha partido

Talvez esteja a me esperar

 Na casa azul

Um jovem de cabelos grisalhos

Olhos de negro véu

Casa de laranjas telhas

Jardim com jasmim

Onde o sol brilha 

No lado sul

Com cheirinho de massanilha

Se por acaso o encontrares

Diga que guardo a carta

A flor nas folhas amareladas

E que estou a esperar

Como a promessa feita 

Segredo entre enamorados

Nunca mais nos separar

Diga a ele

Que o amo

Mas se ele não mais viver

Não me diga nada jamais

Já não importa

Só fecha a porta

Porque então já não vivo mais


Jussara Rocha Souza

Voar, voar




Um dia crio asas e saio por aí a voar, buscar outros ares, conhecer outros lugares.

A liberdade é pássaro de asas abertas, em busca da graça, da graça do simples, da cor da humildade e do amor por rotina, onde a única responsabilidade é de ser sincero, ter alegria.

Um dia crio asas e deixarei de ser pássaro de asa quebrada, vou buscar coragem e encontrar a mim mesma de verdade e então colorir a felicidade.

Quando se voa baixo por ter limitações os predadores se alimentam de tua dor, seja pássaro que voa alto, se cure, lamba suas próprias feridas e voe, mesmo que seja em pensamentos não deixe que te roubem tua essência, inocência, seja águia ou pardal, voe, voe muito!


Jussara Rocha Souza

terça-feira, 2 de maio de 2023

Quarto da memória


 


Que meu coração seja forte

E que me livre da morte

A morte dos sentimentos

Dos ais e lamentos


Dos dias chuvosos

 Tenebrosos

O dia que partiste

Cinzas, tristes


Nunca mais irei amar

A saudade veio aqui morar

Levaste contigo meu coração

Casei com a solidão 


Te sinto a todo instante

Perfume constante

No quarto da memória

De nossa história


Jussara Rocha Souza

Tesouro de Deus


 


Um dia tudo volta ao normal

Volta o sol

Volta o sorriso

Volta o amigo


A vida é assim mesmo

A esmo

Por vezes triste

Verga e volta a riste


Não se pode desanimar

Coloca o barco ao mar

Navegar é preciso

Nada é decisivo


Basta você querer

Ser o que quiser ser

Você é tesouro raro

Precioso para o Deus

Que criou você


Jussara Rocha Souza

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Primeiro de Maio

 Crônica

Comecei a trabalhar com 11 anos de idade, de forma abrupta fui tirada da infância e me tornei uma "adulta" trabalhadora.

Meu pai havia abandonado minha mãe que sem perspectiva de vida enlouqueceu, éramos quatro irmãos, nos vimos sós e com fome 

Foi então que uma senhora vinda de Porto Alegre bateu em nossa porta procurando moças para trabalhar de empregada doméstica em sua casa, sem pensar duas vezes fiz uma trouxa com minhas roupas e prometi a mãe e irmãos mandar dinheiro para eles assim que recebesse meu primeiro salário.

Chegando em Porto Alegre, conheci uma realidade muito cruel, tinha de cuidar de duas crianças, uma de exatamente minha idade(11anos) e outra de poucas meses. Minha função trocar, alimentar e levar a escola, levantar a noite para cuidar a nenê caso chorasse mesmo com a mãe dormindo ao lado do berço. Ainda lavaria louças, roupas, e cuidaria da casa.

A patroa tinha um salão de beleza e me exibia as clientes  como a pequena piolhenta que tinha trazido do interior para trabalhar, me colocava no secador até meu casco queimar para matar os piolhos e não infestar seus familiares.

Todos dias levantava cinco horas da manhã e ia para o tanque, as mãos congelavam e ficavam roxas, limpava a casa, levava a menina na escola, comia o resto dos pratos e quando ficava com fome e ia as panelas era punida sem janta ou almoço, não lembro de nunca tomar café.

Foram dias escuros e de muitas lágrimas escondida embaixo das cobertas a noite, o dinheiro nunca veio, não vi mais minha mãe, então um dia revoltada disse querer voltar pra casa, ver minha mãe, e aconteceu o mais cruel dos atos entre tantos: ela me bateu.

Então a sogra desta pessoa que morava aos fundos me amparou, eu dormia no chão de sua casa e criança tinha medo das lagartixas que a noite povoaram minha cama. Certa noite durante o sono a senhora disse que eu delirava e falava que iria juntar dinheiro para ir para casa.

Comovida a senhora colocou um anúncio na rádio Farroupilha no programa do Sérgio Zambiasi, procurando familiares, uma tia ouviu e procurou minha mãe que foi me buscar. 

O nome desta pessoa era Inalda e tinha um salão de beleza na rua Augusto Severo em Porto Alegre, seu esposo era da perícia, não sei se ainda vivem, as marcas ficaram no meu coração de menina, o medo do escuro, baratas e lagartixas, me atormentaram por anos. Conheci o trabalho da pior maneira e esta não foi a única vez que fui maltratada e humilhada como empregada doméstica, fora os assédios de patrões, crianças mal educadas que me chutavam as pernas e me tiravam a alimentação.

Houve sim patrões excelentes, pessoas honestas e realmente dignas com seus funcionários, mas foram exceções.

Ontem vendo a reportagem do Fantástico sobre o direito adquirido das empregadas doméstica, afirmo que é uma vitória mas não o respeito que nos falta todos dias.

Nunca tive minha carteira assinada, nunca tive férias, décimo terceiro ou qualquer direito, não havia voz.

Durante anos achei que devia calar, baixar a cabeça e trabalhar, pois o trabalho dignifica.

Hoje dedico a mim, vítima de trabalho escravo desde 11 anos de idade, este dia do trabalhador.

Dona Inalda eu cresci, trabalhei muito e hoje escrevo para que outros tenham voz através de mim e que pessoas como a senhora sejam punidas e que cada dia mais deixem de existir!


Fique claro não é um texto de auto piedade é conscientização de trabalho escravo, falta de respeito ao cidadão trabalhador!


Jussara Rocha Souza