segunda-feira, 22 de abril de 2024

Eu


 


Costurei a alma

Com fios de calma

Após remendar e remendar

Arrematei com pontos de cicatrizar


Eram pequenos rasgos

Lágrimas e engasgos

A dor fazendo estragos

A vida seus remendados


Meu rosto e seus alinhavos

Da dor nossos conchavos

Cúmplices dos mesmos segredos

Costurados sobre o medo


Durante anos me costurei

Lágrimas caladas derramei

Mas de todas minhas costuras

Venturas e desventuras


Fiz de meus pedaços 

Cacos e estilhaços 

Uma colcha colorida

E a ela agradecida 


Dei o nome de vida!


Jussara Rocha Souza

Resiliência

 



Um barco descendo o rio.

A vida em seu curso...

Segue seu percurso.

É o coração no cio...


Pedindo para sonhar,

Querendo a vida agarrar...

Intrépida e valente,

Desafiando a gente...


Desce meu barco,

Nunca deixe este querer...

É forte teu casco,

Um dia, sei, ei de morrer...


Não deixe a amargura,

Dos dias difíceis te contaminar...

Seja você sua cura.

Para a alma alimentar...


E quando suas águas,

Ficarem turbulentas...

E no afluente, lágrimas deságuam.

Eis-me aqui a te acalentar.


Desce meu barquinho...

Desce meu barquinho...


Ainda há tempo para sonhar.

Ainda há tempo para amar...


Jussara Rocha Souza.

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Sonhos costurados

 



Ela se vestia de sonhos, rasgados, costurados, alinhavados com fios de esperança,mas assim mesmo eram sonhos!


Jussara Rocha Souza

Uma vizinha da pesada( mini conto)




Penso que há pessoas que nunca mudam, este é o caso de Joana e sua vizinha do apartamento de cima.

Joana morava em um prédio geminado, sua vizinha de cima não simpatizava com ela, já tinha tentado um diálogo informal mas não deu certo, tentou fazer um agrado com doces e certos favores como receber encomendas pra ela mas nada resolvia.

Joana era invisível aos olhos de sua vizinha e quando a mesma se dirigia a ela era sempre com pouco caso, deboche. 

Nada que Joana fizesse ou dissesse a agradava, tudo dela era melhor, ela era a mais bonita, ela sabia tudo, se Joana dissesse que gostava de doce ela de salgado, Joana gostava de samba ela odiava samba, coisa de desocupado e por aí afora.

Então Joana decidiu fazer o mesmo com ela, apenas se cumprimentavam, e mal se falavam, apenas uma cordialidade por respeito.

Uma noite Joana ouviu um barulho forte no apartamento acima do seu, sabendo que a vizinha mal humorada era de certa idade e morava sozinha ficou preocupada. Esperou um tempo e como nada mais se ouvia, apenas um fraco gemido, apitou a campainha da mesma e nenhuma resposta, foi até a área e chamou o nome e nada.

Então buscou a escada e escalou a parede da área até a janela da dita fulana, viu a vizinha caída no chão desacordada, quebrou a vidraça e entrou.

Naquela hora não existia desavenças, apenas um ser humano precisando de ajuda, nervosa, ligou para o SAMU e relatou o ocorrido, depois de minutos de angústia a ambulância chegou. Foram feitos os primeiros socorros e a vizinha começou a voltar a si.

Joana deu graças a Deus e sorrindo diante da melhora da vizinha a acompanhou até a ambulância, se despendido da mesma aliviada e com desejos de pronto restabelecimento.

Quando o enfermeiro foi fechar as portas da ambulância a vizinha chamou Joana, ela se virou e olhou para a vizinha que com cara de ódio estava a colocar o dedo do meio para Joana.


Jussara Rocha Souza 


(Esta é uma obra de ficção qualquer semelhança é mera coincidência.)

Borralheira eu?

 



Durante a vida toda fui borralheira, hoje uso as cinzas que uma dia vestiam meu corpo para nunca esquecer de onde vim.

Mas nunca mais serei a borralheira, hoje sou a princesa do meu castelo interior, me visto de princesa com meus melhores vestidos, bondade, respeito, amor e dignidade.

Meu castelo está meio arruinado por fora, mas por dentro é exuberante e festivo, recebe as melhores visitas, amigos sinceros, sentimentos puros, contém algumas dores e quem não tem? Mas carrega muitos amores.

Borralheira eu? Não, uma princesa de pés descalços, mãos sujas de tintas, olhar de contos de fadas e um coração transbordando de gratidão!

Um dia alguém me fez borralheira e disto não me envergonho, me envergonho sim de quem se vendeu para ser princesa, hoje posso dizer que meus joelhos marcados de lavar chão me transformaram em canção que hoje as dedico a todos em forma de poesia!


Jussara Rocha Souza

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Africana ( mulher girafa)


 Obra com tinta acrílica sobre papelão

Jussara Rocha Souza 

Silêncio.




Silêncio, hoje enterro a pureza de uma criança, a ingenuidade de uma menina, os sonhos de um guri, silêncio, escuta meu choro, o choro de uma criança abusada por esta sociedade tão certinha e imaculada.

Hoje guardo minha voz, em luto ofereço meu silêncio.

Por todas as crianças, homens e mulheres, vítimas de uma sociedade preconceituosa, abusiva e cruel.

Onde o apontar de dedos é mais conveniente e confortável do que o amor ao próximo.

Estou em luto por tantas crianças abandonadas à própria sorte, não por pais irresponsáveis, mas sim pela falta de creches, por falta de apoio familiar, por falta de tanta coisa que aqui não consigo relatar.

Mães que fazem jornada de dupla e que não têm com quem deixar seus filhos, não há creche para todos, irmãos cuidam dos irmãos para que os pais trabalhem, mas se fazem arte ou bagunça, vizinhos denunciam e o conselho tutelar os leva embora.

É tudo muito difícil, são uma moeda e dois lados, a necessidade e o que é certo e errado.

Estou de luto por minhas crianças que muito cedo deixam de ser crianças, que vivem no limiar da infância e do mundo adulto, convivendo muitas vezes com abusos, álcool, drogas, achando que aquele mundo é o normal.

Crianças desrespeitadas por outras crianças, também desrespeitadas por adultos perversos, pedófilos, tarados que usam a necessidade da fome e miséria para fazer o abuso.

Estou em silêncio de dor porque não consigo mais viver vendo 'minhas' crianças sofrerem tanto, que adultos eles serão amanhã? Será que terão amanhã?

E você que cala, consente, você não vê, não sente?


Jussara Rocha Souza.

Águas de março.




Para quem enfrenta temporais, águas de Março são refrigério a alma!

Sou outonal, folhas amarelas, ventos amenos e raízes a se regenerar...

O inverno talvez me assuste, mas venho me preparando criando novas folhas, fortalecendo raízes e quem sabe até arrisco dançar na chuva.

Mas se nada disto for possível, meu corpo pode até adoecer, mas minha alma, esta não esmorece, vou plantar girassóis imaginários, buscar aquele raiozinho de sol na minha janela e agradecer por esta vida bela.

Há tanto sol no seu interior não deixe que o inverno nele faça morada.

Dias chuvosos e cinzas sobrevém a todos, mas encontre aquela frestinha no seu coração e deixe o sol entrar, ele é capaz de milagres, seca prantos, ilumina a alma e faz florescer.


' São as águas de março fechando o verão

É a promessa de vida no teu coração'


Jussara Rocha Souza

quinta-feira, 28 de março de 2024

A dor da saudade é anjo de asa quebrada

 



Durante a noite um anjo de asa quebrada veio me visitar, me pediu auxílio para poder voltar pra casa, pois tiveram um acidente e sua asa quebrara.

Eu não sabia o que fazer, em choque, perguntei como se tratava uma asa quebrada de um anjo.

Ele então me disse que bastava eu memorizar todo o amor que carrego no coração e direcionar a ele, fechei meus olhos e senti todo aquele amor que carrego dentro de mim se acender.

Era um sentimento guardado a muitos anos, lágrimas derramaram em minha face, meu coração sangrava e parecia que não havia no mundo outro amor maior.

Quando abri os olhos o anjo não estava mais ali, havia um bilhete a meu lado.

Você me curou com seu amor, minha asa quebrada era a sua saudade guardada em seu coração.

Então libertei meu anjo preso dentro de mim, deixei ele voar para que eu possa voltar a sorrir.

Tenho saudades ainda, vejo teu rosto em todos lugares, te quero muito e pensar em nunca mais te ver dói tanto que é como morrer em vida.

Mas não quero ter um anjo de asa quebrada e sem poder voar, preciso curar as minhas asas e aprender a novamente voar!


Jussara Rocha Souza

Dizem que sou louco...'




Alguns são prisioneiros de si mesmo, outros a vida os tornou assim.

Vivemos no limiar entre a loucura e a sanidade, Vânia é a 'louca' da minha rua, a observo todos dias da minha janela, as vezes a loucura liberta de coisas que a sociedade nos obriga a viver.

Uns conseguem superar, outros 'preferem' enlouquecer, tento na minha ignorância a entender, mas será que a sua loucura não a tornou mais livre e feliz do que as ditas donas de suas faculdades mentais.


Assim vejo Vânia..

Tens a face da rua, sonha com a lua e vive em mundo só seu, sem roupas, perfumes ou etiquetas.

Desistiu de ser ateu, porque é muito triste viver sem Deus e Ele a faz sonhar. Já percorreu becos e vielas, dormiu ao relento e achou que não teria sustento.

É a imagem da terra, crua, com o coração canteiro preparado para germinar, semear, aguar... Vive de suas realidades mas as enfeita com efemeridade, não sabe sua idade, mas é ainda guria neste seu olhar, pés descalço, enfrenta percalço e ainda sorria.

Assim entre o chão e o céu, entre a miséria e a misericórdia vive o homem, horas bicho, horas gente, comem e bebem do mesmo lugar. A observo de minha janela, eu livre no pensar, presa por correntes invisíveis do viver, ela acorrentada pela loucura, livre no seu mundo que ninguém entende, uns riem dela, outras a maltratam, mas ela é livre, livre como os pássaros no céu, a sua mente a libertou daquilo que um dia a matou.

Hoje queria ser ela e experimentar sua loucura, quem sabe dançar nua, pés descalços, cabelos degranhados, não ter com que se preocupar, somente a liberdade de me libertar daquilo que chamam sanidade.


Jussara Rocha Souza 


Jussara Rocha Souza

Atire a primeira pedra' aquele que nunca pecou

 'Quem nunca errou que atire a primeira pedra' disse assim Jesus no caso de Maria Madalena.

 Mas não seria preciso estas palavras serem ditas por Jesus para serem levadas a sério, deveria ser parte de nosso caráter, não julgar, não falar mal de outras pessoas.

Você já pensou que amanhã pode ser você? E então você vem e questiona: eu não poderia, tenho uma vida correta. Pois bem, que bom que você é assim. Mas você conhece a palavra empatia? Me diga quem conheceu o certo sem nunca ter vivido o errado.

Quantas vezes uma família correta tem filhos problemáticos, com envolvimento em drogas ou coisas ilícitas.

Eu faço minha parte, porque faz parte de minha índole ser assim, mas tenho filhos que embora eu tenha me esforçado para os criar em retidão, cresceram, conheceram outros caminhos e quem me garante se não se desviará no seu percurso.

Eu não serei culpada pelos erros alheios, mas não posso atirar pedras no que errou, pois o único julgador neste mundo é Deus e Ele é muito misericordioso.

Porque a dor maior sempre é sua? você já pensou no quanto o ser humano é egoísta quando a dor é sua? E o quanto ele minimiza a dor quando é do próximo?

Não sejamos duros demais com nossos julgamentos, a pedra hoje chutada amanhã pode furar a telha de sua casa.

Que atire a primeira pedra aquele que nunca pecou!


Jussara Rocha Souza


domingo, 17 de março de 2024

Falava da tal escuridão




Vinha eu pelo caminho, cumprir assim meu destino...

Um ser pequenino, franzino;

Trazia os bolsos vazios,

Apenas uma lanterna nas mãos...


Cantava uma canção,

Falando de dor no coração...

Da falta de luz,

Da tal escuridão...


Passeava pelo mundo,

O chamavam vagabundo...

Mas ele não ligava,

Sabia de quem se tratava...


Levava paz aos cansados,

Consolo aos adoentados...

Ânimo aos desanimados,

Sua canção era encantada...


Ontem passou por aqui,

Chegou no barulho do vento...

Trouxe alento,

A um coração sofredor...


Ainda ouço a melodia,

Cantada com maestria...

Pelo dono do mundo,

Senhor do universo!


Jussara Rocha Souza


..

Barco

 



Deixo que o barco me leve,

Enleve...

E siga seu rumo,

Quem sabe em algum porto...

A vida apruma,

A onda vire espuma...

E eu como criança arteira,

Matreira...

Me esbalde,

Em um mar de felicidade!


Jussara Rocha Souza