quinta-feira, 28 de março de 2024

A dor da saudade é anjo de asa quebrada

 



Durante a noite um anjo de asa quebrada veio me visitar, me pediu auxílio para poder voltar pra casa, pois tiveram um acidente e sua asa quebrara.

Eu não sabia o que fazer, em choque, perguntei como se tratava uma asa quebrada de um anjo.

Ele então me disse que bastava eu memorizar todo o amor que carrego no coração e direcionar a ele, fechei meus olhos e senti todo aquele amor que carrego dentro de mim se acender.

Era um sentimento guardado a muitos anos, lágrimas derramaram em minha face, meu coração sangrava e parecia que não havia no mundo outro amor maior.

Quando abri os olhos o anjo não estava mais ali, havia um bilhete a meu lado.

Você me curou com seu amor, minha asa quebrada era a sua saudade guardada em seu coração.

Então libertei meu anjo preso dentro de mim, deixei ele voar para que eu possa voltar a sorrir.

Tenho saudades ainda, vejo teu rosto em todos lugares, te quero muito e pensar em nunca mais te ver dói tanto que é como morrer em vida.

Mas não quero ter um anjo de asa quebrada e sem poder voar, preciso curar as minhas asas e aprender a novamente voar!


Jussara Rocha Souza

Dizem que sou louco...'




Alguns são prisioneiros de si mesmo, outros a vida os tornou assim.

Vivemos no limiar entre a loucura e a sanidade, Vânia é a 'louca' da minha rua, a observo todos dias da minha janela, as vezes a loucura liberta de coisas que a sociedade nos obriga a viver.

Uns conseguem superar, outros 'preferem' enlouquecer, tento na minha ignorância a entender, mas será que a sua loucura não a tornou mais livre e feliz do que as ditas donas de suas faculdades mentais.


Assim vejo Vânia..

Tens a face da rua, sonha com a lua e vive em mundo só seu, sem roupas, perfumes ou etiquetas.

Desistiu de ser ateu, porque é muito triste viver sem Deus e Ele a faz sonhar. Já percorreu becos e vielas, dormiu ao relento e achou que não teria sustento.

É a imagem da terra, crua, com o coração canteiro preparado para germinar, semear, aguar... Vive de suas realidades mas as enfeita com efemeridade, não sabe sua idade, mas é ainda guria neste seu olhar, pés descalço, enfrenta percalço e ainda sorria.

Assim entre o chão e o céu, entre a miséria e a misericórdia vive o homem, horas bicho, horas gente, comem e bebem do mesmo lugar. A observo de minha janela, eu livre no pensar, presa por correntes invisíveis do viver, ela acorrentada pela loucura, livre no seu mundo que ninguém entende, uns riem dela, outras a maltratam, mas ela é livre, livre como os pássaros no céu, a sua mente a libertou daquilo que um dia a matou.

Hoje queria ser ela e experimentar sua loucura, quem sabe dançar nua, pés descalços, cabelos degranhados, não ter com que se preocupar, somente a liberdade de me libertar daquilo que chamam sanidade.


Jussara Rocha Souza 


Jussara Rocha Souza

Atire a primeira pedra' aquele que nunca pecou

 'Quem nunca errou que atire a primeira pedra' disse assim Jesus no caso de Maria Madalena.

 Mas não seria preciso estas palavras serem ditas por Jesus para serem levadas a sério, deveria ser parte de nosso caráter, não julgar, não falar mal de outras pessoas.

Você já pensou que amanhã pode ser você? E então você vem e questiona: eu não poderia, tenho uma vida correta. Pois bem, que bom que você é assim. Mas você conhece a palavra empatia? Me diga quem conheceu o certo sem nunca ter vivido o errado.

Quantas vezes uma família correta tem filhos problemáticos, com envolvimento em drogas ou coisas ilícitas.

Eu faço minha parte, porque faz parte de minha índole ser assim, mas tenho filhos que embora eu tenha me esforçado para os criar em retidão, cresceram, conheceram outros caminhos e quem me garante se não se desviará no seu percurso.

Eu não serei culpada pelos erros alheios, mas não posso atirar pedras no que errou, pois o único julgador neste mundo é Deus e Ele é muito misericordioso.

Porque a dor maior sempre é sua? você já pensou no quanto o ser humano é egoísta quando a dor é sua? E o quanto ele minimiza a dor quando é do próximo?

Não sejamos duros demais com nossos julgamentos, a pedra hoje chutada amanhã pode furar a telha de sua casa.

Que atire a primeira pedra aquele que nunca pecou!


Jussara Rocha Souza


domingo, 17 de março de 2024

Falava da tal escuridão




Vinha eu pelo caminho, cumprir assim meu destino...

Um ser pequenino, franzino;

Trazia os bolsos vazios,

Apenas uma lanterna nas mãos...


Cantava uma canção,

Falando de dor no coração...

Da falta de luz,

Da tal escuridão...


Passeava pelo mundo,

O chamavam vagabundo...

Mas ele não ligava,

Sabia de quem se tratava...


Levava paz aos cansados,

Consolo aos adoentados...

Ânimo aos desanimados,

Sua canção era encantada...


Ontem passou por aqui,

Chegou no barulho do vento...

Trouxe alento,

A um coração sofredor...


Ainda ouço a melodia,

Cantada com maestria...

Pelo dono do mundo,

Senhor do universo!


Jussara Rocha Souza


..

Barco

 



Deixo que o barco me leve,

Enleve...

E siga seu rumo,

Quem sabe em algum porto...

A vida apruma,

A onda vire espuma...

E eu como criança arteira,

Matreira...

Me esbalde,

Em um mar de felicidade!


Jussara Rocha Souza

A candeia do corpo são os olhos

 Crônica



Reflita meus olhos toda imagem de minha alma...

Mesmo que em dias tenebrosos meu peito de lágrimas desague,

Pois cultivei dentro do meu ser um jardim de flores viçosas, com perfumes agradáveis e borboletas a lhes visitar....

Sim, um jardim interno, onde enterro na sua terra minhas dores e delas faço adubo e os transformo em belos girassóis,

Você já imaginou quão forte e belo será este jardim? Como na vida, nosso ser é feito de estações, por vezes invernos rigorosos, outros verão escaldantes, outonos amenos, primaveras chuvosas mas todos nescessário a sobrevivência...

E o que faz o jardineiro, cuida, cultiva, rega, independente do tempo e estações ele sempre estará lá para cuidar e defender seu jardim das pragas, portanto assim seremos nós com nosso jardim interior,

Abra suas janelas e mostre seus cômodos interiores para o mundo, eles irão se surpreender...

Tem pessoas que apreciam o ser humano por seu poder aquisitivo, beleza externa, roupas, e não enxergam um palmo a sua frente do que verdadeiramente importa.

Um chalé de madeira muito antigo, a tinta já descascando e seu alpendre meio que entortando, os passantes nem repararam nele, um dia o chalé foi aberto e seu interior foi deixado a vista, era de uma beleza inigualável, de uma elegância e bom gosto raríssimo, agradáveis aos olhos que a contemplaram.

Sejamos assim, que nossos olhos reflitam a nossa beleza interior!


Jussara Rocha Souza 


22 A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz. 23 Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas! Mateus 6:22

Porque a ferida precisou ser aberta

 Crônica



Sentei na sala e sozinha chorei a solidão dos esquecidos. Era como se um buraco estivesse aberto no meu peito, uma dor profunda, funda e doída, como nunca sentira antes.

Ah! Como dói a dor do abandono, o cão sem dono, que vaga pelas ruas em busca de abrigo, um colo amigo.

Então no meu coloquio com meu mais íntimo desespero, caí em destempero e comecei a gritar, era um grito gutural, como de um ferido animal, de quem roubaram sua cria, de quem perdeu sua família.

Depois de muito gritar e chorar, a dor foi acalmando, a tempestade passando e somente lágrimas silenciosas eram sentidas em minha face.

Neste dia meu senti órfã de pai, mãe e filhos, era só eu, vazia, sozinha e completamente furiosa comigo mesma 

Onde eu estava quando fui desrespeitada e calei, quando deixei que meu amor fosse maior para não enxergar o mal que me causavam, onde eu estava quando dei minha vida pela de outrem e me anulei.

Onde eu estava quando alguém que eu mais amava nas costas uma faca enfiava.

Onde eu estava quando noites em claro chorei ao lado de berço e de dor rezava o terço, enquanto a barriga doía de fome e eu cantava canções de ninar, quase sem forças para os embalar.

Onde eu estava quando por pura ignorância acreditando no amor, como se acredita na inocência de uma criança me deixei tantas vezes engravidar.

Onde eu estava quando fizeram de meu corpo pertences pessoal, arrancando minhas viceras como se abre no animal.

A vida assim se fez, os anos passaram, ninguém procura a dor por gostar dela, sobrevivi, e sobrevivente hoje abro de novo a ferida, um buraco fundo, e gritei, gritei sim, porque hoje não preciso mais calar, porque hoje eu estou aqui, e esta dor ninguém mais me causará, minha história só pertence a mim, afinal todos sempre tem uma história triste para contar.

E hoje contei ela ao meu próprio coração, sei do que falo e senti, não preciso de compaixão.

A vida é minha inspiração...

A ferida precisou ser aberta para que se fizesse a descoberta, e hoje sei que sou sozinha na minha dor para que me cure e encontre o verdadeiro amor!


Jussara Rocha Souza

Carta ao tempo

 



Vejo-te por todos os lugares, pier e hangares...

Vejo-te na sombra da noite, que bate como um açoite,

Vejo-te nas entrelinhas dos versos componho em agonia...

Na melodia que fere a alma, que rouba a calma,

A tua gargalhada ecoa pelos cômodo que zombeteiros riem da minha dor...

Vejo-te nos meus mais íntimos segredos, obscuros, degredo,

Ah! Como dói a tua ausência, como fere a essência...

Quando partiste levaste parte de mim, e agora não sei viver sem ti,

Não há graça no viver, falta-me um pedaço do ser...

Como queria ouvir a tua voz, porque a morte fez-se algoz,

Tirando de mim o que me restava de felicidade...

A tua presença é tão real e forte que me permito a ti, intimidades,

Penso estar ficando louca, quando em completo desespero, peço que beijes a minha boca...

Vejo-te na madrugada, nos passos na calçada.

Vejo-te na chuva que cai, nos pingos de saudade que no meu rosto esvai...

Espero pelo tempo, ele com certeza será a contento,

Tirando-me esta dor ou levando-me ao encontro do meu amor!


Jussara Rocha Souza