quinta-feira, 29 de junho de 2023

Cadeira vazia

 


Todos dias te escrevo cartas

E te entrego em meus pensamentos

Pergunto sobre teus momentos

E conto sobre os meus

Ontem semeei onze horas

Em breve florescerá

Os dias tem sido nublados

Chuvosos

Assim como a saudade

Nubla o coração

E faz chover lágrimas amargas

Tenho aprendido coisas novas

Preciso te mostrar

Sei que amas me ver pintar

Vou retratar teu rosto

Para que de mim

Nunca mais se apague

Pintei também as janelas

Lavei a calçada

E agora vou te esperar

Por favor não demore

Pois o tempo passa a voar

E podes encontrar

A cadeira sozinha

A balançar!


Jussara Rocha Souza

Resquícios de memória

Casa abandonada (1921)



Não sei quem aqui viveu

Mas deixo aqui o meu eu

Levo comigo um pouco do seu

O azulejo na cozinha

Teria o gosto da dona

Seria ela feliz

Cantarola 

Enquanto prepara o jantar

Ou seria dura a vida

Lágrimas lhe caem escondida

Olho nas janelas

E me vejo a olhar por elas

Vejo o passado

Nas paredes,  tijolos e rebocos

Chimarrão tomado sentado nos tocos

O gado tocado no entardecer

O grito do boiadeiro 

Crianças no terreiro

Me conte sua história

Que de teus resquícios

Te farei memória!


Jussara Rocha Souza 



sábado, 24 de junho de 2023

Se eu...


Se eu não posso viver de amor

Que eu viva então de dor

Pois se ela revela a dor do amor

Serei eu portador

De tão cruel doença

Desta indecência

Que me rouba a inocência

E que me fere a alma

Rouba meus sentidos

E me faz este ser 

Que de dor

Resolveu renascer

E se curvar 

Ao meu torturador

O amor!


Jussara Rocha Souza

sexta-feira, 23 de junho de 2023

A burguesia fede


Escrevo poesias

Para aliviar seus dias

Porque é preciso flores

Aromas e cores


Em um mundo tão cruel

Prefiro olhar o céu

Sonhar com constelações

Abafar o som dos canhões


Este choro estrangulado

Sentido pelo abandonado

Em barcos naufragados

Dormindo em papelões


Não quero ser triste

Mas quem a dor resiste

Vendo comer restos

Na lixeira os humanos ratos


Genocídio moderno

Matando gente por trás de ricos ternos

E eu escrevo poesias

Também de dor

Por conta deste horror

Aplaudido pela burguesia!


Jussara Rocha Souza

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Blues

 



Lembrei da menina

Calça jeans na esquina

Uma flor no cabelo

Lenço jogado ao vento


Vento de outono

Melancólico abandono

Presente e passado

No espelho do tempo


Hoje acordei blues

Janelas cor de céu

Na vitrola Lucille

A foto na vitrine 


O gris do cabelo

Contrasta com os desejos

A menina e a maturidade

O amor e a idade


Rodopio ao som da guitarra

Bela cigarra

A cantar emoção 

Estou viva

Viva

Bate o coração... 


Jussara Rocha Souza

sábado, 17 de junho de 2023

Ode as estrelas




Este amor é teu

Porque assim meu coração te elegeu

Moço dos olhos bonitos

Que me levam ao infinito


Toca pra mim Beatles

Em versos simples

Me convida a uma dança

Embala meus sonhos de criança


Dançaremos então na chuva 

Sombrinha cor de uva

Eu cantarei Something

No meu jeito a lá gringo


Então serei violonista

Do amor farei serenata

Cantarei ode ao céu estrelado

Junto com meu poeta!

Caminhos


O caminho eram de hortênsias

Lilases em sua essência

Havia libélulas

Fluorescentes

E uma moça inocente


Do outro lado do caminho

O chão era de espinho

Espreita em meio arbustos 

O daninho


Assim é nosso viver

Cuidado 

Desavisados

Ao caminho percorrer


Jussara Rocha Souza

domingo, 11 de junho de 2023

Meu corpo, minha casa



Esta é minha casa

Nela ainda guardo resquícios

De antigos vícios

Mas o amor pelos cômodos exala


Aqui estão meus sentidos

Minhas dores

Meu abrigo

O abraço do amigo


Daquele que me salvou

Quando o barco quase naufragou

Ele também habita aqui(Deus)

Fez morada e nunca mais voltou


Minha casa é humilde

Guarda vida e pouca saúde

Mas pensa em um coração enorme

De lutas, guerras se fez forte


Hoje minha casa pelos anos

Já está ficando curvada

Mas há tantos sentimentos

Que evaporam pelas janelas


Minha casa sou eu

Velha menina mulher

Que nunca envelhece o interior

Passado pode ser de dor

Mas o presente é amor!


Jussara Rocha Souza

Essência

 Lá da onde eu vim, trouxe flores na bagagem, mesmo o caminho sendo difícil, tirei das flores essência para a viagem.

Jussara Rocha Souza


O pássaro e a senhora



Todos dias a senhora põe farelos em sua janela, anos a fio, espera o pássaro vir comer.

Mas ele nunca sequer para ela olhou ou cantou, ela precisa dele mas talvez ele não compreenda este amor.

Muito doente a senhora não pode mais ir até a janela colocar seus farelos, abatida nem viu o pássaro pousar, porém o pássaro vendo a tristeza da sua velha amiga, hoje para ela se pôs a cantar!


Alimente seu pássaro interior e ele irá cantar sempre para você!


Jussara Rocha Souza

sábado, 10 de junho de 2023

Atemporal



Um amor do passado

A chuva caindo no telhado

Dois jovens apaixonados

Eternos enamorados


Uma cumplicidade

Sem tempo ou idade

Vivida em segundos

Vira eternidade


Moço agora grisalho

Moça com curvas no rosto

Degustam com gosto

O amor do passado


Os pingos no telhado

Sinfonia dos apaixonados

Que dançam entrelaçados

Em lençóis amassados


Jussara Rocha Souza

A névoa



Ah! A névoa

Que a tudo cobre

E as lágrimas descobre

Quando a alma trovoa


Cinza e bela esta cidade

Minha Londres escondida

Barcos no cais a deriva

A embalar adversidades


O vejo entre a fumaça

Nas espirais do vento

Das folhas ao sereno 

Que dançam com graça


O sol ainda não despontou

Sai a calçada molhada

Ensaia uma dança engraçada

Sapateados então inventou


Linda e descabelada

Pés descalços

Olhos molhados

A moça das ruas então adormecida


Estica os papelões

Descansa 

De sua permanente dança!


Jussara Rocha Souza

quinta-feira, 8 de junho de 2023

Resquícios de ilusão



Nos amamos por anos

Ficaram lembranças do passado 

Foram dias e noites a sonhar com o reencontro

Então você apareceu 

Enfim o encontro marcado

O coração batia descompassado

A boca ensaiava o beijo apaixonado

Quando nos vimos

Não havia nada a dizer

Eu não era mais eu

E você não era mais você 

Triste constatação

Éramos resquícios de uma ilusão

domingo, 4 de junho de 2023

Abduzida

 Mini conto



Clara vivia com a cabeça nas nuvens, sonhava em viajar em um disco voador. A mãe ficava preocupada, as meninas da idade dela queriam namorar, festas, viagens, mas Clara só fazia sonhar com naves espaciais, extra terrestres, viagens espaciais.

_ A quem esta menina saiu? Perguntava-se a mãe, vejam só quanta maluquice, deve ser coisa da idade.

Clara passava os dias trancada no quarto, dizia a mãe que estudava os astros, estrelas e planetas, ontem a menina chegou diferente da escola, a mãe perguntou: _ Viu passarinho verde ou melhor a nave mãe chegou? E sorrindo continuou suas lidas.

Na manhã seguinte Clara não levantou para a escola, a mãe foi até o quarto e não encontrou a menina, em cima da cômoda um bilhete.

" Mamãe fui abduzida por um extra terrestre, por favor não me procurem, fui morar em Marte, não se preocupe, estou bem."

Na vizinhança o comentário é que Luiz o vizinho da esquina também teria sido abduzido por um disco voador, mas não quero falar mal da vida dos outros.

Estas pessoas maldosas que não tem o que fazer, acho que são apenas comentários maldosos, kkkk.


Jussara Rocha Souza

sábado, 3 de junho de 2023

Beija flor

 Quando voltares

Encontrarás a porta entreaberta

Ela vem ficando assim por dias e  noites

Como de alerta

Esperando o inesperado chegar

Deixei a cama arrumada

A camisola enciumada

De teu amor abandonada

Já não te espero

Minto que já não mais te quero

Mas continuo a deixar a porta entreaberta

Fecho os olhos com medo de ser descoberta

Não te tardes por favor

Pois o inverno já voltou

E talvez não venha a ter primavera

O jardineiro partiu

Murchou a flor

Restou aqui apenas um solitário beija flor!


Jussara Rocha Souza


Fala das calçadas

 Minha poesia "  Fala das calçadas" foi classificada em segundo lugar na feira do livro.

Concurso "Sua poesia vai a feira"


Agradeço de coração a amiga Marilda Dias Silveira que mesmo sem me conhecer pessoalmente me representou na feira, pois não pude estar presente por causa de meu estado de saúde!


Aqui vai então a poesia premiada, ano que vem estarei autografando na feira!


Fala das calçadas 


Tema da Feira: Escritas, presenças e existências negras.

 

Fala das calçadas

 

Me chamo resistência

Na mais  profunda essência

De um útero fraco

Sem comida no prato

Vim para resistir

Nunca desistir

Mesmo podado

Por machado cortado na raiz

Vinguei

Através também de um Machado

De Assis

Escrevo a fala das calçadas

Em paredes rabiscadas

Com frases nunca dantes vistas

Mas na alma com cicatrizes  escritas!


Senhor Ernest.( Meu pseudonimo)