quarta-feira, 29 de março de 2023

A menina interior




Eu estava vendo o filme "A casa do lago" típico filme Sessão da tarde, mas que eu amo.

O amor atemporal, ali no tudo fictício, irreal, me transporta a um amor que me toca, eu vibro, torço e choro mesmo já tendo visto umas dez vezes.

E me pego aqui pensando que mesmo nos fazendo sofrer o amor é muito bom de ser vivido, pois um coração vazio dói mais que um amor sofrido.

Cansei de ser racional, do tudo certinho, preciso sonhar, porque será que deixamos pra trás aquilo que mais desejávamos, cadê a menina dos filmes de amor, a revolucionária que lutava pelo amor que acreditava eterno. Será que se perdeu na fita de um velho cinema, será a vida que lhe arrancou os sonhos ou foi você que os matou com medo de sofrer.

Hoje voltei no tempo, e namorei o passado, sentada sozinha em minha sala me recordei da menina que amava o amor, senti saudades dela. O filme acabou tudo volta a seu "normal", a menina recolhe-se a seu interior!


Jussara Rocha Souza

O grito


Parou em frente o espelho, passou a mão por cada marca em seu rosto. Pegou da pinça depilou cada parte que achou que precisava.

Era muito vaidosa, não digo vaidosa, mas sim caprichosa, passou creme, olhou novamente no espelho e sorriu pra si mesma.

Sentada em sua cama, o livro de Florbela a cabeceira, começa a cantarolar sua canção preferida.

Recita então seu poema predileto, olha para o infinito e sorri novamente, de repente um grito...

Agora recita poemas as estrelas, sorri para o luar e canta canções aos milhares de anjos, que não se importam com seu vestir ou espelho.

Assim deveriam ser os humanos, conhecer o interior para depois o exterior.


Jussara Rocha Souza


Meus leitores quero deixar claro que o texto não é sobre mim, aumentou o número de suicídios na nossa cidade e a maioria são jovens.

Dar mais atenção a este assunto pode evitar novas tragédias.


(Todos dias alguém tira sua própria vida por razões mais diversas, vamos cuidar mais uns dos outros)

Histórias que vivi e contei

 Crônica


O ano era 1996, um dia frio de começo de inverno, uma mãe com seu filho de poucos meses caminha pela madrugada escura.

As ruas desertas, uma mãe com o filho no colo, medo, dor, dela e do seu filho, a distância entre sua casa e o hospital era de mais ou menos duas horas caminhando.

Não havia ônibus na madrugada, também não havia dinheiro, só ela, seu filho, uma madrugada fria e o filho doente nos braços.

Caminhava rapidamente, pedia ajuda a cada veículo que passava, ninguém parava, lembrou que ali perto havia um posto policial, pediria ajuda, chegou ao local esperançosa mas o posto estava fechado.

O menino agora só gemia, não havia celular naquela época, caminhava em seu desespero, de repente um carro passou e ela acenou, então o carro deu volta.

O moço perguntou o que aconteceu, a mãe então falou: Me leve para o hospital, meu filho está mal.

Enfim o hospital, o médico, o menino tinha bronquite e estava em crise, medicado, com a receita nas mãos a mãe sai do hospital, e para sua surpresa os rapazes do carro estavam lhe esperando.

Levaram ela na farmácia e compraram todos medicamentos, então a conduziram de volta a sua residência, grata, nem sabia como agradecer tanta bondade.

Esta história é verídica e aconteceu comigo e meu filho que hoje tem 27 anos, o carro era um Fiat uno verde, dois senhores, lembro que um morava na Cohab 2 assim me comentou, disseram para mim que Deus os mandou ali.

Nunca mais os vi ou encontrei, mas nunca os esqueci, e todos dias agradeço a Deus por eles terem salvado meu filho.

Esta é uma das muitas histórias que vivi e contei!


Jussara Rocha Souza

Domingo

 Crônica 


Quando era menina meu pai sempre fazia um churrasco aos domingos mesmo que a carne fosse pouca, mas ele fazia questão de fazer, tomava sua caipirinha ou o samba. Eu gostava daqueles dias, meu pai cantava, eu dançava com ele e o domingo ficava alegre, minha mãe era uma pessoa seca de sentimentos e muito amarga e as vezes nestes dias ela cantava e trazia uma certa leveza para a casa.

Meus pais já faleceram, a vida continuou, um irmão faleceu, outros se dispersaram, mas as lembranças ficaram.

Sinto saudades daqueles dias, rígidos, quase sem carinho, mas com lembranças tão fortes que carrego na memória afetiva do meu coração.

Hoje não vou falar de memórias ruins, afinal é domingo, dia de juntar a família, dar risadas, discutir e recordar momentos engraçados de todos nós.

Hoje ninguém mais se preocupa em estar junto dos seus, não há mais respeito, gratidão ou solidariedade, cada um quer ter mais um do que outro, quer ser dono da verdade, não há mais pureza no sentir.

Vou falar aqui de uma passagem muito engraçada de um dia de domingo, meu pai almoçava e deitava para a sesta, naquele domingo estávamos de castigo eu e minha irmã Janete, não poderíamos dar nosso passeio tradicional de domingo, eu era muito terrível e resolvi que ia incomodar o pai até ele deixar.

Incomodei tanto que o pai levantou da cama e veio no meu quarto me bater, na pressa colocou a bermuda  sem cinto, ela caiu e ele se viu só de cuecas na nossa frente, ele saiu correndo de volta do quarto e eu chorava de rir.

Só que ele voltou com outra calça e a cinta na mão e aí o pau comeu.

Apanhei e fiquei de castigo de novo kkkk

Hoje sinto saudades destes dias, a família reunida, as risadas, os contos dos causos antigos, minha mãe dando trégua para a amargura, minha irmã cantando e eu dançando em cima dos pés de meu velho pai.

Tomara que todos aproveitem seus pais enquanto viverem pois depois será só saudades. 


Jussara Rocha Souza

sábado, 25 de março de 2023

Viagem

 



Estou indo embora

Levo comigo umas poucas coisas

O que me restou de história 

Poesias na memória


O restante

Ora o restante

Este foi bastante

Deixei pra trás

No fundo de uma estante


A dor

Minha companheira 

Se fez necessária

De forma inversa

Insiste no meu caminhar


Estou indo embora

Aqui onde vou

Tem pássaros de toda a cor

Flores a me enfeitar

E uma pureza no amar


Aqui não há religião

Política

Ou nação


Meus versos

Não precisam rimas

Não há cismas


Esta viagem

Aprendi de pequena

Quando de uma situação


Viajo para dentro

Dentro de mim

Dentro do meu coração


Jussara Rocha Souza

quarta-feira, 22 de março de 2023

Palavrinha de hoje

Crônica


Palavrinhas de hoje


Hoje acordei com a “palavrinha”, salvo problemas da sociedade em que vivemos, política, economia e tantos outros assuntos na pauta e na mesa dos brasileiros, fico abismada com a falta de empatia do ser humano uns com os outros.

Pessoas mal intencionadas o mundo está cheio, não é novidade e parece crescer absurdamente, mas não é sobre esta categoria de gente que quero falar.

Nós mulheres estamos nos posicionando cada vez mais em todos os âmbitos da sociedade, começamos a gritar por socorro e estamos sendo ouvidas cada vez mais, precisamos sim, lutar por nós, por nossos direitos. Quero falar sobre as mulheres contra as mulheres, e homens” que não aprenderam que a mulher é um ser individual e pensante, um relacionamento não a pode privar de amigos sejam eles homens ou mulheres.

É sobre este tema que venho me posicionar, tenho amigos homens, torço por eles, converso com eles, independente de eu ter um relacionamento amoroso com alguém, porque me respeito, respeito meu próximo, e fico abismada vendo mulheres te criticando e dizer que se uma mulher comprometida tem amizade com homens não deve ser sem interesse, olha menina, minha mãe já dizia: “O bom julgador, julga por si mesmo”.

O mundo está repleto de falsos moralistas, feministas de fachada, mulher apoia mulher, homem e quem ela quiser apoiar, porque tudo vem do respeito e nada tem a ver com relacionamento amoroso.

Tenho muitos amigos homens, gente do bem, maravilhosos amigos homens, porque homem, não é aquele que carrega um órgão genital masculino, é aquele que nos respeita, que nos admira e nos trata como mulher ser individual e pensante.


Viva a vida!


Jussara Rocha Souza

terça-feira, 21 de março de 2023

Passado, presente e futuro

 Crônica


Nasci escrevendo, sim, minha história, hoje escrevo a minha, a sua, a nossa, poetisa de nascença sou pura essência.


O passado ajuda a construir o presente e deve ser lembrado com carinho, mesmo que seja de adversidades. Ele faz parte de sua história, negar o passado é negar você, sua essência, mas não viva de passado, ele te trouxe até o presente e agora que você aprendeu, construa seu futuro.

Não fiques ansioso pelo que está por vir, também não fique parado lá atrás, traga para junto de si o que o passado te deu de presente e o leve para seu futuro.

Construa coisas boas, se você for mais idoso, não se importe com os anos passados e não tenhas medo de seu futuro, viva o presente, conte sim suas vivências, você é muito essencial para os mais jovens e escute as deles, todos temos algo para contar.

Eu fiz vinte seis anos ontem, lógico, ao contrário, mas sou grata com que aprendi do meu passado, foi lutas sim, mas também vitórias, tenho estórias para contar, mas só conto para quem as deseja ouvir, sou poeta de nascença, por pura essência, só escrevo o que tenho vontade e o que sai do coração.

Estou sempre pronta pra luta, se assim for preciso, mas meus abraços estes sim são minha força, dentro deles mora tanta gente que hoje já não sou mais eu e sim um pedaço de todos vocês.

Sou essência e de rara perfumaria pois foi extraído de minha alma!


Jussara Rocha Souza

Vivo em ti

 Deixo que me possuas

Pois afinal não sou sua

Minha alma neste instante se esvai

Procura por ele na noite que cai

O corpo na cama desfalece

Ao desejo do outro obedece

Enquanto o olhar paira ao longe

E a lágrima oculta esconde

Do outro lado da cidade

O amor que ficou pra trás

Em um barco a beira do cais


Jussara Rocha Souza


quinta-feira, 9 de março de 2023

Impunidade

 Crônica




Eu não sou nenhum magistrado, membro do poder judiciário, mas sou uma mulher do povo, que foi estudar tarde, trabalhou muito e que disse que não aceitava ser ignorante (que desconhece a existência de algo; que não está a par de alguma coisa.) Queria e quero continuar compreendendo assuntos que não concordo, aprender sempre mais para que eu saiba do que estou falando.

Mas o assunto que hoje quero trazer nesta crônica é sobre a impunidade dos poderosos, de como eles saem ilesos quando no entanto lesaram os de menos poder aquisitivo.

E o que fazer nestes casos, confiar em uma justiça morosa e que muitas vezes é comprada a peso de ouro e favores por seus magistrados.

Fazer barulho, que muitas vezes é calado pelo peso de ameaças ou armas de fogo, mundo conturbado este nosso.

Quantos já vi desistir de suas lutas por medo do que suas famílias possam sofrer, quantos morreram por denunciar impunidades por parte das autoridades.

É muito triste tu estar encarcerada em um sistema enquanto os iníquos desfilam com queixo em pé e salto alto.

E tu tem que calar, calar para o patrão, calar para o ladrão, calar para o mentiroso, calar, calar, calar e enquanto eu calo eles roubam mais e mais.

Eu não sou um magistrado mas prefiro ser eu mesma e continuar aqui ensinando a ler e escrever para que outros não precisem calar.

Estudem, lutem e tenham caráter, vocês podem até achar engraçado pedir para ter caráter em um mundo de pessoas sem nenhum, mas sempre há uma luz no fundo do túnel, uma semente que irá vingar 

Vamos continuar lutando com ações e menos palavras!


Jussara Rocha Souza

segunda-feira, 6 de março de 2023

Prisioneiro de si mesmo

 



Tenho andado em busca de mim, sou sombra de alguém que não conseguiu ver a si mesmo.

Ando perdido na criança que nunca fui e no adulto que não quis ser, ser indesejado, fui vela apagada e a custas de sobreviver tive que me reacender.

Me vi adulto preso dentro de um corpo de criança, suportei um vulto em minha cama de madrugada que dia me dizia filho amado, fui escorraçado por uma mulher que me pôs no mundo mas que fechava os olhos para abusos com medo de ser trocada.

Quantos de nós andam por aí em corpos frágeis de meninos e com a alma sofrida de um idoso, quantos suportam a vida miserável que levam sem saber quem os pôs neste mundo de absurdos, que os faz surdos e tristemente mudos.

Quem consegue sobreviver a lama, veste sapatos caros e chora na cama ao ver seus pés ainda sujos de barro, barro este tatuado não só na sola dos pés mas no coração manchado de dor e corrupção.

Quando por um prato de comida corrompeu sua dignidade, quando calou por imposição da sociedade.

Não é amargura não irmão, é o desabafo de quem foi violado, vendido e o pior, por aqueles a quem deviam ser seus cuidadores, hoje mora em mansão, pois mesmo se morasse em duas peças seria castelo, para quem morou em barraca de plástico preto, cozinhou de fogo de chão e comeu bicho de refeição.

E neste apagar das luzes, oro para não ter pesadelos, mesmo tendo crescido, a história se inverteu hoje o homem aprisiona o menino, que tem medo de escuridão.


Jussara Rocha Souza

Janelas

 



As janelas estão fechadas

Sem pintura a fachada

Já não é mais um lar

Nem sequer é uma casa

Somente a lembrança do que um dia foi

Crianças brincando na calçada

O amor que se sentia no ar

Um casal apaixonado

Nas labutas diárias

Na miséria do prato

Na abundância do amar

Saudades daqueles dias

Onde a família era alegria

Meninos de pés descalço

Jogam bola 

Nem sentem os percalços 

Meninas penteiam suas bonecas

Usam da mãe o salto

Hoje todos criados

A mãe orgulhosa exalta

A faculdade do filho

O fubá de milho

Que a muito custo de joelhos esfolados

De chão por ela lavados

Os sustentou

Hoje resta apenas lembranças

Das crianças

Da calçada

Do amor que a morte levou

Os filhos...

Ah! Estes voaram

Ela os esperava todos dias na janela

 Tantas estações passaram

Até que as janelas se fecharam


Jussara Rocha Souza