segunda-feira, 29 de abril de 2024

Carta a alma




Hoje te escrevo

Com palavras da alma

Enquanto o café sorvo

E a mente acalma


São cartas a alma


Queria te contar

Que a semente germinou

A chuva

O chão molhou


Há flores em toda parte 


Lembrei de nós dois

Do nosso jardim

E o que viria depois

Sem saber que era o fim


Tua imagem conservo no espelho interior


Hoje te li em voz alta

Declamei e reclamei

Tua falta

Nas linhas do poema te amei


Esta nossa poesia

No corpo tatuada

É a grafia

Do amor eternizada


Teu rosto faz morada em meus olhos


Te amarei

Além do fim

Além de mim


Nossas lágrimas nas folhas foram orvalhadas!


Jussara Rocha Souza

Eis-me aqui

 



Eis-me aqui

A espera de ti

A espera do teu olhar

Do teu querer, amar.


Eis-me aqui

Moço do cabelo nevado

De olhos apaixonados

Do querer enamorado 


Eis-me aqui

Te esperando passar 

Em sonhos imaginar-te

E na mais ânsia louca te amar


Eis-me aqui

Porque assim o desejas

Quando de mim te apossas 

E com paixão beijas-me


Eis-me aqui

Porque sou tua

Assim como estrelas 

São da lua.


Jussara Rocha Souza

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Alma viajante




Lá onde o vento faz a curva

mora a saudade

deixando a vista turva

molhando a felicidade 


Lá deixei ficar

pedaços de mim

o sossegar

infinito vagar


Quem me dera!

agarrar o tempo

fazer desta tapera

o agasalho no vento


Mas minha alma viajante

não consegue fazer parada

é pássaro cantante

senhor das madrugadas 


Acalmando os aflitos

solitários nas suas agonias

doridos nos seus conflitos

débeis esperando o dia


Jussara Rocha Souza

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Eu


 


Costurei a alma

Com fios de calma

Após remendar e remendar

Arrematei com pontos de cicatrizar


Eram pequenos rasgos

Lágrimas e engasgos

A dor fazendo estragos

A vida seus remendados


Meu rosto e seus alinhavos

Da dor nossos conchavos

Cúmplices dos mesmos segredos

Costurados sobre o medo


Durante anos me costurei

Lágrimas caladas derramei

Mas de todas minhas costuras

Venturas e desventuras


Fiz de meus pedaços 

Cacos e estilhaços 

Uma colcha colorida

E a ela agradecida 


Dei o nome de vida!


Jussara Rocha Souza

Resiliência

 



Um barco descendo o rio.

A vida em seu curso...

Segue seu percurso.

É o coração no cio...


Pedindo para sonhar,

Querendo a vida agarrar...

Intrépida e valente,

Desafiando a gente...


Desce meu barco,

Nunca deixe este querer...

É forte teu casco,

Um dia, sei, ei de morrer...


Não deixe a amargura,

Dos dias difíceis te contaminar...

Seja você sua cura.

Para a alma alimentar...


E quando suas águas,

Ficarem turbulentas...

E no afluente, lágrimas deságuam.

Eis-me aqui a te acalentar.


Desce meu barquinho...

Desce meu barquinho...


Ainda há tempo para sonhar.

Ainda há tempo para amar...


Jussara Rocha Souza.

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Sonhos costurados

 



Ela se vestia de sonhos, rasgados, costurados, alinhavados com fios de esperança,mas assim mesmo eram sonhos!


Jussara Rocha Souza

Uma vizinha da pesada( mini conto)




Penso que há pessoas que nunca mudam, este é o caso de Joana e sua vizinha do apartamento de cima.

Joana morava em um prédio geminado, sua vizinha de cima não simpatizava com ela, já tinha tentado um diálogo informal mas não deu certo, tentou fazer um agrado com doces e certos favores como receber encomendas pra ela mas nada resolvia.

Joana era invisível aos olhos de sua vizinha e quando a mesma se dirigia a ela era sempre com pouco caso, deboche. 

Nada que Joana fizesse ou dissesse a agradava, tudo dela era melhor, ela era a mais bonita, ela sabia tudo, se Joana dissesse que gostava de doce ela de salgado, Joana gostava de samba ela odiava samba, coisa de desocupado e por aí afora.

Então Joana decidiu fazer o mesmo com ela, apenas se cumprimentavam, e mal se falavam, apenas uma cordialidade por respeito.

Uma noite Joana ouviu um barulho forte no apartamento acima do seu, sabendo que a vizinha mal humorada era de certa idade e morava sozinha ficou preocupada. Esperou um tempo e como nada mais se ouvia, apenas um fraco gemido, apitou a campainha da mesma e nenhuma resposta, foi até a área e chamou o nome e nada.

Então buscou a escada e escalou a parede da área até a janela da dita fulana, viu a vizinha caída no chão desacordada, quebrou a vidraça e entrou.

Naquela hora não existia desavenças, apenas um ser humano precisando de ajuda, nervosa, ligou para o SAMU e relatou o ocorrido, depois de minutos de angústia a ambulância chegou. Foram feitos os primeiros socorros e a vizinha começou a voltar a si.

Joana deu graças a Deus e sorrindo diante da melhora da vizinha a acompanhou até a ambulância, se despendido da mesma aliviada e com desejos de pronto restabelecimento.

Quando o enfermeiro foi fechar as portas da ambulância a vizinha chamou Joana, ela se virou e olhou para a vizinha que com cara de ódio estava a colocar o dedo do meio para Joana.


Jussara Rocha Souza 


(Esta é uma obra de ficção qualquer semelhança é mera coincidência.)

Borralheira eu?

 



Durante a vida toda fui borralheira, hoje uso as cinzas que uma dia vestiam meu corpo para nunca esquecer de onde vim.

Mas nunca mais serei a borralheira, hoje sou a princesa do meu castelo interior, me visto de princesa com meus melhores vestidos, bondade, respeito, amor e dignidade.

Meu castelo está meio arruinado por fora, mas por dentro é exuberante e festivo, recebe as melhores visitas, amigos sinceros, sentimentos puros, contém algumas dores e quem não tem? Mas carrega muitos amores.

Borralheira eu? Não, uma princesa de pés descalços, mãos sujas de tintas, olhar de contos de fadas e um coração transbordando de gratidão!

Um dia alguém me fez borralheira e disto não me envergonho, me envergonho sim de quem se vendeu para ser princesa, hoje posso dizer que meus joelhos marcados de lavar chão me transformaram em canção que hoje as dedico a todos em forma de poesia!


Jussara Rocha Souza

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Africana ( mulher girafa)


 Obra com tinta acrílica sobre papelão

Jussara Rocha Souza 

Silêncio.




Silêncio, hoje enterro a pureza de uma criança, a ingenuidade de uma menina, os sonhos de um guri, silêncio, escuta meu choro, o choro de uma criança abusada por esta sociedade tão certinha e imaculada.

Hoje guardo minha voz, em luto ofereço meu silêncio.

Por todas as crianças, homens e mulheres, vítimas de uma sociedade preconceituosa, abusiva e cruel.

Onde o apontar de dedos é mais conveniente e confortável do que o amor ao próximo.

Estou em luto por tantas crianças abandonadas à própria sorte, não por pais irresponsáveis, mas sim pela falta de creches, por falta de apoio familiar, por falta de tanta coisa que aqui não consigo relatar.

Mães que fazem jornada de dupla e que não têm com quem deixar seus filhos, não há creche para todos, irmãos cuidam dos irmãos para que os pais trabalhem, mas se fazem arte ou bagunça, vizinhos denunciam e o conselho tutelar os leva embora.

É tudo muito difícil, são uma moeda e dois lados, a necessidade e o que é certo e errado.

Estou de luto por minhas crianças que muito cedo deixam de ser crianças, que vivem no limiar da infância e do mundo adulto, convivendo muitas vezes com abusos, álcool, drogas, achando que aquele mundo é o normal.

Crianças desrespeitadas por outras crianças, também desrespeitadas por adultos perversos, pedófilos, tarados que usam a necessidade da fome e miséria para fazer o abuso.

Estou em silêncio de dor porque não consigo mais viver vendo 'minhas' crianças sofrerem tanto, que adultos eles serão amanhã? Será que terão amanhã?

E você que cala, consente, você não vê, não sente?


Jussara Rocha Souza.

Águas de março.




Para quem enfrenta temporais, águas de Março são refrigério a alma!

Sou outonal, folhas amarelas, ventos amenos e raízes a se regenerar...

O inverno talvez me assuste, mas venho me preparando criando novas folhas, fortalecendo raízes e quem sabe até arrisco dançar na chuva.

Mas se nada disto for possível, meu corpo pode até adoecer, mas minha alma, esta não esmorece, vou plantar girassóis imaginários, buscar aquele raiozinho de sol na minha janela e agradecer por esta vida bela.

Há tanto sol no seu interior não deixe que o inverno nele faça morada.

Dias chuvosos e cinzas sobrevém a todos, mas encontre aquela frestinha no seu coração e deixe o sol entrar, ele é capaz de milagres, seca prantos, ilumina a alma e faz florescer.


' São as águas de março fechando o verão

É a promessa de vida no teu coração'


Jussara Rocha Souza

quinta-feira, 28 de março de 2024

A dor da saudade é anjo de asa quebrada

 



Durante a noite um anjo de asa quebrada veio me visitar, me pediu auxílio para poder voltar pra casa, pois tiveram um acidente e sua asa quebrara.

Eu não sabia o que fazer, em choque, perguntei como se tratava uma asa quebrada de um anjo.

Ele então me disse que bastava eu memorizar todo o amor que carrego no coração e direcionar a ele, fechei meus olhos e senti todo aquele amor que carrego dentro de mim se acender.

Era um sentimento guardado a muitos anos, lágrimas derramaram em minha face, meu coração sangrava e parecia que não havia no mundo outro amor maior.

Quando abri os olhos o anjo não estava mais ali, havia um bilhete a meu lado.

Você me curou com seu amor, minha asa quebrada era a sua saudade guardada em seu coração.

Então libertei meu anjo preso dentro de mim, deixei ele voar para que eu possa voltar a sorrir.

Tenho saudades ainda, vejo teu rosto em todos lugares, te quero muito e pensar em nunca mais te ver dói tanto que é como morrer em vida.

Mas não quero ter um anjo de asa quebrada e sem poder voar, preciso curar as minhas asas e aprender a novamente voar!


Jussara Rocha Souza

Dizem que sou louco...'




Alguns são prisioneiros de si mesmo, outros a vida os tornou assim.

Vivemos no limiar entre a loucura e a sanidade, Vânia é a 'louca' da minha rua, a observo todos dias da minha janela, as vezes a loucura liberta de coisas que a sociedade nos obriga a viver.

Uns conseguem superar, outros 'preferem' enlouquecer, tento na minha ignorância a entender, mas será que a sua loucura não a tornou mais livre e feliz do que as ditas donas de suas faculdades mentais.


Assim vejo Vânia..

Tens a face da rua, sonha com a lua e vive em mundo só seu, sem roupas, perfumes ou etiquetas.

Desistiu de ser ateu, porque é muito triste viver sem Deus e Ele a faz sonhar. Já percorreu becos e vielas, dormiu ao relento e achou que não teria sustento.

É a imagem da terra, crua, com o coração canteiro preparado para germinar, semear, aguar... Vive de suas realidades mas as enfeita com efemeridade, não sabe sua idade, mas é ainda guria neste seu olhar, pés descalço, enfrenta percalço e ainda sorria.

Assim entre o chão e o céu, entre a miséria e a misericórdia vive o homem, horas bicho, horas gente, comem e bebem do mesmo lugar. A observo de minha janela, eu livre no pensar, presa por correntes invisíveis do viver, ela acorrentada pela loucura, livre no seu mundo que ninguém entende, uns riem dela, outras a maltratam, mas ela é livre, livre como os pássaros no céu, a sua mente a libertou daquilo que um dia a matou.

Hoje queria ser ela e experimentar sua loucura, quem sabe dançar nua, pés descalços, cabelos degranhados, não ter com que se preocupar, somente a liberdade de me libertar daquilo que chamam sanidade.


Jussara Rocha Souza 


Jussara Rocha Souza

Atire a primeira pedra' aquele que nunca pecou

 'Quem nunca errou que atire a primeira pedra' disse assim Jesus no caso de Maria Madalena.

 Mas não seria preciso estas palavras serem ditas por Jesus para serem levadas a sério, deveria ser parte de nosso caráter, não julgar, não falar mal de outras pessoas.

Você já pensou que amanhã pode ser você? E então você vem e questiona: eu não poderia, tenho uma vida correta. Pois bem, que bom que você é assim. Mas você conhece a palavra empatia? Me diga quem conheceu o certo sem nunca ter vivido o errado.

Quantas vezes uma família correta tem filhos problemáticos, com envolvimento em drogas ou coisas ilícitas.

Eu faço minha parte, porque faz parte de minha índole ser assim, mas tenho filhos que embora eu tenha me esforçado para os criar em retidão, cresceram, conheceram outros caminhos e quem me garante se não se desviará no seu percurso.

Eu não serei culpada pelos erros alheios, mas não posso atirar pedras no que errou, pois o único julgador neste mundo é Deus e Ele é muito misericordioso.

Porque a dor maior sempre é sua? você já pensou no quanto o ser humano é egoísta quando a dor é sua? E o quanto ele minimiza a dor quando é do próximo?

Não sejamos duros demais com nossos julgamentos, a pedra hoje chutada amanhã pode furar a telha de sua casa.

Que atire a primeira pedra aquele que nunca pecou!


Jussara Rocha Souza


domingo, 17 de março de 2024

Falava da tal escuridão




Vinha eu pelo caminho, cumprir assim meu destino...

Um ser pequenino, franzino;

Trazia os bolsos vazios,

Apenas uma lanterna nas mãos...


Cantava uma canção,

Falando de dor no coração...

Da falta de luz,

Da tal escuridão...


Passeava pelo mundo,

O chamavam vagabundo...

Mas ele não ligava,

Sabia de quem se tratava...


Levava paz aos cansados,

Consolo aos adoentados...

Ânimo aos desanimados,

Sua canção era encantada...


Ontem passou por aqui,

Chegou no barulho do vento...

Trouxe alento,

A um coração sofredor...


Ainda ouço a melodia,

Cantada com maestria...

Pelo dono do mundo,

Senhor do universo!


Jussara Rocha Souza


..

Barco

 



Deixo que o barco me leve,

Enleve...

E siga seu rumo,

Quem sabe em algum porto...

A vida apruma,

A onda vire espuma...

E eu como criança arteira,

Matreira...

Me esbalde,

Em um mar de felicidade!


Jussara Rocha Souza

A candeia do corpo são os olhos

 Crônica



Reflita meus olhos toda imagem de minha alma...

Mesmo que em dias tenebrosos meu peito de lágrimas desague,

Pois cultivei dentro do meu ser um jardim de flores viçosas, com perfumes agradáveis e borboletas a lhes visitar....

Sim, um jardim interno, onde enterro na sua terra minhas dores e delas faço adubo e os transformo em belos girassóis,

Você já imaginou quão forte e belo será este jardim? Como na vida, nosso ser é feito de estações, por vezes invernos rigorosos, outros verão escaldantes, outonos amenos, primaveras chuvosas mas todos nescessário a sobrevivência...

E o que faz o jardineiro, cuida, cultiva, rega, independente do tempo e estações ele sempre estará lá para cuidar e defender seu jardim das pragas, portanto assim seremos nós com nosso jardim interior,

Abra suas janelas e mostre seus cômodos interiores para o mundo, eles irão se surpreender...

Tem pessoas que apreciam o ser humano por seu poder aquisitivo, beleza externa, roupas, e não enxergam um palmo a sua frente do que verdadeiramente importa.

Um chalé de madeira muito antigo, a tinta já descascando e seu alpendre meio que entortando, os passantes nem repararam nele, um dia o chalé foi aberto e seu interior foi deixado a vista, era de uma beleza inigualável, de uma elegância e bom gosto raríssimo, agradáveis aos olhos que a contemplaram.

Sejamos assim, que nossos olhos reflitam a nossa beleza interior!


Jussara Rocha Souza 


22 A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz. 23 Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas! Mateus 6:22

Porque a ferida precisou ser aberta

 Crônica



Sentei na sala e sozinha chorei a solidão dos esquecidos. Era como se um buraco estivesse aberto no meu peito, uma dor profunda, funda e doída, como nunca sentira antes.

Ah! Como dói a dor do abandono, o cão sem dono, que vaga pelas ruas em busca de abrigo, um colo amigo.

Então no meu coloquio com meu mais íntimo desespero, caí em destempero e comecei a gritar, era um grito gutural, como de um ferido animal, de quem roubaram sua cria, de quem perdeu sua família.

Depois de muito gritar e chorar, a dor foi acalmando, a tempestade passando e somente lágrimas silenciosas eram sentidas em minha face.

Neste dia meu senti órfã de pai, mãe e filhos, era só eu, vazia, sozinha e completamente furiosa comigo mesma 

Onde eu estava quando fui desrespeitada e calei, quando deixei que meu amor fosse maior para não enxergar o mal que me causavam, onde eu estava quando dei minha vida pela de outrem e me anulei.

Onde eu estava quando alguém que eu mais amava nas costas uma faca enfiava.

Onde eu estava quando noites em claro chorei ao lado de berço e de dor rezava o terço, enquanto a barriga doía de fome e eu cantava canções de ninar, quase sem forças para os embalar.

Onde eu estava quando por pura ignorância acreditando no amor, como se acredita na inocência de uma criança me deixei tantas vezes engravidar.

Onde eu estava quando fizeram de meu corpo pertences pessoal, arrancando minhas viceras como se abre no animal.

A vida assim se fez, os anos passaram, ninguém procura a dor por gostar dela, sobrevivi, e sobrevivente hoje abro de novo a ferida, um buraco fundo, e gritei, gritei sim, porque hoje não preciso mais calar, porque hoje eu estou aqui, e esta dor ninguém mais me causará, minha história só pertence a mim, afinal todos sempre tem uma história triste para contar.

E hoje contei ela ao meu próprio coração, sei do que falo e senti, não preciso de compaixão.

A vida é minha inspiração...

A ferida precisou ser aberta para que se fizesse a descoberta, e hoje sei que sou sozinha na minha dor para que me cure e encontre o verdadeiro amor!


Jussara Rocha Souza

Carta ao tempo

 



Vejo-te por todos os lugares, pier e hangares...

Vejo-te na sombra da noite, que bate como um açoite,

Vejo-te nas entrelinhas dos versos componho em agonia...

Na melodia que fere a alma, que rouba a calma,

A tua gargalhada ecoa pelos cômodo que zombeteiros riem da minha dor...

Vejo-te nos meus mais íntimos segredos, obscuros, degredo,

Ah! Como dói a tua ausência, como fere a essência...

Quando partiste levaste parte de mim, e agora não sei viver sem ti,

Não há graça no viver, falta-me um pedaço do ser...

Como queria ouvir a tua voz, porque a morte fez-se algoz,

Tirando de mim o que me restava de felicidade...

A tua presença é tão real e forte que me permito a ti, intimidades,

Penso estar ficando louca, quando em completo desespero, peço que beijes a minha boca...

Vejo-te na madrugada, nos passos na calçada.

Vejo-te na chuva que cai, nos pingos de saudade que no meu rosto esvai...

Espero pelo tempo, ele com certeza será a contento,

Tirando-me esta dor ou levando-me ao encontro do meu amor!


Jussara Rocha Souza

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Se você voltar...




Se um dia você voltar e não mais me encontrar...

Procure-me nas lembranças do passado,

Nas fotografias esquecidas na gaveta, que contam que ali um dia houve um romance inacabado.

Talvez o tempo tenha me levado, deixando apenas folhas amareladas escritas na memória...

Assim como o vento que passou, e consigo folhas carregou, ficando árvores vazias, galhos secos, fugidias...

Como flores desfolhada, o perfume entranhado na pele, que não deixa esquecer mas que não voltou a florescer. Até pensei em ficar mas a dor era tamanha, a saudade era tanta que como você resolvi partir, hoje vivo de reminiscências, essência fugaz, de quem foi para não voltar mais.

A casa ficou com janelas e portas abertas , vasos com flores coloridas, borboletas fazendo revoadas, a noite vagalumes iluminam as peças interiores, caso voltares sentirás a fragrância de nosso amor no ar, mas não fique triste, eu não estarei mais lá!


Jussara Rocha Souza


Direitos autorais protegidos

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Cantando na chuva




Nuvens escuras pairavam sobre o céu da cidade

Em breve a chuva vai chegar

Corro com medo de me molhar e ficar mais doente

As enfermidades sempre foram meus maiores medos, anseios e inimigos

Os pingos começam a cair e ficam muitos forte formando, poças de água na terra

Cansada pelo esforço da corrida, caminho devagar e me deixo ficar encharcada

Então sento em um banco de praça e começo a achar graça da cena

Descabelada, molhada e cansada, vou até uma lixeira próxima

Em mãos uma sombrinha tão descabelada quanto eu começo a dançar na chuva

Nesta hora saio de mim e sou Gene Kelly, rodopiando em volta dos pilares da praça, dançando e cantando em alto som

Quando dou por mim alguém parado sorria e aplaudia

Morrendo de vergonha saio correndo

A chuva cessou, agora sentada tomando um chá e enrolada em cobertor

Penso em como a felicidade é simples de ser encontrada

A minha se fez em um dia de chuva, nuvens cinza e um moço desconhecido sorrindo

Amanhã vou passear por lá, quem sabe chova, talvez ele como eu goste de cantar na chuva.

Não importa o amanhã, hoje fui feliz!


Jussara Rocha Souza


Direitos autorais protegidos

Leilão

 



Quem dá mais, quem dá mais...

Está aberto o leilão,

Quanto vale uma vida...

Nada mais que tostão


A vida vale nada não

Não se engane meu irmão

O mundo da hipocrisia

Internet, games e quinquilharias


Onde tudo é mais importante

Menos o caráter da gente

A vida por um fio barbante

Carnaval, churrasco e mentes mirabolantes


Arquitetando seus planos

Tudo por baixo dos panos

A vida sendo leiloada

Religião, política e tapinha nas costas


Dou-lhe uma

Dou-lhe duas

Vendida

Para o sistema


Viva! A tudo que me faz odiar este sistema, de gente hipócrita, mesquinha e podre!


Jussara Rocha Souza

Cateterismo




Sou vida

Água do mar

Batendo no rochedo

Forte no lutar


Em dias de temporais

Barco a deriva

Dores em ais

Ao tempo prerrogativa


Fique um pouco mais

O temporal vai passar

Diz as andorinhas

No céu a voar


Hoje bebo o sal das águas

Navego em outras sendas

Em breve deságua

Em um caminho de lendas


Tudo vai ficar encantado

O sal adocicado

O barco feliz a navegar

E a vida...

De novo recomeçar 


Jussara Rocha Souza

Embriagada de sonhos

 



Te embalo em meus sonhos

Tal canções de ninar

Anjo de pele caiada

Pintada nos barros 

Da criação

Tua perfeição

Me encanta

Moldado pelas mãos

Tens vida no olhar

Paixão no coração

Bebo de tua alma

Até saciar minha sede

Tu és a calma

O rio que desce

Em minhas vísceras adormece

Saciado

Embriagado de gozo

Volta ao sonhos

Dos versos que componho


Jussara Rocha Souza

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Prefácio



Há uma vertente que brota água limpa e cristalina

lavando a alma dos passantes

aliviando dores constantes 

um rio de sentimentos

belos, emocionantes

onde brotam açudes de raras belezas

sem mágoas ou tristezas

uma lua cheia

meiga, 

chamando estrelas a brilhar

pedindo aos amantes o sonhar

há vida pulsando

pedindo outra vida a pulsar

há tanta beleza no amar

porque você não vem me encontrar

Sou o eco da natureza

Cheirando a pureza

Da terra o cio

Vida explodindo

Liberto

Prefácio

De um livro ainda não escrito

Esperando do amor

O início.


Jussara Rocha Souza

domingo, 7 de janeiro de 2024

Embriagada de poesia




Da vida me faço aprendiz

Nem louca

Ou atriz

Mas assim de nada pouca


Me embriago todos dias

De tudo que é belo

De poesias

Da raiz ao cerebelo


Meio desengonçada

Dançando na calçada

Vejo a vida encantada

Nesta minha jornada


Então bêbada de emoções

Deito a olhar estrelas

Delas tenho certeza

Que um poeta nos céus

Seus versos me ofereceu.


Jussara Rocha Souza

Azul

 Acrílico sobre madeira

Artista: Jussara Rocha Souza 


Poema para uma princesa sem castelo


Sou princesa sem castelo

Fundida a ferro e martelo

Vincos no rosto

Moleca com gosto


Sou flor do campo

Resistente ao tempo

Borboleta no voar

Livre em seu pensar


A encarnação do amor

Paixão, sentimentos e dor

Princesa vestida de retalhos

Amiga dos espantalhos


Em meio ao milharal

Cabelos ao sol

Espanta ervas daninhas

Protege joaninhas


Meu castelo de folhas

Adorna meus grisalhos

Misturando o tempo

Seivando vida

Cantando canções ao vento


Jussara Rocha Souza 


Sou dona de um tesouro 

Chamado coração

Que nem a maior quantidade de ouro

É capaz de comprar

Só quem amou e foi amado

Pode saber ao que me refiro

Que a mais bela princesa

Não precisa de castelo

E sim ser dona da própria vida

Capaz de amar o amor

Em toda sua totalidade

Capaz suficiente

Para ser princesa

Da sua realidade

Da sua idade!


.

Esperança

 Acrílico sobre madeira


Artista: Jussara Rocha Souza 


Pássaro sem asa



Nasci pássaro

Mas logo vi que tinham cortado minhas asas

Podia voar baixo

Nunca me distanciar

Achei que era para me proteger

Dos caçadores

Predadores

Fui crescendo

Minhas asas também

Penas coloridas

Lindas

E então me colocaram na gaiola

Me deram livros, filmes, toda a sabedoria 

Aplaudiram meus conhecimentos

Ganhei medalhas

E então quis conhecer o mundo dos livros

Me colocaram um anel em minha patinha

E meu vôo foi controlado

Hoje sou pássaro sem asas

Sábio

E sem saber voar!


Jussara Rocha Souza

Feliz natal senhora




Vejo a vida se esvaindo

Fugindo de mim

Tal qual fumaça no vento

Já não sou mais eu

Foge-me a memória

As histórias

Ficam apenas o nada

O vazio 

Vejo crianças correndo

Brincando

A bola na vidraça

Mas tudo é passado

Eu não lembro do presente

Não sei quem é esta gente

Estou me perdendo de mim

E nos raros momentos de lógica 

Vejo que todos foram embora

Alguém esteve aqui

Me banhou, deu alimento e remédios

Me disse que é Natal

Mas porque não há festa

Gritos, risadas

A pessoa me dá um até logo

Não sei quem é

Aceno com um gesto

Digo pra mim no vidro da janela

Feliz Natal senhora!


Jussara Rocha Souza