quinta-feira, 31 de março de 2022

Oxente

 Oxente


 

Será que não basta

Essa dor na gente

Esta miséria que castra


Aqui tudo seca

O chão 

E também o coração 

Ver filho morrer de inanição 


A vida se esvair

A partida do sertão 

Partir sem ter para onde ir

Esta é minha condição 


Aqui nesta cidade

Também tem seca

Lá no sertão era falta d'água 

Aqui de felicidade


Queria poder voltar

Mas não tenho condição 

O céu é meu telhado

O lixo alimentação 


Saudades de minha terra

Já não sinto mais fome não 

Meus olhos cerra

Descansa o coração


Vê o filho 

Lhe estender a mão 

Abre um sorriso largo

Enfim encontrou a solução!


Jussara Rocha Souza

domingo, 27 de março de 2022

Partidas e Partilhas

 Eu nunca esquecerei, partidas e partilhas, leiam se faz necessário. 


Desde que começou a pandemia que os dias tem sido difíceis, vimos muita gente partir, o desemprego chegar.

As cenas pelo mundo inteiro eram como da segunda guerra, corpos empilhados, valas e mais valas sendo abertas com corpos jogados dentro sem despedida, sem ao menos um olhar ou aperto de mão. 

Foram os mortos da solidão, famílias ficaram devastadas, crianças órfãs, realmente uma tragédia sem precedentes no mundo inteiro. 

E como não poderia faltar, houve muita solidariedade, gente disposta a tudo para salvar o outro, ajuda em mantimentos, palavras  de apoio, trabalhadores da saúde que não dormiam, que abandonaram suas famílias para salvar a família do outro.

Houve também oportunista, superfaturamento de oxigênio, medicamentos, falsos médicos, aumento absurdo nas funerárias e cemitérios. 

Médicos atestando covid para ganharem mais dinheiro, uma máfia na saúde ganhando com a morte enquanto outros lutavam para salvar vidas.

E assim fomos vendo a vida ser modificada, sorrisos através de olhares, o medo estampado nele também, pessoas recolhidas em suas casas e muitas desavenças familiares. Muitos encontros também, a nescessidade do outro, filhos ganharam pais, perderam amigos, viram a escola parar, muitos pais sem trabalhar, miséria, fome, violência doméstica, mais roubos, mais drogas, mais amor, solidariedade, um olhar piedoso no irmão. 

Uma pandemia sempre trará devastação, dor e sofrimento, governos despreparados e sem responsabilidade também colaboram para um caos maior, quem não passou por uma uti, foi entubado não poderá avaliar a dor de quem foi, a alegria de quem voltou e a desesperadora luta para respirar e a morte a lhe espreitar de quem lá ficou.

Nunca contabilizaremos o número exato de doentes e mortos, de gente que morreu por negligência, mortes serão sempre mortes e nunca serão esquecidas.

Tivemos também aqueles que negaram a doença e comprometeram muita gente, levam na consciência o peso das mortes de familiares e amigos, teve os que negaram a vacina e pagaram com a própria vida.

Muitos eram ateus e conheceram Deus, outros eram religiosos e viraram ateus, a morte transforma pessoas, tanto para o bem como para o mal.

Hoje comemoramos uma melhora mundial da doença, as mortes diminuíram com a vinda da vacina, mas ela ainda não acabou, a doença anda em nosso meio através de suas variantes.

Não sabemos realmente quem ela é, não podemos descuidar, todos precisamos trabalhar, estudar e seguir a vida, mas para isto precisamos seguir nos cuidando, não é paranoia, é medo de ver tudo voltar a acontecer.

Nestes anos de pandemia vimos a morte comandar o mundo, será preciso um telão em cada praça das cidades do mundo inteiro a passar cenas da pandemia para que você não esqueça os horrores dela e tenha empatia por seu próximo?

Não esqueçamos nunca, diante de todo orgulho, força e condições financeiras na hora da doença somos nada, bem e mal juntos, pobres e ricos de mãos dadas, professores e analfabetos abraçados, todos iguais, você já de um bom dia hoje?


Jussara Rocha Souza


sexta-feira, 25 de março de 2022

A noite

 



Traiçoeira 

Companheira

Das paixões 

Solidão 

Dos amores

Desilusão 

Dos sonhos

Versos

Inacabados

De monstros 

Interiores 

Desejos

Obscuros

É o homem

Entre o bem

E o mal

Entre a luz

E escuridão 

Só 

Em sua decepção 


Jussara Rocha Souza 


Ilustração: Uma luz na escuridão 

Jussara Rocha Souza

quarta-feira, 9 de março de 2022

Ipês amarelos

 Deixa-me sonhar


Pintura que fiz.



 Para todas "minhas" mulheres

Porque falar em mulher é falar de todas nós 


Quando à  vês 

Linda, exuberante 

Em sua maquiagem estonteante 

Vestido brilhante

Nem imaginas o que carrega esta mulher

Então a dispo diante de ti

E coloco a mostra todos seus espinhos

Seu espelho os conhece

Cada dia quando diante dele se despe

Quando no chuveiro ferem ao esfregar

Não deveria ser assim

Cada um deles

É  uma dor

Mas também um fator transformador

 Como Milton

Fala na canção 

"Quem traz na pele essa marca possui

A estranha mania de ter fé na vida"


Jussara Rocha Souza


domingo, 6 de março de 2022

O menino através das grades

 



Somos algozes

De alguém 

De nós mesmos

Ou do que presenciamos


Estamos presos

Por um passado

Indefesos

Refazendo seus passos


Sou o retrato 

De quem morreu

Vivo

E daquele que faleceu


Crianças 

Carregam dores

Trazem na lembrança 

Passados ferozes 


Pássaros em gaiolas

Escutam os outros a cantar

Jogam bola

Em seu sonhar


Mas o menino 

Por trás das grades 

Pedia socorro

De sua inconformidade 


Com lágrimas 

Ela o via

As grades 

Eram a gaiola


Para ele

De socorro

Para ela

Seu salvar


A agonia de uma prisão 

Perpétua nos corações

Une mãe e filho

Em suas recordações 


Curar as chagas é preciso

Libertar a criatura

Quebrar as correntes

Ser pássaro livre


Cantar, cantar, cantar...


Jussara Rocha Souza 


A meu menino com muito amor