sábado, 14 de janeiro de 2017

Orgulho e soberba



Era o único amor que ela conhecera, possessivo, egoísta, só pensava em si. Tinha tanta certeza do amor que o outro lhe devotava que o tratava como a um nada.
Foi durante um almoço em família que ele deu a fatídica notícia, iria embora, viver com outra. Possessa de raiva, esbravejou, gritava e quebrava tudo que via pela frente, mas ele nem ligou, virou as costas e partiu.
Abatida ela via passar os dias, mas a certeza do seu retorno para seus braços lhe esboçava um sorriso no rosto e até imaginava como iria lhe tratar na volta.
Mas os dias passaram e vieram os meses e ele não regressou, então o orgulho deu lugar a loucura, não alimentava-se, não tomava banho e não dormia.
Passava as noites a vagar pelas ruas, um machado nas costas e pés descalços, abandonou seus filhos à própria sorte e abandonou principalmente a si mesma.
Não via ou ouvia a ninguém, a não ser a voz do medo o medo do abandono.
Como em um filme de terror, tentou o suicídio na frente dos filhos e  foi salva pelos vizinhos que acudiram aos gritos desesperados.
O tempo passava e a situação só piorava e então tragicamente ela envenenou-se tomando veneno de rato, foi levada às pressas a um hospital psiquiátrico, onde médicos e familiares chamaram o marido à 'razão'. Acuado, obrigado e sem traços de compaixão, ele voltou.
Ela vive como se nada tivesse acontecido, ele carrega um peso nos ombros e a tristeza no olhar.
Já se foram quarenta anos desde que tudo aconteceu, hoje ele no leito do hospital, estende à mão em sua direção, que parada, olha e diz: Pede para sua amante. E um sorriso lhe brota no canto dos lábios.