segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Possua-me


Ainda que eu ande por caminhos distantes,

Minha alma leva-te consigo

Dois eternos amantes

Perdidos, errantes


Tu fez morada em minha casa

Neste meu peito

Pássaro sem asa

Cúmplices de um leito





Bebo de tua boca

Molhada de rio

De teus olhos

De desejos no cio


Me recolho

Em noites sem lua

E no breu

Completamente nua

Deixo que me possuas


Jussara Rocha Souza

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Vertente

 Tenho uma vertente em meu coração,

Que brota em meus olhos...

Formando rios,que deságuam em minha solidão


Jussara Rocha Souza


A lavadeira ( mini conto)

 



Todos dias ia para a beira do tanque, separava peça por peça, batia, esfregava.

O tanque ficava a beira de um muro em um corredor onde passavam pessoas que moravam neste lugar.

Então ela lavava e cantava, a barriga roncando de fome, e ela esfregava, batia a roupa, com lágrimas nos olhos, ao passar alguém sorria, no beco todos comentavam sobre ela, a fome a consumia, os ossos lhe sobressaem a pele e ela cantarolava. 

De vez enquanto bebia direto da bica água, enganando o estômago que já doía, o varal coberto de roupas, as costas vergadas pelo desgaste na coluna e ela sorria.

Dizem que ela faleceu recentemente, estava a beira do tanque e teve um mal súbito e morreu, o rádio tocava uma canção e seus lábios estavam entreabertos como se sorrisse.

Nunca a esquecerei, seu sorriso, o branco de seus dentes e da roupa quarada ao sol, da mulher que enganava a fome com água da bica, que cantarolava e sorria enquanto um sol escaldante em suas costas ardia.

Dizem que escutam no corredor barulho de água correndo e que uma canção é ouvida débil, frágil e bonita, por vezes dizem escutar risos, será ela que no seu tanque está a lavar, misturando lágrimas com a água da bica para ninguém notar.


Jussara Rocha Souza

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Somos páginas



São linhas suaves, tênues de saudades...

Mora nelas a felicidade,

Caminhos outrora de amenidades...

Onde o sol sorve do rosto o gosto de orvalho da noite passada,

Do canto da passarada...

Do milagre da vida nascida,

De um útero do ventre ou coração

A vida assim surgida

São memórias

Contadas histórias

Passados construindo presentes

Futuro nascentes

Outros já ausentes

Tijolos de nossa construção

Fortes

Erguidos sobre o sol de verão

Frágeis

Em noites de lua

Contadas sob a luz trêmula do lampião

Somos 

Páginas deste livro

Chamado Vida

Ora feliz

Ora sofrida

Mas carregado de esperanças

Nascemos crianças

E assim morreremos

Crianças

São linhas suaves

Tênues de saudades!


Jussara Rocha Souza

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Nas folhas do chá




Entrava na livraria, sentava-se em uma mesa e pedia um chá, pegava um livro e bebericando o líquido quente ficava ali por horas.

Todas as semanas ele aparecia, era um homem grisalho, pele morena, um homem maduro e comum, tinha os olhos de mar, marejados, tristes, quase lagrimosos.

Acostumei a rotina daquele estranho e quando não vinha, sentia sua falta, o frio aumentara bastante naqueles dias, ele então chegou tirou as luvas e pediu o chá, foi até às prateleiras e procurou um livro, resolvi eu mesma servi-lo.

Seus olhos pararam nos meus e eu quase sem ação vi que o mar revolto de seus olhos azuis acinzentados hoje estavam mais brandos, sorri e voltei a meu lugar.

Ele bebeu o chá , colocou as luvas, pagou seu livro e saiu, mas algo me diz que ele vai voltar e que hoje foi diferente. Tenho sonhado todos os dias que ele entra, bebê o chá e então me convida pra sair, são só imaginação de uma moça romântica, apaixonada por um moço estranho, com olhos cor de mar.

Afinal trabalho em uma livraria, e aqui o que não falta são sonhos, hoje o frio voltou, vou por mais chás na caixinha, quem sabe ele venha.

Preparei novos livros, românticos claro, meu Deus! É ele, está me olhando, hoje seus olhos estão claros, vivos, quem sabe hoje ele me convida para velejar neste mar de aventuras que é o meu e o seu coração ou beber emoções nas folhas de um chá!


Jussara Rocha Souza

Serenata


 A cortina se fecha, as estrelas entram em cena e convidam a senhora lua para acompanhar.

Em uma janela uma moça suspira, saudades de alguém que está longe.

Então as estrelas resolvem iluminar o terreiro e uma canção maravilhosa se faz ouvir, é dona lua cantando uma cantiga de amor, de repente os passarinhos acordam e soltam acordes, juntos a grilos e pirilampos que com suas lanternas enfeitam o ambiente.

A moça emocionada agradece tão linda serenata e enfim adormece, os demais se recolhem também, dona lua e as estrelas sorriem e saem a procura de outros céus escuros para iluminar até que o sol nasça e a cortina volte a abrir!


Jussara Rocha Souza

sábado, 2 de dezembro de 2023

Inspiração

 Não quero ser egoísta, mas para que eu não desista, me dê aqui um beijo, daqueles que atiça o desejo e faz o corpo tremer.

Não quero ser egoísta, mas não te deixarei ir, farei café e convidarei visitas, vou te entreter até perderes a vista e que ao anoitecer para ficar insista.

Não serei manipuladora, apenas sedutora, assim sutilmente te fazendo ficar, quem sabe te recito um poema, daqueles que façam com que tremas e assim  assim, emocionado nos meus braços da vida te esqueças.

Mas de ti apenas o que quero, é amor em liberdade, de voltares só se sentires saudade, ou ires embora quando não for mais amor, porque meu egoísmo de te ter só para mim, é coisa de apaixonado mas nunca obrigado.

Hoje acordei de ti saudosa e como gata manhosa, liguei para um bom dia, de repente a campainha, desculpe meus leitores, vou desfrutar a companhia.


Jussara Rocha Souza 


Esta prosa é fictícia, mais bem que poderia ser verdadeira kkkk

Acordei inspirada!!!!

Sonhos

 Sou feita de sonhos e é neles que componho a minha canção!


Acrílico sobre madeira


Jussara Rocha Souza