segunda-feira, 29 de abril de 2024

Carta a alma




Hoje te escrevo

Com palavras da alma

Enquanto o café sorvo

E a mente acalma


São cartas a alma


Queria te contar

Que a semente germinou

A chuva

O chão molhou


Há flores em toda parte 


Lembrei de nós dois

Do nosso jardim

E o que viria depois

Sem saber que era o fim


Tua imagem conservo no espelho interior


Hoje te li em voz alta

Declamei e reclamei

Tua falta

Nas linhas do poema te amei


Esta nossa poesia

No corpo tatuada

É a grafia

Do amor eternizada


Teu rosto faz morada em meus olhos


Te amarei

Além do fim

Além de mim


Nossas lágrimas nas folhas foram orvalhadas!


Jussara Rocha Souza

Eis-me aqui

 



Eis-me aqui

A espera de ti

A espera do teu olhar

Do teu querer, amar.


Eis-me aqui

Moço do cabelo nevado

De olhos apaixonados

Do querer enamorado 


Eis-me aqui

Te esperando passar 

Em sonhos imaginar-te

E na mais ânsia louca te amar


Eis-me aqui

Porque assim o desejas

Quando de mim te apossas 

E com paixão beijas-me


Eis-me aqui

Porque sou tua

Assim como estrelas 

São da lua.


Jussara Rocha Souza

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Alma viajante




Lá onde o vento faz a curva

mora a saudade

deixando a vista turva

molhando a felicidade 


Lá deixei ficar

pedaços de mim

o sossegar

infinito vagar


Quem me dera!

agarrar o tempo

fazer desta tapera

o agasalho no vento


Mas minha alma viajante

não consegue fazer parada

é pássaro cantante

senhor das madrugadas 


Acalmando os aflitos

solitários nas suas agonias

doridos nos seus conflitos

débeis esperando o dia


Jussara Rocha Souza

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Eu


 


Costurei a alma

Com fios de calma

Após remendar e remendar

Arrematei com pontos de cicatrizar


Eram pequenos rasgos

Lágrimas e engasgos

A dor fazendo estragos

A vida seus remendados


Meu rosto e seus alinhavos

Da dor nossos conchavos

Cúmplices dos mesmos segredos

Costurados sobre o medo


Durante anos me costurei

Lágrimas caladas derramei

Mas de todas minhas costuras

Venturas e desventuras


Fiz de meus pedaços 

Cacos e estilhaços 

Uma colcha colorida

E a ela agradecida 


Dei o nome de vida!


Jussara Rocha Souza

Resiliência

 



Um barco descendo o rio.

A vida em seu curso...

Segue seu percurso.

É o coração no cio...


Pedindo para sonhar,

Querendo a vida agarrar...

Intrépida e valente,

Desafiando a gente...


Desce meu barco,

Nunca deixe este querer...

É forte teu casco,

Um dia, sei, ei de morrer...


Não deixe a amargura,

Dos dias difíceis te contaminar...

Seja você sua cura.

Para a alma alimentar...


E quando suas águas,

Ficarem turbulentas...

E no afluente, lágrimas deságuam.

Eis-me aqui a te acalentar.


Desce meu barquinho...

Desce meu barquinho...


Ainda há tempo para sonhar.

Ainda há tempo para amar...


Jussara Rocha Souza.

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Sonhos costurados

 



Ela se vestia de sonhos, rasgados, costurados, alinhavados com fios de esperança,mas assim mesmo eram sonhos!


Jussara Rocha Souza

Uma vizinha da pesada( mini conto)




Penso que há pessoas que nunca mudam, este é o caso de Joana e sua vizinha do apartamento de cima.

Joana morava em um prédio geminado, sua vizinha de cima não simpatizava com ela, já tinha tentado um diálogo informal mas não deu certo, tentou fazer um agrado com doces e certos favores como receber encomendas pra ela mas nada resolvia.

Joana era invisível aos olhos de sua vizinha e quando a mesma se dirigia a ela era sempre com pouco caso, deboche. 

Nada que Joana fizesse ou dissesse a agradava, tudo dela era melhor, ela era a mais bonita, ela sabia tudo, se Joana dissesse que gostava de doce ela de salgado, Joana gostava de samba ela odiava samba, coisa de desocupado e por aí afora.

Então Joana decidiu fazer o mesmo com ela, apenas se cumprimentavam, e mal se falavam, apenas uma cordialidade por respeito.

Uma noite Joana ouviu um barulho forte no apartamento acima do seu, sabendo que a vizinha mal humorada era de certa idade e morava sozinha ficou preocupada. Esperou um tempo e como nada mais se ouvia, apenas um fraco gemido, apitou a campainha da mesma e nenhuma resposta, foi até a área e chamou o nome e nada.

Então buscou a escada e escalou a parede da área até a janela da dita fulana, viu a vizinha caída no chão desacordada, quebrou a vidraça e entrou.

Naquela hora não existia desavenças, apenas um ser humano precisando de ajuda, nervosa, ligou para o SAMU e relatou o ocorrido, depois de minutos de angústia a ambulância chegou. Foram feitos os primeiros socorros e a vizinha começou a voltar a si.

Joana deu graças a Deus e sorrindo diante da melhora da vizinha a acompanhou até a ambulância, se despendido da mesma aliviada e com desejos de pronto restabelecimento.

Quando o enfermeiro foi fechar as portas da ambulância a vizinha chamou Joana, ela se virou e olhou para a vizinha que com cara de ódio estava a colocar o dedo do meio para Joana.


Jussara Rocha Souza 


(Esta é uma obra de ficção qualquer semelhança é mera coincidência.)

Borralheira eu?

 



Durante a vida toda fui borralheira, hoje uso as cinzas que uma dia vestiam meu corpo para nunca esquecer de onde vim.

Mas nunca mais serei a borralheira, hoje sou a princesa do meu castelo interior, me visto de princesa com meus melhores vestidos, bondade, respeito, amor e dignidade.

Meu castelo está meio arruinado por fora, mas por dentro é exuberante e festivo, recebe as melhores visitas, amigos sinceros, sentimentos puros, contém algumas dores e quem não tem? Mas carrega muitos amores.

Borralheira eu? Não, uma princesa de pés descalços, mãos sujas de tintas, olhar de contos de fadas e um coração transbordando de gratidão!

Um dia alguém me fez borralheira e disto não me envergonho, me envergonho sim de quem se vendeu para ser princesa, hoje posso dizer que meus joelhos marcados de lavar chão me transformaram em canção que hoje as dedico a todos em forma de poesia!


Jussara Rocha Souza

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Africana ( mulher girafa)


 Obra com tinta acrílica sobre papelão

Jussara Rocha Souza 

Silêncio.




Silêncio, hoje enterro a pureza de uma criança, a ingenuidade de uma menina, os sonhos de um guri, silêncio, escuta meu choro, o choro de uma criança abusada por esta sociedade tão certinha e imaculada.

Hoje guardo minha voz, em luto ofereço meu silêncio.

Por todas as crianças, homens e mulheres, vítimas de uma sociedade preconceituosa, abusiva e cruel.

Onde o apontar de dedos é mais conveniente e confortável do que o amor ao próximo.

Estou em luto por tantas crianças abandonadas à própria sorte, não por pais irresponsáveis, mas sim pela falta de creches, por falta de apoio familiar, por falta de tanta coisa que aqui não consigo relatar.

Mães que fazem jornada de dupla e que não têm com quem deixar seus filhos, não há creche para todos, irmãos cuidam dos irmãos para que os pais trabalhem, mas se fazem arte ou bagunça, vizinhos denunciam e o conselho tutelar os leva embora.

É tudo muito difícil, são uma moeda e dois lados, a necessidade e o que é certo e errado.

Estou de luto por minhas crianças que muito cedo deixam de ser crianças, que vivem no limiar da infância e do mundo adulto, convivendo muitas vezes com abusos, álcool, drogas, achando que aquele mundo é o normal.

Crianças desrespeitadas por outras crianças, também desrespeitadas por adultos perversos, pedófilos, tarados que usam a necessidade da fome e miséria para fazer o abuso.

Estou em silêncio de dor porque não consigo mais viver vendo 'minhas' crianças sofrerem tanto, que adultos eles serão amanhã? Será que terão amanhã?

E você que cala, consente, você não vê, não sente?


Jussara Rocha Souza.

Águas de março.




Para quem enfrenta temporais, águas de Março são refrigério a alma!

Sou outonal, folhas amarelas, ventos amenos e raízes a se regenerar...

O inverno talvez me assuste, mas venho me preparando criando novas folhas, fortalecendo raízes e quem sabe até arrisco dançar na chuva.

Mas se nada disto for possível, meu corpo pode até adoecer, mas minha alma, esta não esmorece, vou plantar girassóis imaginários, buscar aquele raiozinho de sol na minha janela e agradecer por esta vida bela.

Há tanto sol no seu interior não deixe que o inverno nele faça morada.

Dias chuvosos e cinzas sobrevém a todos, mas encontre aquela frestinha no seu coração e deixe o sol entrar, ele é capaz de milagres, seca prantos, ilumina a alma e faz florescer.


' São as águas de março fechando o verão

É a promessa de vida no teu coração'


Jussara Rocha Souza