quarta-feira, 27 de julho de 2022

Suicídio

 



Na ponte escura 

Um vulto se esguia

Nas suas agruras

Grita


Um grito de dor

Quase terror 

Vaga pela escuridão 

Em busca de consolação 


Quem passa neste caminho

Disse ouvir o lamento

Um gemido sozinho

Um corpo no cimento


Dizem que a depressão o assassinou 

De cima da ponte se atirou

Imagino o seu desespero 

E quantos ela matou


Não sei se é causo

Ou verdade

Fico confuso

E na minha realidade 


ouço-te gritar

Um grito de socorro

Não sei se também grito

Ou corro


Mas fico ali a cantar

Uma canção de ninar

A alma atribulada acalmar

E então começo a chorar...


Jussara Rocha Souza 


"Depressão mata"

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Amarelo

 




 Eu sou uma admiradora das belezas da natureza, vejo nelas falas, cantos e encantos que me enchem os olhos. E o amarelo das flores e folhas são minhas preferidas, curam feridas, trazem esperanças e convidam-me a dançar. Foi nos girassóis de Van Gogh que me apaixonei pelas pinturas e foi no belo jardim de girassóis que senti as maiores emoções de Caio Fernando Abreu. Senti o escuro da noite, banhada de lágrimas e o escorrer das manhãs de outono nas folhas amarelas coladas a janela. Hoje caminho pelos campos de girassóis, converso com o meu amigo e tento assim entender as suas angústias e por vezes parecem as minhas, então ouço a sua sinfonia em meio ao céu estrelado. Volto ao jardim e concedo-me o direito de amar-te, nas folhas amarelas do teu caderno de versos, abraço-te, você foi-se e não mudou muitas coisas por aqui, ainda se fala de guerras, não só a terrível guerra das armas e bombas. As íntimas também estão a matar, com seu preconceito e preceitos que trazem solidão e dor. Então você olha-me, doce, terno e diz-me. Calma, não será eterno. Lembro que girassóis sempre apontam em direção ao sol, talvez eles queiram nos falar de calor, amor e dizer que ainda há esperanças. Que outros como eu enxergara a beleza e a dor no amarelo das suas flores, mas que amaram, amaram tanto que transformam o seu amor em telas e versos. E eu sou grata por vocês ensinarem-me tanto, com amor Van e Caio! 


Jussara Rocha Souza

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Outonal

 



Me sinto outonal 

Folhas caindo

Limpando meu emocional

O velho amarelo

Dando vida ao verde

Deixando brotar os galhos

Sem vínculos com o antigo 

Sem bagagens a carregar

Apenas deixando florescer 

Renascer

Renascer 

Florescer 


Jussara Rocha Souza

domingo, 3 de julho de 2022

Saudade

Saudade?
Saudade é a tinta fresca no quadro da memória e que por um descuido foi tocada e ficou ali a impressão pra sempre marcada.
É acordar neste domingo com um samba enviado por um amigo e que desperta em mim esta história. 
Saudade?
É esta prosa meio sem jeito, com aperto no peito e a nostalgia do que viveu um dia.
É a melancolia sentada no balanço do tempo, inevitável, inefável e que vem nos visitar.
Saudade?
É sorrir sozinha, fazer caras e bocas para as lembranças que lhe avizinha, como se aqui estivesses.
É o samba na vitrola, " as rosas não falam" diz Cartola e eu no meu imaginário de criança te convido à esta dança. 
Saudade?
É o barco feito de jornal, soldado cabeça de papel, dançar em cima dos seus pés, ouvir café Nice e Noel...
" E a noite varava a madrugada, o café Nice era um pedaço do céu " e aqui continuo eu, com a saudade a me visitar sem esperar, até que o balanço do tempo venha e me leve para junto de ti e então iremos embalar a saudade de outros, com sambas, poesias e lembranças boas a povoar nosso quadro da memória. 

Jussara Rocha Souza