sábado, 29 de abril de 2023

O amor não envelhece

 Prosa poética


O amor não envelhece, para quem dele nunca esquece.

Anda de mãos dadas com o tempo e para ele não há contratempos, o amor é coisa rara de se viver, precisa de alma para sobreviver.

Caminham passos juntos sem nunca ao outro encarcerar é liberdade no amar, a única prisão são de braços entrelaçados nas carícias em se dar.

O amor realmente não envelhece, como um bom vinho a união enobrece, fica sempre mais gostoso e o saboreamos com gosto. 

E quando o corpo mostra marcas da idade, para seu amante o que vê é o amor da mocidade, porque  se enxergam pelos olhos do coração, não há disputa, sim a labuta da construção.

O amor através do tempo ganha formas diferentes, as vezes tão mornas, as vezes tão quentes, sábio, sabe ganhar o amor do outro, terno tem gosto de algodão doce, se conhece pelo olhar, faz amor sem se tocar.

Quando uma alma tocar a sua, dispa-se, nua, deixe que ela tome todo seu ser, não como cativo, mas como aquele que sabe que o amor jamais vai envelhecer!


Jussara Rocha Souza

terça-feira, 25 de abril de 2023

Vestida de saudades

 Hoje me vesti de saudade

Saí em busca do passado

Espiei na fresta da felicidade

Havia um moço de passos apressados


Sorri em sua direção

Mas ele nem percebeu

Descompassado coração

Seus olhos não eram meus


Uma moça na esquina

Um beijo apaixonado

Era eu a menina

No banco do passado


Recuei

Não havia tristeza em mim

Apenas nostalgia 

De um amor que vivi


Voltei para casa

Me despi da saudade

A imaginação dei asas

Voltei a realidade


Em mim há um que de saudades,

Da moça de outrora

Mas muito de felicidades

Na mulher de agora


Jussara Rocha Souza


segunda-feira, 24 de abril de 2023

A estrela enciumada

 



Em uma noite invernada uma estrela guia saiu em busca de algum passante em busca de luz.

Sobrevoando os mais ínfimos lugares na terra tentando levar um pouco de calor pousou em um teto esburacado.

Olhou lá de cima e na cama sentado estava um menino que logo a avistou, embevecido com tamanha luminosidade, o menino se alegrou.

Com um sorriso estampado enchia uma caneca nas goteiras no pequeno barraco, levou até a cama ao lado para uma velha senhora, sorria em direção a estrelinha e deixava que os pingos molhasse seus cachinhos emaranhados.

A estrelinha pensando em levar luz se viu iluminada, pela candura de franzino menino, envergonhada de pensar em infelicidade embaixo de um teto esburacado se retirou enciumada pois nunca estrela nenhuma brilhou assim.

Mal sabe ela, que em uma noite invernada uma idosa morria solita de frio embaixo de um teto todo furado, uma estrela então desceu em forma de menino e desde então a ela faz companhia!

Quantos de nós vivemos acompanhados de estrelas e não enxergamos a sua luz.

Jussara Rocha Souza

Liberdade




Não me obrigue

Não aceito gaiolas

Sou pássaro livre

Sem quaisquer argolas


Sou penas ao vento

Viagem tranquila

Como agave azul lento

Sabor tequila


Meu colorido

Adquiri com as flores

Sou canto sofrido

Desamarra de amores


Sou alma em liberdade

Vôo pleno de felicidade

Bela em maturidade

Pássaro em sua efemeridade(vida)


Jussara Rocha Souza 


Efemeridade: Em geral, o termo é associado a tudo aquilo que tem caráter passageiro, transitório, fugaz, de curta duração, que é visto por apenas um momento. A efemeridade da vida é uma expressão muito usada para lembrar que a vida é passageira, e por isso, é imperioso que cada instante seja vivido intensamente.


Agave azul: A agave-azul é uma planta de crescimento lento e muito ornamental, que cresce até sua maturação, floresce, frutifica e morre, usada na confecção da Tequila.

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Eu, a lua e o violão

 



Tinha o fogão a lenha como candieiro, a luz do fogo dava vida as sombras e o cusco aos pés como companheiro.

Em noites de lua cheia deixava a claridade entrar pela janela, tocava uma moda no violão e assim aquietava o coração, o cusco por não saber cantar ensaiava o uivo para o dono acompanhar.

Então a lua encantada com tão bela moda cantada se fez presente no céu até quase amanhecer, o vivente apaixonado da lua enamorado pedia aos céus para de novo escurecer.


Jussara Rocha Souza

O tear




Todos os dias sentava em sua cadeira e tecia, havia anos, eram rolos e rolos de linha.
Todos achavam estranho aquele trabalho que nunca terminava, assim ela seguia, anos e anos tecendo seus fios. Dias que tecia com afinco quase com raiva, outros com mais suavidade e aqueles que tecia com tamanha alegria que sua felicidade pelo rosto irradia.
Os anos passaram e a tecelã adoeceu, ficou o tear e as linhas, em sua cadeira para sempre adormeceu.
Então os familiares foram retirar seus pertences, para espanto de todos cada parte de sua composição de linhas, cores de seu interminável trabalho estava anotado em seu diário escondido entre seu cesto de linhas.
Cada dia triste, vitorioso, doenças, preocupações, alegrias, mortes e nascimentos, dores, ilusões, felicidades tecidas diariamente em seu tear, em cores, linhas e sentimentos!

Jussara Rocha Souza

sábado, 15 de abril de 2023

Pelo caminho



Quando a lágrima cai eu a bebo, e deixo que o sal limpe minhas angústias, cicatrize minhas feridas.

 Ensaio um sorriso, olho no espelho fundo da alma e digo para mim mesma: Menina, você é maravilhosa, visto minha melhor roupa, a do amor e uso a mais autêntica maquiagem, a do coração.

Então saio por aí a exalar fragrâncias de flores com notas exuberantes de poesias a contaminar a todos passantes com minha alegria!


Jussara Rocha Souza

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Brotar

 E a vida vem brotando, as vezes frágil, encolhida, porém brota destemida dentro de um corpo fraco, sentido, mas tão rico de sentidos que me dá e tira a vida.

Esta minha fragilidade em sentir, que muitas vezes me abate, tem a capacidade de colorir flores sem cor, pintar de vermelhos abacates.

Dar fragrâncias a velhos vidros vazios e enfeitar de sorriso a dor que de mim se faz rios.

Sou frasco frágil mas com conteúdo tão forte que soube com graça e beleza enfrentar a morte.

Hoje meu corpo foi minha poesia, a se torcer de dor, ensaiou rimas descabidas, lágrimas brotaram, cobrindo assim a vertente que me mantém viva e então ela, a vida, mais um dia brotou.


Jussara Rocha Souza


quarta-feira, 12 de abril de 2023

Por onde andará Marias

 Mini conto


Quando o inverno branqueou de flocos de neve seus cabelos não era assim tão idosa, costumava dizer a todos, que era porque não gostava de verão e que Deus tinha colocado flocos de neve para assim aliviar o calorão.

Então abria um sorriso largo e continuava seu caminho, Maria era muito misteriosa apesar de amistosa e gentil com todos, chegou ao vilarejo há muitos anos atrás, trazia uma pequena bolsa e uma carta de recomendação.

Logo começou a trabalhar em um comércio local, sua simpatia e gentileza foi conquistando a todos, clientes, patrões e a vizinhança, mas nunca ninguém soube de onde viera ou se tinha família.

Estes assuntos eram proibidos para Maria, o tempo passou, como todo ser humano envelheceu, aposentada hoje anda pela cidade a conversar com todos, alimenta animais de rua, cuida do jardim e sorri, sorri como se o seu sorriso fosse sua verdadeira identidade.

Hoje porém Maria não apareceu na padaria, não alimentou os animais e nem tão pouco saiu para seu passeio matinal, preocupados os vizinhos foram até sua casa, ela havia desaparecido, como fumaça no ar Maria evaporou.

Por onde andará Maria?

Passado os dias o povo começou a achar que tinha alguma história misteriosa sobre a mulher, então a cada pessoa que era perguntada sobre Maria uma nova história era contada, então Maria virou lenda do sertão, seria ela a mulher de Lampião, uma espiã russa, uma rica socialaite que fugiu de sua mansão?

Será que Maria não era Maria? Ou Maria só quis viajar e para o Polo Norte foi seu cabelo nevar, aqui em minha rua vejo idas e vindas de muitas Marias, sem familiares, sem teto, sem chão, mas quase sempre carregam histórias de dor e solidão.

A maioria tem cabelos nevados, riscos profundos em sua feição, carregam sacos de latinhas, retalhos de emoção, choram por alguns que ficaram pelo caminho, são muitas Marias que  esquentam a neve de seus cabelos com uma garrafa de cachaça e folhas de papelão.


Jussara Rocha Souza

segunda-feira, 10 de abril de 2023

Esticando os lençóis



Ah! Velhos e brancos lençóis

Quantas noites

Quantos sóis

Deleites


Partos sofridos

Risos aflitos

Sentimentos contidos

Amores descabidos


Velhos e brancos lençóis

Testemunhas oculares

Manhãs em girassóis 

Tantas vidraças, tantos olhares


Um sorriso nos olhos

Afaga a cama

Dedos sobre os lábios

Lembra de alguém que ama


Um toque na pele

Volta a realidade

Se olha ao espelho

E novamente sorri

Ainda carrega no peito girassóis

Volta a esticar os lençóis!


Jussara Rocha Souza

domingo, 9 de abril de 2023

Escrito ao coração


O dia amanheceu escuro

O vazio da alma

Insiste no teu coração puro

Pede calma


Diz que em breve irá clarear

São breves temporais

Tempos de chorar

Essenciais


Um olhar ao tempo

Se avizinha na carcaça 

Este marcador a contratempo

Ri e disfarça


Será que foi amor demais

Paixões esfuziantes 

Que me tiram meus ais

Que me matam neste instante


Velho coração

Você não é mais jovem não

Carregue mais flores

E menos dores


Obs: Pedi a meu velho amigo tempo

Mais um momento

Ficar mais um pouquinho por aqui

Para ver nascer mais flores neste jardim

E escrever versos sem rimas

Apenas porque gostei destas palavras

Todas de minha própria lavra

Assim meio doida

Meio perdida

Muito amada

Talvez de coisas antigas arrependida

Mas de amar jamais

Por estas não serei banida!


Jussara Rocha Souza

Crônica da madrugada

 



Síndrome do coração partido 


O desafio de ser você mesma em um mundo frio e de gente desconfiada.

Sou puro sentimentos, coração frágil fui atingida certeiro por uma síndrome do coração partido, você ri, não é brincadeira, dói na alma e reflete no peito.

É um enfarto sem veias entupidas, e isto tudo por amar demais, por sofrer demais, por achar que podia mudar o mundo. Que querer, amar pelo simples fato de amar, devia ser belo, mas para minha surpresa, nem todos pensam assim, e o sofrimento começa por casa, atravessa a rua, na criança abandonada, fome, miséria, é tanta dor que parece ninguém ver ou se importar.

Meu cardiologista falou que não posso chorar, mas não me ensinou a arrancar a dor de dentro do meu peito, preciso aprender a ser forte, mas como ser diante da morte, da morte do ser, do não ter, como não chorar diante de tanta crueldade neste mundo de desigualdade.

Serei eu um sonhador ou um iludido, me diga senhor, não é o amor o maior dos mandamentos, e como querem que meu coração endureça tal qual cimento, não serei mais eu se for fria, indiferente ao outro, se vim ao mundo deste jeito algo era para ser feito, talvez não possa abraçar o mundo, mas posso começar por você!


Jussara Rocha Souza


Síndrome do coração partido 


O desafio de ser você mesma em um mundo frio e de gente desconfiada.

Sou puro sentimentos, coração frágil fui atingida certeiro por uma síndrome do coração partido, você ri, não é brincadeira, dói na alma e reflete no peito.

É um enfarto sem veias entupidas, e isto tudo por amar demais, por sofrer demais, por achar que podia mudar o mundo. Que querer, amar pelo simples fato de amar, devia ser belo, mas para minha surpresa, nem todos pensam assim, e o sofrimento começa por casa, atravessa a rua, na criança abandonada, fome, miséria, é tanta dor que parece ninguém ver ou se importar.

Meu cardiologista falou que não posso chorar, mas não me ensinou a arrancar a dor de dentro do meu peito, preciso aprender a ser forte, mas como ser diante da morte, da morte do ser, do não ter, como não chorar diante de tanta crueldade neste mundo de desigualdade.

Serei eu um sonhador ou um iludido, me diga senhor, não é o amor o maior dos mandamentos, e como querem que meu coração endureça tal qual cimento, não serei mais eu se for fria, indiferente ao outro, se vim ao mundo deste jeito algo era para ser feito, talvez não possa abraçar o mundo, mas posso começar por você!


Jussara Rocha Souza

Serei eu


 


Serei eu

Teu beija flor

Pássaro a revoar

A mais bela flor do amor

Serei eu

Tua chuva

A molhar teus sentimentos

E com lenços de carinho

Embaixo do guarda chuva

Secar teu rosto

Devagarinho

Serei eu

Na dor

Este raio de luz

A aquecer a alma

Trazer acalento

A tua doce alma

Serei eu

A que nunca te esqueceu

Girassol a procurar- te

Em dias nublados

Através da nuvens

Em tempos carregados

Serei eu

Responda-me

Amor meu!


Jussara Rocha Souza

Nada




Nada sou

Ser triste, cansado

Ando neste mundo a esmo

Busco a mim mesmo

Sozinho

Deixei minha alma pelo caminho

Casca, corpo vazio

Fantasma em desvario

Olhos opacos

Coração aos cacos

Dorme ao relento

Papelão de cobertor

O seu amor

Ah! O seu amor

Ficou no lago que secou

E que de lama 

Minhas lágrimas tornou


Jussara Rocha Souza