quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Inverno


Inverno

Pintura acrílico sobre madeira 


Alguém a me esperar

 Crônica 





Quando eu era menina, lá pelos 17 anos gostava de ouvir uma canção que dizia assim; 

'É saber com alegria

Que além, muito além

A espera de mim

Existe alguém'


E hoje no auge de meus 62 anos continuo a cantar a canção e imaginar que alguém em algum lugar espera por mim.

É tão gratificante para o coração sentir que tem alguém a nos esperar, que alguém pensa em nós, que de alguma forma nossos sentimentos estão vivos, e de imaginar alguém a minha espera, o coração dispara, dá frio na barriga e o rosto cora.

E então me pego sorrindo sozinha, imaginando se alguém neste momento lendo minha crônica também sente que alguém o espera, que neste momento imagina ele(a) a sonhar com a volta!

Não importa a idade, sonhe, imagine, relembre velhos amores de juventude que lhe trouxeram alegrias não com intenção de tê-lo novamente, mas sim de reanimar o espírito.

Todos somos capazes de amar e o amor como dizia Belchior : 'Viver é melhor que sonhar

Eu sei que o amor

É uma coisa boa' 

Sim, o amor é a melhor coisa que existe, então sonhe menina, não importa a idade, pense que em algum lugar alguém te espera, fantasie seu amor, mas nunca perca o sentido de viver.


Quem sabe hoje você irá vê-lo, ou naquela esquina vão se encontrar, ou quem sabe ele(a) neste momento está pensando em você lendo esta crônica.

Ou quem sabe ele está agora nesta canção, só sei que eu não desisto de sonhar e sei que em algum lugar algum está a me esperar.


Jussara Rocha Souza

Poema




'De repente, a gente vê que perdeu

Ou está perdendo alguma coisa

Morna e ingênua

Que vai ficando no caminho

Que é escuro e frio, mas também bonito

Porque é iluminado

Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás'


Trecho da música Poema, escrita por Cazuza e gravada por Ney Matogrosso 


Também me vejo perdendo pelos caminhos alguma coisa morna e ingênua, não quero ser dura, não quero perder a ingenuidade de meu coração.

Mas há um vazio tão grande, uma desesperança, conhecer a verdade nos torna sábios, a verdade é bonita mesmo cruel, mas também pode matar...

Hoje acordei com medo, das pessoas, deste mundo cruel que mata seu irmão, quanta maldade, vaidade, Deus não criou religiões, foi o homem que as criou e assim separou gente de gente e hoje se tornaram estes animais que vemos todos dias.

Estou com medo da humanidade, de seus julgamentos e condenações, estou com medo do mundo, medo de viver.

Estou com medo deste vazio que mata minhas esperanças, medo do egoísmo que tem separado famílias, ganância, governos, estou com medo desta dor que enclausura e destrói o amor!

Estou com medo de não mais haver poesias, pois a desesperança faz a depressão e assim por consequência o suicídio, homem está matando homem e em nome de quê, de quem?

Genocídio mundial de sentimentos, muito triste, mas o mundo virou um mar de sangue, poder e ganância!


Jussara Rocha Souza

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Outonal

 



O quintal amarelo pelas folhas caídas, me avisa, o outono está partindo...

Arrumo a mala, olho pela vidraça, a paisagem está linda, caminho até a porta, olho mais uma vez para cama em desalinho, sorrio entre lágrimas, lembro de nois dois no ninho.

Vamos outono está na hora de partir, o inverno está chegando e com ele os dias cinzas, nublados e a chuva que teima em molhar meu rosto nas madrugadas.

Abro as gavetas da saudade e tiro meu cachecol, ele me conta histórias de nós, sinto um arrepio, teu beijo na nuca, devo estar maluca, tento fechar a gaveta, arranco o cachecol, não quero sentir saudades, não quero saber de folhas amarelas, invernos, outonos...

Me enrosco em meus braços e sussurro para mim, você partiu, não há mais estações, então desarrumo a mala, fecho as gavetas dentro com o velho cachecol, na vitrola o disco repete sem parar "As rosas não falam" adormeço então a soluçar!


Jussara Rocha Souza

Amantes

 A chuva batia na vidraça, sob lençóis amarrotados, descansavam um par de xícaras vazias.

Rastros dos corpos que ali  estiveram. misturado ao barulho da chuva ouço a água do chuveiro, amantes se dão por inteiro!


Jussara Rocha Souza


Vida, me empreste alguém




Olá vida poderia me emprestar alguém, ando tão sozinho, preciso dividir abraços, cantares, cansaços.

Dividir memórias, lençóis amassados e beijos apaixonados, chorar de tanto rir até no chão cair.

Não precisa ser para sempre, precisa só ser intenso, imenso, querer apaixonar-se e de amor morrer, porque amar é morrer todos dias nos braços daquele que me tem.

Vida me empreste alguém, preciso para chamar de bem, beber de vida na boca de um beijo e então exaurido de emoção dar vida a meu coração.Depois do amor descansar em teu colo, como criança no seio da mãe, satisfeito, amado, não precisa querer ser minha ou eu ser teu para sempre, porque neste mundo ninguém pertence a ninguém, somos almas emprestadas pela vida.

Portanto vida, podes me emprestar alguém?

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Cantar


 


Tenho estrelas no olhar...

Que me levam a sonhar,

Ruas, estradas...

Caminhos de luz 

Flores e matas

A desvendar

Escuto uma Janis

Em meio canteiros de anis

E vivo assim aventuras

Dentro de minha loucura

Que sadia

Minha luz irradia

Então sorrio

A este céu azul

Que me cobre

De meus temporais

Seguro meu pranto

E canto!!!!


Jussara Rocha Souza

Há flores em tudo que vejo




Tenho ares de saudade, perfume de felicidade...

A primavera me faz florida, cura feridas e me faz florescer.

Não é fácil ser inverno, mas é nele que apesar de dias invernosos me faz de dores, manter viva minhas raízes.

Hoje lendo Quintana, me olhei no espelho na vida, ah! Jussara, quanta cicatrizes, e como elas voltam a sangrar quando sem querer a água volta e faz ressaca no mar.

Não é fácil enfrentar a si mesma, porque o espelho material reflete a imagem do corpo, mas o espelho da alma pode até matar.

Tenho cuidado de mim, tenho marcas profundas, não são exageros, um dia foram profundos desesperos, mas hoje minhas raízes criaram galhos, verdes, folhosos e então começaram a florir.

Me vejo nos olhos tristes de meu pai, e os compreendo, também começo a compreender a amargura de minha mãe, mas não sou eles, tenho minha própria história, e faço diferente.

Obrigada Cecília, Quintana, Florbela, Caio entre tantos outros, vocês me fazem florir e mesmo quando sou Augusto dos Anjos, Lupicinio ou Nelson ainda vejo beleza na dor.

'Há flores em tudo que vejo'

Talvez meu leitor hoje esteja vivendo dias cinzas, tenha fé, a primavera não demora a chegar!


Jussara Rocha Souza