segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Espelho da alma

 



Hoje me olhei no espelho

Vi a menina que habita em mim

Ela tinha sulcos no rosto

Olhar de Querubim


Com grande gosto

Sorri ao contempla-la

Então lhe fiz um gesto

E a tirei para dançar


Eis a bailar

Minha moça interior

Rodopia sem parar

No espelho a se olhar


Nunca a vi tão bela

Com seu mapa a detalhar

Como pintando aquarelas

Pintou a vida para ela


Não há moça mais bonita

Que esta sua interior

Cativa pela essência 

E não por seu exterior


E esta luz que ora reflete

A imagem da calma

Faz flerte

Com o espelho da alma!


Jussara Rocha Souza

Polo norte só é bom para pinguins

 


Se existiu amor se perdeu nos caminhos do adeus, virou ateu, soterrado morreu, em um mar de ambição.

Ficou tão frio que foi morar no Polo norte e com tamanha sorte por lá se congelou, traiçoeiro amor não sabes que ele é capaz de descongelar os mais frios corações e matar as piores ambições.

Sua frieza só o levou a morte, morte dos sentimentos puros, que transpôs a muros, se fez encantador e foi assassinado pelo rancor.

O amor hoje caminha solitário, procurando homens despojados de ódios, que procuram povoar jardins de flores e não armas e pavores, que amam a liberdade de um girassol e que transmitam calor aqueles a quem a vida os esfriou.

Pode estar a seu lado no menino desavisado que a droga o matou, no idoso acamado, no irmão abandonado e no ser que ninguém olhou.

Amor sempre será amor, se você não o conhece vale a pena ir buscar, se você se desiludiu não guarde mágoas dê outra chance ao sentimento, amar é sublime, recompensador e quando é verdadeiro supera a tudo.

Amar por amar é melhor ainda, não deixe o amor esfriar, Polo Norte só é bom para pinguins!


Jussara Rocha Souza

sábado, 25 de fevereiro de 2023

Será esta minha saudade...

 Crônica


Eram dias de lutas, inglórias, mas saborosas no que se propõe


Será esta minha saudade ..


Acordei hoje com muita saudade no peito, era uma saudade de não sei o que.

Como uma melancolia que invade a alma e que desarma a calma, querendo chorar.

Pensei logo, é a idade, vai se ficando mais chorão, passa a lembrar o passado com mais frequência, já não se fala com tanta eloquência, a palavra emudece e o peito fala.

Será que é da idade desistir de lutar, não digo lutar contra doenças, falo de nossos sonhos e ideais.

Desculpe, só são devaneios, acho que é esta saudade de não sei o que me fazendo entristecer.

Gosto muito dos sonhos, aqueles que invadem nosso quarto a noite e interagem conosco de uma forma tão real que acordamos assim saudosos de alguma coisa que não se teve ou que ficou perdido em passados que não voltam mais.

Talvez seja esta minha saudade, da canção, da fala, sorriso ou do brigar entre irmãos, com chutes por debaixo da mesa, os amigos, a calça Lee nos quadris, a camiseta despojada que sem maldade mostrava os seios empinados.

Hoje minha saudade veio através de um sonho, de alguém que vive além, que veio me visitar, deixou gostinho de quero mais e uma recordação dos amigos de juventude, da família, de ter pra onde voltar.

Agora me despeço por aqui, vou por a cadeira na calçada, pintar este "chão de giz" e boba exibir um sorriso gris de quem sorri para aqueles que não conseguem entender o que se diz!


"São casas simples

Com cadeiras na calçada

E na fachada

Escrito em cima que é um lar

Pela varanda

Flores tristes e baldias

Como a alegria

Que não tem onde encostar

E aí me dá uma tristeza

No meu peito

Feito um despeito

De eu não ter como lutar

E eu que não creio

Peço a Deus por minha gente

É gente humilde

Que vontade de chorar"


Jussara Rocha Souza

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Acredite se quiser

 Quem conta um conto aumenta um ponto





Meu pai foi embora de casa quando eu tinha 10 anos, minha mãe enlouqueceu de dor e ficamos só eu e mais três irmãos.

Minha mãe em seus desvarios quebrava tudo dentro de casa, pegava "espíritos", tinha delírios, éramos quatro crianças entre 13 a sete anos, assustados, solitários, com muito medo de tudo e de todos.

Nossa casa não tinha luz elétrica e era iluminada a luz de lampião que fazia com que as imagens dentro daquela casa fossem fantasmagóricas, tínhamos amarrado tampas de panelas nas portas e escondido todas facas da casa, pois minha mãe costumava sair nas madrugadas pelas ruas e muitas vezes atentava contra a sua própria vida e a nossa.

Uma tarde bateram a nossa porta, abri e não vi ninguém, ao olhar para o chão vi um papel dobradinho, era uma corrente de orações, dizia que se você fizesse cem cópias desta corrente a São Judas Tadeu ele te concederia um pedido.

Eu corri para dentro e peguei caderno e caneta e comecei a escrever, dizia que depois de escritas as cópias deveriam ser colocadas nas portas das casas uma a uma.

A oração era grande e eu apenas uma criança que tinha esperança de trazer de volta o pai para casa, meus pequenos e finos dedos já doíam, a casa quase sem luz dificultava a tarefa, eram quase meia noite quando terminei de escrever.

Devido o tardar da hora coloquei todas folhas embaixo do meu colchão e prometi que na primeira hora da manhã sairia para destribuir as orações.

Fui colocar meus irmãos na cama e dar o remédio de minha mãe, de repente um barulho ensurdecedor de coisas voando pela casa, como se um vento tivesse aberto portas e janelas e muitas folhas e galhos de árvores se arrastassem pela casa.

Corri em direção a sala e para minha surpresa as folhas escritas das correntes saíam de baixo do colchão e se arrastavam pelas paredes e chão se debatendo contra a porta principal.

Eu e meus irmãos juntamos todas as folhas e saímos de madrugada e entregamos todas as orações, o que foi aquilo até hoje não compreendo, mas nunca esquecerei.

Acredite se quiser!


Jussara Rocha Souza

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Quanto a ser rara

 



Um dia o amor passou por aqui, fez morada, deu risada, e depois partiu.

Chegou avassalador, roubou vidas, memórias, fez abalos e estragos inigualáveis, fez amor, era amor, era dor...

Doía na mesma proporção que dava alegria, era temporal e no mesmo instante calmaria, sol. Aquietava a alma, acelerava o coração e amava com tal sofreguidão que ao gozar era tanta felicidade que pedia perdão. Perdão por não conseguir conceber que outros seres não tinham conhecido um amor assim, se sentia única, envergonhava-se de sentir tesão, plena, absoluta.

Arrependida, nunca, deixou marcas, cicatrizes fundas, mas quem disse que gosto de coisas rasas.  

Cicatrizes não são somente de dores, são marcas de alguém que te marcou tanto que as tatuou para sempre na pele e na alma.

Hoje sou calmaria, com resquícios de ventania, saudades de felicidades, não consigo ser rasa, apenas gosto de ser rara!


Jussara Rocha Souza 


Uma canção ao vento


 É este vento que insiste a murmurar canções de amor em minha janela, trazendo você de volta, fazendo com que a magia aconteça.

Não posso deixar este lugar, tão pouco negar que você existiu, há um jardim que não me deixa ir, um amor que nunca morreu que brinca em meu íntimo fingindo que não sou eu.

Haverá outra bocas, fingindo felicidades, outros corpos brincando de paixões, inventando emoções, tentando ludibriar saudades,necessidades.

Mas cada boca que beijo é a sua que desejo, não há liberdade para um coração aprisionado por um amor inacabado.Volto para casa, te procuro pelos cômodos vazios, lembro que você partiu em uma tarde de frio, deixando vazio também meu coração, levando contigo minha alma, ficaram então as flores, o jardim e o velho pé de jasmim.

Ficou o gosto de teu beijo em minha boca, o cheiro em minha roupa e este calor na pele que pede e impele a te querer.

Sei que haverá outras bocas, outros corpos, mas sempre voltarei para você, para este jardim e recordações.

Abrirei a janela e vou pedir ao vento que venha cantar, estou morrendo de saudades, preciso que a magia aconteça para que não mais me entristeça. 

Jussara Rocha Souza 


sábado, 4 de fevereiro de 2023

Prosa poética


 


Ela precisava ser amada, tinha fome de vida, romance e emoção.

Não havia nada nela mais importante que o seu coração, sonhava acordada, mandava cartas apaixonadas, seus olhos brilhavam ao lembrar que estava enamorada. Mas a vida não era bem assim, romances também tem fim, mas não queria acreditar, precisava de amar, juras de amor era seu forte, não interessava o lugar, seu amor ia buscar, seja sul ou o norte, com ele iria estar.

Ficava horas a suspirar vendo filmes de amor, torcia pelo casal romântico, sorria sozinha e chorava sem parar quando o filme estava a terminar, era uma romântica incurável, diferente das outras mocinhas do lugar, era intensa, imensa em sentimentos e desejos,  mas lhe faltava o namorado, o dito cujo tão esperado, na janela a suspirar esperava ele passar, arruma o cabelo, ensaia o sorriso, caras e bocas, enfim ele aparece, fica louca, ele a olha de soslaio e o olhar lhe abate certeiro o coração.

O cabra safado, casado, viu a chance de dar o bote, então a moça apaixonada, com ele se envolveu, sua pureza perdeu, não entende porque ele desapareceu, ainda suspira pelos cantos, deseja ser amada, o coração é seu dono e embora não seja mais tão ingênua, abraça-se nua, e a noite sai às ruas e em meio a noites sem lua se dá ao amor por inteiro no puteiro.


Jussara Rocha Souza 


" A única coisa que me dói de morrer é que não seja de amor"

Gabriel Garcia Marques