segunda-feira, 31 de julho de 2023

Carne

 



Um dia alguém rouba tua carne

Dilacera tua alma

Fere com armas sentimentais

Que te levam a morte em vida

Não duvide da maldade alheia

De lobos em pele de ovelhas

A morte te ronda todos dias

Na boca de venenosas línguas

Onde a ira

É resultado de mentes perturbadas

Falas deturpadas

Bailam nos braços de Satanás

E afundam na lama 

Tal qual ratazanas

Cruéis 

Não sabem que os anéis

De nada valem

Sem os dedos!


Jussara Rocha Souza

Carregada de saudades

 


Carrego saudades

Do pé de macieira

Da cumplicidade

Do bocado de felicidade


Os amigos na calçada

Mãos dadas dos namorados

Furtivos olhares envergonhada

O sonhar acordada


Carrego saudades

Da falta de maldade

Do menino no muro

Da casa vizinha

Que invadia minha fantasia


Carrego tantas saudades

Que o peito já não aguenta

Terei que por assim viver

Quem sabe mais uns cinquenta


E então vou fazer diferente

Vou me declarar abertamente

Quem sabe ele também me amava

E por timidez não declarava


São só devaneios

Sintomas de saudade

Daqueles dias de anseios

Vividos na Dom Pedro Primeiro 


O alpendre no chalé

O cheiro gostoso de café

O pé de macieira

E uma jovem menina

A fazer besteiras!


Jussara Rocha Souza

quinta-feira, 27 de julho de 2023

Lírios amarelos

 


Mini conto( porque sonhar faz bem e um amor nos faz viver)


O jardim tomado por lírios amarelos é testemunha desta minha história.

Ana chegara na rua em uma tarde de verão, trazia um ramalhete de lírios nos braços e uns poucos livros na mão.

Seu Antônio o antigo morador da casa havia falecido alguns anos atrás, dizem que não haviam parentes próximo e que a casa teria sido adquirida por Ana através de um procurador. Coincidência ou não ela parecia fazer parte daquele lugar, mantinha os mesmo hábitos do antigo dono, passava horas no jardim a cultivar seus lírios, ou sentada no banco a ler livros.

Eu morava na casa em frente e nunca vi uma só visita, um namorado, um amigo, ela parecia uma mulher muito solitária, os anos passaram, estações chegaram e foram embora e o cabelo de Ana então grisalhou como os prateados dos plátanos nas ruas da cidade.

Por vezes escuto uma melodia vindo da casa, um piano chora uma canção que faz doer o coração, esta noite a canção se repetiu por toda a madrugada.

Ana foi encontrada morta, sentada em uma poltrona, rodeada por fotos dela e seu amor em cenas de cumplicidade, ao colo um livro com a dedicatória: Para sempre teu, Antônio!

Na vizinhança comenta-se que em noites de lua cheia, um piano toca melancólico e o perfume dos lírios amarelos é sentido em toda rua, no banco do jardim uma sombra de dois jovens apaixonados é vista na parede da casa agora abandonada 

Enfim Ana e Antônio desfrutam de um amor eternizado!


Jussara Rocha Souza

Meu velho par de sapatos

 Crônica



A vida e suas várias encenações, não há remake na vida, não há voltar no tempo.

A vida pede urgência nas responsabilidades e paciência nos problemas, parece contraditório mas é maturidade.

Nada é perfeito, mas pode ser bonito se o coração se unir a razão e realizar o certo, a vida não permite ensaios, é entrar em cena e atuar da melhor maneira.

E  assim que comecei a minha história de vida, encenando a vida real, então encontrei meu amigo que me guiou por vários anos: Meu velho par de sapatos.

Havia um caminho a seguir, difícil, repleto de pedregulhos, o sapato era velho e as pedras faziam machucados profundos em seus pés. A noite ao chegar em casa colocava os pés na salmoura quente a bem de aliviar as dores e poder dormir.

Durante muito tempo foi assim, mas ele continuava, havia dias de lágrimas, angústias e insatisfação mas logo pensava que ele tinha sapatos, um caminho a trilhar e um trabalho que lhe sustentava.

Hoje ele vive tranquilo, e quando algo lhe abate ou desanima, ele vai no armário e calça os velhos sapatos, caminha o caminho de pedras e na volta sorri pra si mesmo e agradece.

Voltar ao caminho de pedras nos lembra de quem fomos e o que hoje somos, sejamos autores de nossa própria história escrita por vezes até com sangue, mas que no final nossos pés machucados deitem com mãos limpas e uma consciência tranquila!


Jussara Rocha Souza

Sob um céu de blues


 


Estive flertando comigo

Revivendo histórias 

Namorando o antigo 

Revirando gavetas das memórias 


Ao som da guitarra

Bailam esvoaçantes cigarras

Te vejo entre a multidão

Flerto sem pudor no coração 


Andei por aí 

Assim meio perdida 

Nem sabia que vivia

Até ouvir a melodia


Voltei pra casa entristecida

De mim roubei a vida

Quando ao som 

De "sob o céu de blues"

Revi aquela menina


Outro dia voltarei

Quem sabe o encontrarei

Cantando canções ao luar

Escondido a me olhar!


Jussara Rocha Souza

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Visceral




Lá de onde venho

O vento passa cantando

Traz notícias de longe

No bico de um pássaro viajante

Fala de um vento forte

Que veio lá do norte

Contou-me ao pé do ouvido

Que um moço lhe fez pedido 

Mandou recado para mim

Disse para que eu escute

A canção que o vento trouxe

Conta a história de dois amantes

Se amando

Porém, distantes

Leva de volta o meu pássaro

Pedaço do meu coração

Para que ele sobreviva

A esta morte em vida

Que fez do amor a sua prisão!


Jussara Rocha Souza

Serei pra sempre tua




O inverno chegou

Trazendo frio a alma

Saudade que teima

Em não ir embora

A vidraça branca de neve

Não deixa ver mais o jardim

Os olhos choram

Violetas desbotam

E a dor abrasa em mim

Não consigo mais chorar

Há muito meu pranto secou

Tal a roseira

Que o vento desfolhou

Seremos pra sempre

Um do outro

Embora vivendo

Em outros corpos

Minha alma nua

Fez morada na sua

Serei pra sempre tua!


Jussara Rocha Souza

Poema abusado




Deixe que minha pele fria

Encoste em teu corpo quente

Então aconteça a magia

Destes pensamentos eloquentes


Serão desvarios

Engodo da solidão

Ou o congelante frio

Atiçando coração


Mas não me enganas não

São só desculpas tolas

Para mascarar o tesão

Contido nesta moça


Desculpem o poema abusado

Do corpo desavisado

São delitos apaixonados

Não há porque ser pecado


Jussara Rocha Souza

Que minha loucura seja perdoada

 



Busquei no tempo, a menina de outrora...

Encontrei nela a mulher de agora

A casca envelheceu

Mas a árvore por dentro continua frondosa

Uma jovem senhora

Tentando a cura

E que minhas loucuras

Sejam perdoadas

Em romances desavisados

A vida sem ensaios

Lindos! vivenciados

Me permito sim

Viver assim

Sonhadora por natureza

No amor vejo beleza

Se irei me arrepender

Talvez

Mas quero experimentar

Outra vez!

domingo, 16 de julho de 2023

A força(oração)



Minha força vem de ti, Pai

Quando de dor

Minha alma se esvai

Sinto a presença de teu amor


Na desesperança

Tive falta de fé

Como criança

Te odiei, bati o pé


Mas Ele compreendeu 

Meu sofrimento

Sua mão estendeu

Me trouxe acalento


Que estes meus versos simples

Sejam orações

De gratidão e pedidos 

Acalmar os corações 


Embala minha alma

Segura minha mão

O teu colo me acalma

Nada seria sem teu amor

Deus da Criação!


Amém


Jussara Rocha Souza

quarta-feira, 12 de julho de 2023

Interior



Poesia não é só amor

Poesia também é dor

Grito mudo

Ausência de si, luto


Há na poesia

Um quê de melancolia

Um socorro urgido

Deveras doído


Carrego dores em palavras

Minhas ou de outras lavras

Sentimentos ocultos

No íntimo sepultos


Poesia é caminho sem volta

A quem a alma revolta

Fez de si cartas ao interior

Carregadas de dor


Não serei uma só alma

Quem sabe algama

Palavras soltas ao vento

Hoje me vem a contento


Jussara Rocha Souza 


Nota do autor: "Agalma é algo ao redor do que se pode atrair a atenção divina, uma espécie de “trampa” para os deuses. Agalma está na coisa. Lacan chama a atenção para o fato de que o que vai nos interessar aqui, em especial, a respeito do agalma é o fato de ser algo que esta no interior."


Urgido:Ser necessário sem demora, não permitir delonga (ex.: urgia uma reação rápida).

quinta-feira, 6 de julho de 2023

Poeta de mim

 Sabe porque faço poesia?

Porque ansiei minha vida toda por elas. Como não tive quem as fizesse para mim, resolvi eu mesma ser poeta de mim!


Jussara Rocha Souza


terça-feira, 4 de julho de 2023

Renascimento




Haviam muitas teias

Cobrindo o brilho do seu olhar

Devagar retirou as meias

Finas, transparentes, deixou se mostrar


Na realidade eram seus olhos

Que não queriam ver

Haviam ferrolhos

Em seu ser


Enquanto se despia

Um calafrio na espinha

A teia se desfazia

E a mulher renascia


Há muito não se olhava

Quase não se reconhecia

A lágrima então molhava

A pele da menina recém nascida!


Jussara Rocha Souza

A todas mães que foram deixadas pelo caminho

 A todas mães que foram deixadas pelo caminho



Você nasceu, sua mãe te tomou nos braços e chorou.

Emocionada, ainda doída, teve medo de não saber cuidar de você de modo correto, mas o amor ensina.

E ela te amou tanto que superou dores, medos, emoções, quase morreu de angústia quando você adoeceu, não arredou pé um segundo do seu lado e sorriu aliviada ao te ver curada.

Foram tantos momentos lindos, primeira palavra, primeiros passos, primeiro dia de escola.

Adolescência, medos, angústias, o primeiro namorado, a perda da virgindade, as dores dos desenganos, o futuro, insegurança e a mãe sempre lá com sua mão agarrada, minha menina, minha amiga, virou mulher e como eu também é mãe.

Mas você mudou, é, as pessoas mudam, e partem, deixam a mãe pelo caminho, e a mãe chora de saudade, e mesmo triste torce por tua felicidade, a idade sobrevém a todos, tomara que um dia teus filhos também não te deixem pelo caminho.

Perguntam se me arrependo de todo amor dedicado, claro que não, o abandono não foi por negligência minha, talvez excesso de amor, mas nunca me arrependerei de ter sido tua mãe.

E o caminho sempre tem dois viés...


Jussara Rocha Souza

domingo, 2 de julho de 2023

Rio da vida


 


Ando por ruas prateadas, iluminadas de luar...

Calçadas lilases, com aromas a exalar,

Tenho por teto um céu de estrelas e um brilho no olhar...

Busco sorrisos amigos para dividir alegrias, cantares

Cair ao chão de cócegas 

Com a folha despercebida que na roupa te cai 

Não busco amores

Pois sou ele

Já conheci as dores

Dissabores

Fiz de mim peneira viva

No rio da vida fui extraída

Deixei no fundo  areias e britas

Trouxe a tona 

Vida!


Jussara Rocha Souza

Você não precisa se diminuir para caber no mundo de alguém...

 Crônica

Você não precisa se diminuir para caber no mundo de alguém...


Passei a vida tentando me fazer caber dentro do mundo dos outros.

Não era eu, eu era insegura, necessitava de amor, precisava sentir que era querida, mas não era. Eu fazia a vontade deles, chorava escondido e sorria entre eles, até que acordei.

E quando aconteceu? Quando neguei o primeiro favor, quando disse não, quando me olhei no espelho e não me reconheci, a vida tinha passado e eu não tinha vivido, eu morri um dia de cada vez sofrendo a dor do outro, correndo para satisfazer o outro, era sempre o outro, quando me impôs eu vi que era só.

Sobraram uns poucos que realmente me amavam, eu continuo amando a todos, porque meu amor era verdadeiro, mas não preciso mais me fazer caber no mundo dos outros, porque eu sou meu mundo e ele é tão bonito e verdadeiro que atrai gente boa e de bons sentimentos!


Jussara Rocha Souza