segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Possua-me


Ainda que eu ande por caminhos distantes,

Minha alma leva-te consigo

Dois eternos amantes

Perdidos, errantes


Tu fez morada em minha casa

Neste meu peito

Pássaro sem asa

Cúmplices de um leito





Bebo de tua boca

Molhada de rio

De teus olhos

De desejos no cio


Me recolho

Em noites sem lua

E no breu

Completamente nua

Deixo que me possuas


Jussara Rocha Souza

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Vertente

 Tenho uma vertente em meu coração,

Que brota em meus olhos...

Formando rios,que deságuam em minha solidão


Jussara Rocha Souza


A lavadeira ( mini conto)

 



Todos dias ia para a beira do tanque, separava peça por peça, batia, esfregava.

O tanque ficava a beira de um muro em um corredor onde passavam pessoas que moravam neste lugar.

Então ela lavava e cantava, a barriga roncando de fome, e ela esfregava, batia a roupa, com lágrimas nos olhos, ao passar alguém sorria, no beco todos comentavam sobre ela, a fome a consumia, os ossos lhe sobressaem a pele e ela cantarolava. 

De vez enquanto bebia direto da bica água, enganando o estômago que já doía, o varal coberto de roupas, as costas vergadas pelo desgaste na coluna e ela sorria.

Dizem que ela faleceu recentemente, estava a beira do tanque e teve um mal súbito e morreu, o rádio tocava uma canção e seus lábios estavam entreabertos como se sorrisse.

Nunca a esquecerei, seu sorriso, o branco de seus dentes e da roupa quarada ao sol, da mulher que enganava a fome com água da bica, que cantarolava e sorria enquanto um sol escaldante em suas costas ardia.

Dizem que escutam no corredor barulho de água correndo e que uma canção é ouvida débil, frágil e bonita, por vezes dizem escutar risos, será ela que no seu tanque está a lavar, misturando lágrimas com a água da bica para ninguém notar.


Jussara Rocha Souza

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Somos páginas



São linhas suaves, tênues de saudades...

Mora nelas a felicidade,

Caminhos outrora de amenidades...

Onde o sol sorve do rosto o gosto de orvalho da noite passada,

Do canto da passarada...

Do milagre da vida nascida,

De um útero do ventre ou coração

A vida assim surgida

São memórias

Contadas histórias

Passados construindo presentes

Futuro nascentes

Outros já ausentes

Tijolos de nossa construção

Fortes

Erguidos sobre o sol de verão

Frágeis

Em noites de lua

Contadas sob a luz trêmula do lampião

Somos 

Páginas deste livro

Chamado Vida

Ora feliz

Ora sofrida

Mas carregado de esperanças

Nascemos crianças

E assim morreremos

Crianças

São linhas suaves

Tênues de saudades!


Jussara Rocha Souza

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Nas folhas do chá




Entrava na livraria, sentava-se em uma mesa e pedia um chá, pegava um livro e bebericando o líquido quente ficava ali por horas.

Todas as semanas ele aparecia, era um homem grisalho, pele morena, um homem maduro e comum, tinha os olhos de mar, marejados, tristes, quase lagrimosos.

Acostumei a rotina daquele estranho e quando não vinha, sentia sua falta, o frio aumentara bastante naqueles dias, ele então chegou tirou as luvas e pediu o chá, foi até às prateleiras e procurou um livro, resolvi eu mesma servi-lo.

Seus olhos pararam nos meus e eu quase sem ação vi que o mar revolto de seus olhos azuis acinzentados hoje estavam mais brandos, sorri e voltei a meu lugar.

Ele bebeu o chá , colocou as luvas, pagou seu livro e saiu, mas algo me diz que ele vai voltar e que hoje foi diferente. Tenho sonhado todos os dias que ele entra, bebê o chá e então me convida pra sair, são só imaginação de uma moça romântica, apaixonada por um moço estranho, com olhos cor de mar.

Afinal trabalho em uma livraria, e aqui o que não falta são sonhos, hoje o frio voltou, vou por mais chás na caixinha, quem sabe ele venha.

Preparei novos livros, românticos claro, meu Deus! É ele, está me olhando, hoje seus olhos estão claros, vivos, quem sabe hoje ele me convida para velejar neste mar de aventuras que é o meu e o seu coração ou beber emoções nas folhas de um chá!


Jussara Rocha Souza

Serenata


 A cortina se fecha, as estrelas entram em cena e convidam a senhora lua para acompanhar.

Em uma janela uma moça suspira, saudades de alguém que está longe.

Então as estrelas resolvem iluminar o terreiro e uma canção maravilhosa se faz ouvir, é dona lua cantando uma cantiga de amor, de repente os passarinhos acordam e soltam acordes, juntos a grilos e pirilampos que com suas lanternas enfeitam o ambiente.

A moça emocionada agradece tão linda serenata e enfim adormece, os demais se recolhem também, dona lua e as estrelas sorriem e saem a procura de outros céus escuros para iluminar até que o sol nasça e a cortina volte a abrir!


Jussara Rocha Souza

sábado, 2 de dezembro de 2023

Inspiração

 Não quero ser egoísta, mas para que eu não desista, me dê aqui um beijo, daqueles que atiça o desejo e faz o corpo tremer.

Não quero ser egoísta, mas não te deixarei ir, farei café e convidarei visitas, vou te entreter até perderes a vista e que ao anoitecer para ficar insista.

Não serei manipuladora, apenas sedutora, assim sutilmente te fazendo ficar, quem sabe te recito um poema, daqueles que façam com que tremas e assim  assim, emocionado nos meus braços da vida te esqueças.

Mas de ti apenas o que quero, é amor em liberdade, de voltares só se sentires saudade, ou ires embora quando não for mais amor, porque meu egoísmo de te ter só para mim, é coisa de apaixonado mas nunca obrigado.

Hoje acordei de ti saudosa e como gata manhosa, liguei para um bom dia, de repente a campainha, desculpe meus leitores, vou desfrutar a companhia.


Jussara Rocha Souza 


Esta prosa é fictícia, mais bem que poderia ser verdadeira kkkk

Acordei inspirada!!!!

Sonhos

 Sou feita de sonhos e é neles que componho a minha canção!


Acrílico sobre madeira


Jussara Rocha Souza


domingo, 26 de novembro de 2023

A viagem




Apressa-te, a vida passa muito rápida, e o trem não demora a passar.

Há muita coisa para ser vivida, você já parou para ver o mar, com sua cor e barcos a navegar, ondas e peixes nele a morar. O mar com seus monstros marinhos, piratas e navios fantasmas, história de amor e sereias.

Olha quanta vida vivesse observando o mar, tem areia, sol, e tantas belezas nele que já me encanta.

Mas seguimos nosso caminhar, olha, estás a ver aquele jardim, quantas flores, diversas cores, vários aromas, hum, quanta beleza neste olhar e apressa-te um pássaro azul pousou logo ali, que lindo e como canta, tantas dádivas apenas neste caminhar.

O mundo está corrido, trabalho, estudo, família, dificuldades, saúde, são tantos problemas, tantos afazeres que mal dá de observar as maravilhas gratuitas que se tem ao redor.

Aff!!! Estou tão cansada, já vem a noite como ver o mar, jardim, flores, olhe para cima, talvez as estrelas e a lua te recompensem e te façam sorrir, mas se por acaso o cansaço te vencer, vou pedir para Deus colocar sonhos lindos no teu adormecer.

Dorme menina, o trem não demora passar, e há tanto para viver, não a deixe escapar, para que não tenhas motivos para chorar quando a viagem terminar!


Jussara Rocha Souza

Permita-se viver quantas vidas quiser




Há quantas vidas em você? Eu digo que no ponto de vista médico, uma só, no meu ponto de vista, muitas, quantas eu quiser.

Sim, pois eu já morri muitas vezes e destas mortes renasci, e quando renascemos a vida vem mais forte, plena com a certeza de querer ser vivida.

Você lembra daquela decepção amorosa que você achou que ia morrer, que nada tinha mais graça ou cor? Pra você era o fim, nunca mais amar, nunca mais querer ninguém e hoje você até sorri ao lembrar daquele tempo. E então você encontra outro motivo bem mais forte para viver, uma mulher linda na frente do espelho lhe diz, vá garota, tu és muito mais do que isto e então acontece, você volta a renascer.

Tal qual a árvore "morta" no jardim, um dia você abre a janela e meio cabisbaixo olha a árvore e então percebe um broto naquela que todos julgavam morta, é a vida lhe mostrando como se brotar de novo.

A vida tem muitas vidas, mortes e renascimentos, tudo que precisamos é lutar, porque viver não é fácil, é uma eterna luta cotidiana, e quando nos vimos abaladas por mortes de entes queridos, amigos, nos parece no momento não conseguir suportar.

Então a sua outra vida entra em ação e te faz nascer de novo, talvez não como eras antes, mas viva, se reconstruindo, se reformulando, se dando direito de viver de novo.

Sabe aquele amor do passado, que você pensou nunca mais encontrar? Ele está a procura de você e querendo viver uma nova vida com você, você não acredita, então sonhe, sonhos viram realidades e pensamentos felizes nos trazem alegrias.

Apaixone-se, seja você mesmo, cante mil vezes a mesma canção se te dá alegria, e viva quantas vidas quiser.

Portanto meus amigos (a) permita-se nascer de novo, existem sim muitas vidas e você encontrará aquela que irá te fazer feliz!


Jussara Rocha Souza

Meninas, as convido a pular a janela!




Eu ia postar uma poesia sobre  janelas, inspirada em um escrito de Mia Couto.

Mas durante a escrita me venho uma voz interna que dizia: Vamos, pule a janela!

Então resolvi mudar o texto, e falar desta vontade que muitos tem de pular a janela, vejo mulheres cansadas, maltratadas, sem condições de dar a volta por cima e assim terem que aceitar por medo, vergonha ou finanças uma vida sem sonhos, do dia a dia de trabalhos e humilhações.

Gosto de janelas, elas me inspiram, foi através da janela de meu cérebro que procurei uma nova vida, um novo mundo, não aceito ser Amélia nem na vida e nem na canção, falo não só por mim, falo por tantas escravizadas, abusadas, falo por meninas de meu passado ensinadas pra serem casadas, a servir o marido, sem gostos, desejos.

Falo pelas mulheres que são proibidas de estudar, dadas em matrimônio aos onze, dez anos de idade e mortas durante a noite de núpcias com suas entranhas dilaceradas.

Hoje pulo a janela e tenho voz através de minhas palavras, com direito a escolher quem quero amar, tenho vergonha de machos, machistas, disfarçado de autores em letras de musicas abusivas, religiosos, pedófilos, gente que denigrem a mulher e ferem seus direitos.

Se sou feminista? Empoderada? Não sei, sou mulher e como tal não posso mais abrir esta janela e apenas ficar olhando por ela, hoje convido a todas mulheres que junto comigo pulem a janela, destranquem seus medos, alforria seus desejos, ajude a libertar quem precisa, liberte-se.

Eu posso amar, ser casada, ser dona de casa, mãe, ou o que eu desejar ser, mas com respeito a minha pessoa e identidade.

Eu passei quinze anos por detrás de uma janela, trancada, apenas olhando pela vidraça, uma mulher acuada e com medo não consegue se libertar até que as correntes se quebrem e ela decida lutar.

Eu quebrei minhas correntes, me alforriei e até hoje luto pela minha libertação e de tantas outras, aprisionadas por uma sociedade machista, que acha que mulher nasceu para ser subserviente e para servir.

Meninas venham, pulemos a janela do preconceito, do machismo e de uma sociedade hipócrita e medieval, 

hoje eu escolho ser eu e ser feliz!


Jussara Rocha Souza

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Entardecer na orla

 Orla da Henrique Pancada

Acrílico sobre madeira



Jardim

 Meus olhos buscaram no interior de minha alma a beleza de um espírito calmo!


Garrafa decorada( garrafa de suco)

Jardim


Jussara Rocha Souza



Casa na Neve

 Acrílico sobre garrafa( garrafa de suco de uva)



Serei sempre eu mesma

 Um dia você percebe que aos poucos estão te calando, você não tem mais voz ativa dentro de sua casa.

Não é mais importante para os outros como achava que seria.

Que quando o doente é você os outros não estão nem aí, e que ninguém deixa de fazer nada por sua causa.

Mas quero deixar claro que pouco me importo com sua opinião, que uma casa não me é importante, importa para mim o que fui para mim mesma, fazendo bem sem ver a quem, amando sem medida, sendo sempre receptiva mesmo com quem não é comigo.

E que amor, carinho, consideração não se pede, quem tem por ti te dá gratuitamente sem necessidade de pedidos.

Pois como dizia Frida Kallo: _' Se tiver que pedir não é amor!'

Quero mesmo que se foda, as convenções, os falsos moralistas, estar doente não significa não viver, pois a falta de vida te faz mais doente, te mata todos os dias aos poucos.

O que tinha que ensinar para meus filhos, os fiz através de exemplos, amor, muitos abraços, histórias e dignidade.

Hoje tenho grandes histórias a contar, reais, doídas e doidas, talvez não tenha feito tudo que quis nesta vida, mas fui feliz, amei muito, vivi e vivo sonhos, realidades e fantasia, passei muito trabalho, sem ou por escolhas.

Me superei, estudando, pintando e escrevendo, sou muito eu, fui a ovelha negra da família e talvez continue sendo, porque não vivo de convenções ou formalidades.

Ninguém me sustenta e nos piores momentos poucos me concederam um prato de comida, hoje não me falta o alimento e dele alimento outros, sou o que sou, goste quem gostar.

Sabe porque escrevi isto? Porque quero te dizer, que ninguém pode te calar, te fazer viver o que não quer, você é dona de você e tenha sempre o direito de decidir sobre tua vida.

Se tiver que morrer tenham certeza que engasgada não vai ser, quando emudecer, escrevo e se não poder escrever farei gestos, mas não me calarei.


Jussara Rocha Souza

Esvair da vida

 Vejo a vida se esvaindo

Tal pó fugindo por entre os dedos

Me pergunto se terei medo

Não sei, mas sinto que estou partindo

Ninguém quer morrer

Luto para não esmorecer

Há coisas que não nos pertencem

Vivemos sem merecer

Olho na vidraça

As flores

O jardim

Não quero os deixar

As lágrimas começam a molhar

Esqueci que não posso chorar

Volto a sorrir

Aínda estou aqui

E por enquanto

Me basta!


Jussara Rocha Souza


segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Ninho vazio




Um dia todos irão embora

A casa fica vazia

Não há brinquedos espalhados

Balbúrdia 

Tento não ficar triste

Pois os ensinei a voar

Serem livres

E ter um porto seguro

Se quiserem voltar

O silêncio me assusta

Pois vivi sempre com vozes

Chegou a hora

E me pergunto e agora?

Fiz tantos planos para este momento

Mas não sei caminhar sozinha

Agora é recomeçar

Reaprender a andar

E viver alegremente

O tempo que me restar!


Jussara Rocha Souza

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Milagre


 A fumaça da chaminé espalhava-se pelo lugar

Deixando uma áurea de mistério na paisagem

Enquanto isto, compõe o cenário, 

A chuva molhando as folhagens...

Lá dentro o calor dos corpos aquecia a vida

Que morna e suave desfrutava deste milagre!


Jussara Rocha Souza

Luar


 Acrílico sobre madeira


Jussara Rocha Souza 

Ocaso

 Acrílico sobre madeira



Te quero



Estou cansada de invernos tristes e cinzas, quero primaveras coloridas, risonhas com gosto de sonhos, não quero ser enfadonha, mas não há mais lugar no meu coração para solidão.

Quero o calor dos abraços, o beijo e os cansaços depois de um amor, quero ser o que quiser ser, e nesta aventura tão minha, ser o meu próprio prazer. Não quero frases feitas, quero cama desfeita, olhos nos olhos e uma cumplicidade sem igual, pois se te parece banal, para mim não há valor igual, hoje quero ser clichê mesmo, sair deste marasmo, dançar contigo um bolero e sem vergonhas, dizer: te quero!


Jussara Rocha Souza

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Inverno


Inverno

Pintura acrílico sobre madeira 


Alguém a me esperar

 Crônica 





Quando eu era menina, lá pelos 17 anos gostava de ouvir uma canção que dizia assim; 

'É saber com alegria

Que além, muito além

A espera de mim

Existe alguém'


E hoje no auge de meus 62 anos continuo a cantar a canção e imaginar que alguém em algum lugar espera por mim.

É tão gratificante para o coração sentir que tem alguém a nos esperar, que alguém pensa em nós, que de alguma forma nossos sentimentos estão vivos, e de imaginar alguém a minha espera, o coração dispara, dá frio na barriga e o rosto cora.

E então me pego sorrindo sozinha, imaginando se alguém neste momento lendo minha crônica também sente que alguém o espera, que neste momento imagina ele(a) a sonhar com a volta!

Não importa a idade, sonhe, imagine, relembre velhos amores de juventude que lhe trouxeram alegrias não com intenção de tê-lo novamente, mas sim de reanimar o espírito.

Todos somos capazes de amar e o amor como dizia Belchior : 'Viver é melhor que sonhar

Eu sei que o amor

É uma coisa boa' 

Sim, o amor é a melhor coisa que existe, então sonhe menina, não importa a idade, pense que em algum lugar alguém te espera, fantasie seu amor, mas nunca perca o sentido de viver.


Quem sabe hoje você irá vê-lo, ou naquela esquina vão se encontrar, ou quem sabe ele(a) neste momento está pensando em você lendo esta crônica.

Ou quem sabe ele está agora nesta canção, só sei que eu não desisto de sonhar e sei que em algum lugar algum está a me esperar.


Jussara Rocha Souza

Poema




'De repente, a gente vê que perdeu

Ou está perdendo alguma coisa

Morna e ingênua

Que vai ficando no caminho

Que é escuro e frio, mas também bonito

Porque é iluminado

Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás'


Trecho da música Poema, escrita por Cazuza e gravada por Ney Matogrosso 


Também me vejo perdendo pelos caminhos alguma coisa morna e ingênua, não quero ser dura, não quero perder a ingenuidade de meu coração.

Mas há um vazio tão grande, uma desesperança, conhecer a verdade nos torna sábios, a verdade é bonita mesmo cruel, mas também pode matar...

Hoje acordei com medo, das pessoas, deste mundo cruel que mata seu irmão, quanta maldade, vaidade, Deus não criou religiões, foi o homem que as criou e assim separou gente de gente e hoje se tornaram estes animais que vemos todos dias.

Estou com medo da humanidade, de seus julgamentos e condenações, estou com medo do mundo, medo de viver.

Estou com medo deste vazio que mata minhas esperanças, medo do egoísmo que tem separado famílias, ganância, governos, estou com medo desta dor que enclausura e destrói o amor!

Estou com medo de não mais haver poesias, pois a desesperança faz a depressão e assim por consequência o suicídio, homem está matando homem e em nome de quê, de quem?

Genocídio mundial de sentimentos, muito triste, mas o mundo virou um mar de sangue, poder e ganância!


Jussara Rocha Souza

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Outonal

 



O quintal amarelo pelas folhas caídas, me avisa, o outono está partindo...

Arrumo a mala, olho pela vidraça, a paisagem está linda, caminho até a porta, olho mais uma vez para cama em desalinho, sorrio entre lágrimas, lembro de nois dois no ninho.

Vamos outono está na hora de partir, o inverno está chegando e com ele os dias cinzas, nublados e a chuva que teima em molhar meu rosto nas madrugadas.

Abro as gavetas da saudade e tiro meu cachecol, ele me conta histórias de nós, sinto um arrepio, teu beijo na nuca, devo estar maluca, tento fechar a gaveta, arranco o cachecol, não quero sentir saudades, não quero saber de folhas amarelas, invernos, outonos...

Me enrosco em meus braços e sussurro para mim, você partiu, não há mais estações, então desarrumo a mala, fecho as gavetas dentro com o velho cachecol, na vitrola o disco repete sem parar "As rosas não falam" adormeço então a soluçar!


Jussara Rocha Souza

Amantes

 A chuva batia na vidraça, sob lençóis amarrotados, descansavam um par de xícaras vazias.

Rastros dos corpos que ali  estiveram. misturado ao barulho da chuva ouço a água do chuveiro, amantes se dão por inteiro!


Jussara Rocha Souza


Vida, me empreste alguém




Olá vida poderia me emprestar alguém, ando tão sozinho, preciso dividir abraços, cantares, cansaços.

Dividir memórias, lençóis amassados e beijos apaixonados, chorar de tanto rir até no chão cair.

Não precisa ser para sempre, precisa só ser intenso, imenso, querer apaixonar-se e de amor morrer, porque amar é morrer todos dias nos braços daquele que me tem.

Vida me empreste alguém, preciso para chamar de bem, beber de vida na boca de um beijo e então exaurido de emoção dar vida a meu coração.Depois do amor descansar em teu colo, como criança no seio da mãe, satisfeito, amado, não precisa querer ser minha ou eu ser teu para sempre, porque neste mundo ninguém pertence a ninguém, somos almas emprestadas pela vida.

Portanto vida, podes me emprestar alguém?

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Cantar


 


Tenho estrelas no olhar...

Que me levam a sonhar,

Ruas, estradas...

Caminhos de luz 

Flores e matas

A desvendar

Escuto uma Janis

Em meio canteiros de anis

E vivo assim aventuras

Dentro de minha loucura

Que sadia

Minha luz irradia

Então sorrio

A este céu azul

Que me cobre

De meus temporais

Seguro meu pranto

E canto!!!!


Jussara Rocha Souza

Há flores em tudo que vejo




Tenho ares de saudade, perfume de felicidade...

A primavera me faz florida, cura feridas e me faz florescer.

Não é fácil ser inverno, mas é nele que apesar de dias invernosos me faz de dores, manter viva minhas raízes.

Hoje lendo Quintana, me olhei no espelho na vida, ah! Jussara, quanta cicatrizes, e como elas voltam a sangrar quando sem querer a água volta e faz ressaca no mar.

Não é fácil enfrentar a si mesma, porque o espelho material reflete a imagem do corpo, mas o espelho da alma pode até matar.

Tenho cuidado de mim, tenho marcas profundas, não são exageros, um dia foram profundos desesperos, mas hoje minhas raízes criaram galhos, verdes, folhosos e então começaram a florir.

Me vejo nos olhos tristes de meu pai, e os compreendo, também começo a compreender a amargura de minha mãe, mas não sou eles, tenho minha própria história, e faço diferente.

Obrigada Cecília, Quintana, Florbela, Caio entre tantos outros, vocês me fazem florir e mesmo quando sou Augusto dos Anjos, Lupicinio ou Nelson ainda vejo beleza na dor.

'Há flores em tudo que vejo'

Talvez meu leitor hoje esteja vivendo dias cinzas, tenha fé, a primavera não demora a chegar!


Jussara Rocha Souza

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Madrugada




Escuta, ouves agora, são passos na calçada, em breve o dia amanhece.

Vem, junta-te a mim, saboreamos juntos o gosto da magia das madrugadas, onde me dispo de todo meu ser e me entrego ébrio de prazer nos braços teus.

Não me perguntes de vida, nomes ou residência, nem questiones sobre decência, porque hoje sou teu, sem nomes, rostos ou moradias.

A música toca ao longe, algo suave, noturno, te convido a dançar, então esquecidos do nu de nossos corpos, pelas calçadas saímos a rodopiar.

Vamos, corra, já é manhã, o sol começa a lamber as gotas de orvalho, bêbado de felicidade, gozo do amor de tua boca, não chore, em breve será madrugada de novo e de novo poderei ser seu, sem nome, rostos ou moradias até que venha a raiar o dia!


Jussara Rocha Souza

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Bosque encantado




Quando a lua aponta no céu, por entre árvores, ela o espia ao léu, andarilho em busca de um novo caminho.

Corpo nu, a espera da amada, que surge em meio a relva, totalmente desalmada.

Arranca seu coração, que desprovido de auto estima, se entrega a morte do amor.

Ó minha amada, que surges dentro da noite estrelada, alma perdida pra mim encontrada, que me arranca vísceras e as leva pela madrugada me deixando assim em completa nudez da alma.

Sou teu escravo, doido, doído, arrebatado de prazer, como nunca houve com outro ser, lá vai alto a noite, a lua envergonhada com tamanho balé sensual entre os amantes se esconde atrás do mirante, então em uma profusão de corpos diante do êxtase final adormecem. 

O dia amanhece, no bosque a névoa se dissipa, ficaram apenas as árvores de testemunha, não sei se foi verdade ou mentira, perguntei ao luar, ele então me respondeu: experimente a fantasia de amar!


Jussara Rocha Souza

domingo, 24 de setembro de 2023

Vazios

 Eis um castelo, com móveis, quadros e retratos...

Belo, imponente, tem de tudo, menos sentimentos.

Fantasmas choram, pergunto eu, porque uma lágrima me cai, neste momento!


Jussara Rocha Souza

Tribunal da morte



Em um porão escuro e fétido divido restos com ratos e baratas.

Nunca soube quem era meu algoz, ele tinha o rosto coberto e botas pesadas, nunca falou uma só palavra, mas me matou com todas formas de abuso.

Não sei por quanto tempo fiquei aqui, só sei que não sei mais quem sou, minha mente está confusa, não sei se é dia ou noite, anos, sinto sede, por vezes tomei urina, estou doente.

Quando ouço o barulho da porta já não luto, as visitas tem escasseado, estou tão imunda e magra que mesmo um desgraçado torturador já não tem mais prazer em me estrupar.

Eu acredito em Deus, mas quem é mesmo Deus? Cada dia mais vou perdendo os sentidos, passo horas a dormir, as refeições também escassearam e estou com medo que os ratos me ataquem, pois não há comida para todos nós (ratos, baratas e pequenos insetos)

Queria um desfecho lindo para te contar, com salvamento e alegrias no final, mas não houve, meus ossos foram encontrados durante uma demolição, minha pele abriu feridas e não sei se morri de inanição, tétano ou leptospirose.

Mas posso te contar que antes de tudo isto eu era uma moça normal, com namorado, sonhos, uma família, porém o carrasco chegou como o ladrão, no início levou meus pais, segundo eles meus pais escondiam certos documentos, mas desde o primeiro dia os olhos frio de um deles me congelava o sangue.

Então ele voltou e disse que eu era como meus pais uma pessoa que não podiam confiar, disse que eu teria que prestar esclarecimentos e então me levou até aquele porão.

Soube que muitos foram encontrados como eu, apenas ossadas, outros nunca foram encontrados, mas me pergunto até hoje, por qual tribunal fui julgada e condenada a morte? 


Jussara Rocha Souza

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Você é fonte de luz( auto ajuda)

 



Somos seres humanos por vezes não tão humanos, as atrocidades do mundo falam por mim. Mas somos dotados de uma consciência, podemos usufruir do livre arbítrio, salvo pessoas com deficiência mental que não tem como discernir o bem e o mal.

Portanto somos livres para fazer o que quisermos, mas será que podemos fazer tudo o que quisermos?

Sim, desde que suas atitudes não prejudiquem o próximo, então vamos escolher ser luz, tem pessoas que pensam que ser luz, é ser alienado, bobo, sem pensamento crítico.

Está longe disso, ser luz é iluminar seu próprio caminho e poder espalhar este aprendizado ao caminho do próximo, levando amor, bondade, humildade e o estender de mãos a seu semelhante.

Eu escolhi ser luz depois de muito tempo ser escuridão, muitos de nós somos vítimas de nós mesmos, com auto piedade, com medo de se enxergar por dentro e ver o que está errado, talvez até inconsciente de si mesma, buscar se conhecer e não burlar a si mesmo, será o primeiro passo para reconhecer seus erros, depois se perdoar e então começar um caminho novo sem voltar a erros passados.

Você é o único responsável por você mesmo, não coloque nas costas dos outros suas frustrações, vá e faça, não deixe que as suas próximas gerações carreguem o peso das suas dores e desalentos, seja lembrada como aquela que lutou e não como aquela que decidiu morrer em vida.

Se você não consegue sozinha, peça ajuda, consulte um profissional mas vá buscar sua luz, não é justo com ninguém ver em escuridão!

Seja luz!


Não havia luz no mundo, não havia sol, nem lua, portanto o mundo era breu. Pessoas eram mantidas alertas e juntas por percepção, até que uma criança deficiente visual achou que a luz que iluminava seu coração era sentida por todos. Então começou a contar como ela enxergava as flores, o céu, a água, cor dos pássaros, e então todos começaram a enxergar como a criança cega, não havia mais escuridão pois todos começaram a ver a luz com os olhos do coração!


Jussara Rocha Souza

Cure sua alma( auto ajuda)e seu espelho refletirá uma imagem linda!




Você se olhou no espelho hoje? Não

Você perdeu de olhar a pessoa mais linda e importante do mundo: você.

Durante anos o espelho foi meu amor e terror, mas de todos eles sempre tirei algo para me ajudar, ensinar e me fazer rever minha vida.

Havia dias ruins e sem querer eu passava diante do espelho e a imagem não era a esperada, e para minha surpresa, meu semblante não refletia o que estava na alma e aquilo me confortava. Mas nem sempre o espelho me deixava tranquila, houve dias de choro, desilusão e pensamentos confusos, mas deles tirei ensinamentos.

De vez enquanto danço para meu espelho, sorrio pra ele, flerto com ele, chingo e choro com ele, mas a questão aqui não é o espelho, é você, que merece sempre uma nova chance de se reconhecer, você que está passando por problemas, que acha que não é bonita o suficiente, que não é boa o suficiente, você é linda, você não merece pensar assim!

Há um espelho dentro de você, olhe-se, faça uma viagem para o fundo de teu ser, tem muita luz e sabe o que ela reflete? Esta pessoa linda que você é!

Um dia uma senhora muito doente e com suas condições físicas bem debilitada me disse: Eu no início de minha enfermidade chorava muito, achava que ia morrer e não admitia morrer, fiquei em depressão, fui ficando cada vez mais doente e o médico me disse que se eu continuasse a chorar, não querer me alimentar morreria mais rápido.

Então como sabia que sua doença física não havia cura, resolveu curar sua alma, uma alma bonita reflete no físico mais debilitado uma imagem linda!

Cure sua alma, seu espelho mais bonito é o do alma!

Você já se olhou no espelho hoje?


Jussara Rocha Souza

Meu pincel escreve poesias


 Na falta da poesia, troco palavras com as flores e delas ganho o maior dos carinho, retribuo em forma de cores!

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Desvarios da solidão




Tenho andado a tua procura

Quem sabe serás a cura

Da alma doentia

Daquele que de mim partia


Mas só vejo a escuridão

Na tênue luz do lampião

Quando sem dó nenhum

Apagaram a luz do coração


Hoje um raio entrou pela fresta

Fina pairou sobre minha pele

Iluminando meus sentimentos

Abrandando meus ressentimentos


Abro então a janela

Deixo a luz invadir a peça

Fraca ensaio um passo

Você então vem 

E me estende os braços.


Jussara Rocha Souza

Encarcerada




Me sinto vazia

Igual a cadeira

Deixada na tua partida

Não há mais versos

Poesia

Apenas dias

Um vento frio

De solidão

Chuva miúda

A corroer a alma

O coração

O poeta emudeceu

De saudades esmoreceu

Vive preso ao passado

Que matou seu presente

Futuro

Encarcerou-se em recordações!


Jussara Rocha Souza

Estrelas




Um caminho de estrelas

Para mim fui buscar

Na ânsia de vê-las

Meu caminho iluminar


Jussara Rocha Souza

domingo, 27 de agosto de 2023

Sonho




Se vier esta noite

Deixarei a porta entre aberta

Dormirei assim descoberta

Para que possas me cobrir

Então quando acordar

E sentir meu corpo quentinho

Saberei, você esteve aqui!


Jussara Rocha Souza

Pé de pêssego

 Meu pé de pêssego floriu

Não é março ou abril

Mês das flores no Japão

Mas é Agosto

E eu saboreio com gosto

Minhas flores de pessegueiro

Minhas cerejeiras a lá brasileiro!


Jussara Rocha Souza


Bailarina




Aqui não tem ninguém

O dia frio me remete a lembranças

Me pergunto onde ficou o meu alguém

Me visto de fantasias

Solto este grito preso

Em minha garganta

Quero mais

Preciso de mais

Quero cantar

E como bailarina dançar

Dançar

Rodopiar

Soltar a menina

Que reina em mim

Sentir o ar gelado da estação

Bater em meu rosto

Enquanto a vitrola

Toca nossa canção!

Ventos

 Ventos



Hoje o vento passou

Deixou marcas

Roubou

Levou consigo

Meu melhor amigo

Deixou a dor

Da separação

Hoje o vento passou

E audaz

Deixou marcas

De um temporal

Que destrói

E deixa pra trás

Tenho receio de ventos

Só é bonito

Em catavento

O mesmo que refresca no calor

Passou e levou meu amor

Será esta minha sina

Esperar primaveras

Já que o inverno 

Com seus ventos 

Levou consigo minha vida!

sábado, 26 de agosto de 2023

Meu avô um ser encantado




A velha cadeira de balanço hoje já não é ocupada, ficaram apenas as lembranças...

Eu tinha exatamente nove anos quando ele apareceu em nossa casa, até então eu não o conhecia.

Trazia junto a si pirulitos redondos, gigantes e coloridos, fiquei encantada com ele, sim, ele era meu avô. Um senhorzinho frágil e com um coração maravilhoso que só os avós tem, ele realmente era especial, tinha histórias mirabolantes que me levavam a sonhar .

Meu avô me fez conhecer os sonhos, me falava sobre seres encantados que viviam em florestas, usavam a magia das plantas e curavam as pessoas.

Meu avô foi embora quando eu tinha treze anos, lembro de meus pais chorando, sabia o que tinha acontecido.

Não vejo a morte como algo triste, o contemplo em meio as plantas, no meio dos seres da natureza trazendo cura para espíritos necessitados.

Meu avô não me ensinou a contar histórias ele me ensinou a ser a história, fazendo de mim princesa, fada, sereia ou ser a melhor protagonista de meu próprio conto!

Hoje avó sento na velha cadeira de balanço e conto a meus netos sobre um velhinho que um dia andou por aqui, espalhando fantasias.


Jussara Rocha Souza

Sementes de girassol

 



A vassoura lambe a areia

No varal roupas dão o colorido

Junta-se a ave que gorgeia 

Espetáculo por Ele gerido


É tudo tão belo

A simplicidade

Assim singelo

Sem pretensão, felicidade


Porta e janela escancarada

O assoalho de tacos

Conta passos de um passado

Ao longe o som da viola


Eis aqui meu lugar

Espalho sementes de girassol

Pelos cômodos da casa

Deixo entrar o sol


Sento a mesa

Observo os pássaros a entrar

Me alimento da natureza

Deus está neste lugar


Jussara Rocha Souza

Cartas ao vento




Faz tempo que não te vejo

Por isto escrevo

Não sei mais o que é amar

Sinto o balanço do mar

Mas não há barco para navegar

Sinto falta do frio na barriga

Do enfeitar da rapariga

Para esperar o amado

No dia marcado

Escrevo cartas ao vento

Palavras de contentamento

De quem ama a saudade

Daquela tal felicidade

O vento entende e responde

Com a triste folha que cai

Igualmente a esta lágrima

De que dos meus olhos sai!


Jussara Rocha Souza

sábado, 19 de agosto de 2023

O primeiro amor nunca se esquece

 Crônica




Esta semana em uma publicação no face foi lembrado o Cine da VILA( o pulguinha) da Rua Caldas Júnior, neste lugar muitas histórias se passaram assim como as fitas que passavam na sua tela.

Eu morava na Primeiro de Maio e estava começando a me interessar por rapazes, tinha entre quinze e dezesseis anos, minha mãe havia tido um bebê e eu ia toda semana a um mercado que existia na Presidente Vargas um pouco antes do pórtico buscar leite em pó para minha irmã!

Ia por cima dos trilhos, cheia de vida, sorriso no rosto e uma ânsia enorme por conhecer o mundo, neste caminho haviam dois rapazes, um quase na frente da casa do outro, em ambos lados dos trilhos, Arlindo e Ademir, os dois eram alvo de meus olhares o que era correspondido por eles.

Nunca falamos, eram só olhares, então um dia eles vieram até a mim saber quem eu queria namorar, eu nem sabia o que responder e saí correndo.

Então foi que os meninos marcaram uma luta em frente ao cine pulguinha e quem fosse o vencedor iria me pedir em namoro, eu fui saber disto por eles próprios depois de feita as amizades.

Foi então que na próxima semana ao ir ao mercado não vi Arlindo no portão e na beira do trilho estava Ademir a me esperar.

Deu início a um grande amor, inocente, apaixonado, queria ir todos dias no mercado, todo momento era motivo para nos encontrarmos, nunca houve sexo, era amor, planos de futuro, juras de amor, beijos inesquecíveis, tudo nele era lindo, as conversas no trapiche do parque, os beijos roubados atrás da esquina até que? Meu pai descobriu, alguém contou e eu fiquei de castigo, não podia ir mais ao mercado, não podia sair na frente de casa, era monitorada dia e noite.

O irmão dele o Zé e um amigo em comum o Paulo entregavam bilhetes a minha irmã que repassava para mim, um dia resolvemos escrever cartinhas para a rádio dedicando música um para o outro, lembro até hoje as canções, ele excuse-me do Júnior e eu a noite e a despedida de Angela Maria.

Passei o dia do lado do rádio, e quando o locutor falou nossos nomes e nossas dedicatórias um ao outro, minha mãe ouviu e enlouqueceu. Então o romance não havia terminado e medidas mais drásticas foram tomadas, nosso último encontro foi dentro do cemitério, minha mãe iria levar flores no túmulo de alguém e eu teria que ir junto, se ficasse em casa poderia ir vê-lo e meu pai tinha avisado a minha mãe que nunca mais poderia acontecer.

Minha irmã avisou Ademir e trocamos pela última vez beijos apaixonados atrás dos túmulos, voltei correndo para perto da mãe, que desconfiada fez a busca e o encontrou logo adiante, entre insultos e tapas no rosto fomos separados definitivamente.

Soube que ele faleceu dois anos depois de uma leucemia e segundo amigos próximos fomos namorados até o último momento dele, que pediu para me avisar sobre sua morte, mas meus pais trocaram de residência.

Amores adolescentes tão repletos de significados, tão puros e inocentes, meu primeiro amor te dedico esta crônica de hoje, não com tristeza, mas com saudades daqueles meninos cheios de sonhos.


Jussara Rocha Souza

domingo, 13 de agosto de 2023

 Tenho um sol em meus olhos e um jardim florido em meu coração.

Mesmo em dias sombrios quando meu sol se esvai e dos meu olhos correm lágrimas aproveito e rego com elas meu jardim interior!


Jussara Rocha Souza


Demência




Serei eu esta casa abandonada

De portas e janelas fechadas

Abandonada por seus moradores

No jardim mortas flores


Assim me sinto

No bar o velho e amargo absinto

Já não o bebo

Bebo lágrimas de aconchego


Tudo ficou parado no tempo

A mesa e o revestimento

O quadro desbotado

Seu lugar na parede  marcado


O cuco perdeu o pêndulo

O cérebro já caduco

Deixou de sentir

Nesta casa não há mais existir!


Jussara Rocha Souza 


A demência em idosos é penoso, para eles e para quem deles cuida.

Muitos são abandonados neste momento, a vida é um plantar e colher, seja você um semeador do bem para que na velhice colha bons frutos.

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Pesadelo




Quando a dor gritante invade meu ser, não consigo compreender, choro o vazio que não me deixa viver.

É uma lacuna, um vão escondido nas profundezas de meu cérebro, oculto, subentendido por mim como dor.

Não lembrar me dói e ao mesmo tempo me protege, existe um quê de melancolia que por vezes me bate a porta, que ao coração corta e me faz sofrer.

Sinto que o passado encarcerou minhas lembranças em um porão, alguém roubou minha inocência, machucou minha essência e depois trancafiou tudo isto no meu quarto escuro do subconsciente que não me deixa lembrar mas que minha alma sente.

Tem noites que acordo gritando, um grito de medo, com horror, há alguém lá, mas ficou naquele lugar, que não consigo decifrar.

Levanto, abro a janela, lá no final da rua uma menina corre em direção a luz, enfim acordo, o pesadelo acabou, a menina voltou para seu interior.


Jussara Rocha Souza

Sutilezas

 


Gosto da sutileza

Do tocar

Do tocar a alma

A doce calma

Carrego no íntimo flores

E brilho de estrelas

Gosto de sutilezas

Do refinamento tênue

De um olhar

Do se dar

Sem esperar

A simplicidade do sentir

A espontaneidade

De ser sem precisar fingir


Jussara Rocha Souza