sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Casa abandonada

 Prosa poética


O quadro pintado, nas paredes do passado deixaram marcas do inacabado.

Janelas azuis mostram a preferência do morador, estão abertas, como a esperar a sua volta, raízes sobem as paredes cobrindo seu interior como a preservar sua essência, quanta inocência, a natureza em busca de seu criador.

Eu venho de vez enquanto aqui, embora o lugar não seja meu, há um que de lembranças de algo que o coração não esqueceu, olho a porta entreaberta, convidativa, me convida a história contar.

Não há telhado, há noites estreladas, dias ventosos e barulhos misteriosos, como se falassem comigo, me fizessem companhia.

O silêncio é absurdo neste lugar, salvo os passarinhos que orquestram


seu cantar, aqui sou rainha, de um castelo abandonado, sem príncipe encantado, com borboletas por todos os lados.

Não preciso de relógios, o sol é meu temporizador, neste momento o vento me lambe o rosto com sua brisa e me acolhe a alma, tem algo mágico neste lugar, fecho os olhos e deixo minha imaginação viajar...

Quem sabe um dia já estive por aqui, viaja minha alma, viaja!!!


Jussara Rocha Souza

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Plantando girassóis no céu

 Prosa poética


Dedico esta prosa em memória Carlos Farias 


Tudo se fez noite no instante que partiste, a alegria ficou triste, o verso já não existe.

No silêncio de sua voz minha alma grita por justiça a este algoz que rouba vidas, que leva pra longe pessoas queridas.

Seu sorriso ainda é tão audível, visível, vem a todo momento na lembrança, escuto seu bom dia, que mesmo nos dias triste demonstrava alegria..

Você partiu, sem avisos, chorando ficou os amigos, sem entender órfãos ficaram os filhos, tua vida ceivada ainda na juventude, latejante, pulsante, deixou tatuagens na pele e no coração naqueles que te amavam.

Tu ficaste comigo para sempre no sorriso dos meus netos, ficastes nos girassóis que quase alcançam os céus com suas hastes, como a intermediar nossas conversas.

Fique tranquilo menino, a morte é só um caminho, uma pausa, o descanso devido, em breve os vagalumes voltarão e a noite ficará repleta de pontos brilhantes, sentaremos no jardim e conversaremos sobre novos girassóis...


Jussara Rocha Souza


quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Crônica ao tempo



Os anos foram passando, com eles os sonhos, planos, família, a felicidade que nos sorri radiante, a tristeza que fere operante.

O tempo não para, não aguarda, mas tem gente parada no tempo, não segue o tempo a contento, mas há fatos e fatores que os obrigaram a isto e a nós cabe a compreensão e o alento 

Já quis agarrar o tempo nas mãos, segurar emoções, pedi pra ele parar alí para que aquele momento não fugisse de mim, ledo engano o meu, o tempo não pode ser segurado, é para ser vivido, tem que ser continuado.

E assim os anos foram passando, e o mundo nos exigindo, ora o cabelo, o trabalho, a sociedade, a escola, os filhos, ontem quis parar o tempo, hoje quero segurar o tempo, há horas que peço que passe rápido.

Tem dias que vejo o tempo através da vidraça, movimento estudantil, passeata, a busca de liberdade, a busca por saciedade, o sexual e o sentimental, confusão, revoltas, lutas, glórias e inglórias. Estes tempos me enchem de risos nos olhos e dores de alguma coisa que se perdeu, ficou lá atrás daquela esquina que nunca mais voltou...

Mas ele, o tempo, é implacável, e não dá trégua, hoje queria que fosse ontem, queria buscar o que ficou lá atrás, queria trazer para a vida quem embarcou no trem da partida, mas o tempo não volta, preciso aproveitar mais o tempo, cabelos ao vento, andar descalça, abraços apertados, beijos demorados.

Preciso abraçar o tempo e aproveitar dele cada segundo, antes que como poeira se esvaia ao vento.

Preciso ver você, contar mais histórias aos netos, sair com amigos, ser avó e ser mulher, ser mãe e ser a diva, cada tempo com seu tempo, viva, preciso ser o que eu quiser, porque o tempo minha amiga, não espera e o tempo é agora.


"O tempo não para, não para não"

Cazuza


Jussara Rocha Souza

Recordações pueris

 São pingos de chuva

Lágrimas caídas do céu

Batom de uva

Lábios de mel


Lembranças de menina

Sonhos de amor eterno

Nós dois na esquina

All star e terno


Lá atrás no estádio

Gosto de pecado

A canção no rádio

Embala o beijo roubado


São recordações pueris

Puras, infantis

Como balas de anis

A adoçar recordações senis


Jussara Rocha Souza


Matei a quem gerei, porque me fez então mamãe?

 


Hoje é o julgamento da "mãe" que matou o filho na cidade de Planalto no Rio Grande do Sul, e eu me pego pensando que se eu perdesse um filho eu morreria de dor.

Não consigo nem cogitar a ideia de me ver sem meus filhos, o que faz alguém tirar a vida de um ser que tu mesmo gerou, não consigo entender, monstruosidade, doença, loucura, egoísmo, meu Deus, não há justificativa para tal ato.

Fico imaginando o menino olhando a mãe e vendo a mesma lhe tirando a vida, o que sentiu este filho neste momento, a dor de alguém que só queria ser amado. Porque me gerou se iria me matar?

Mães choram a morte de seus filhos, outras lutam para poder gerar seus filhos e outras como esta assassina rouba a vida de seu filho.

O ser dito humano carrega dentro de si verdadeiros monstros, acautele-se, algo pior está por vir, falta caráter, amor, respeito, empatia e fé. Cauterizaram a consciência e não se importam mais com o que é certo e errado, não há religião, política ou seja lá o que for se não tiver caráter.


Não sou a favor de pena de morte no Brasil por causa dos muitos erros e injustiça cometidas nas nossas leis e magistrados corruptos, mas teria de haver prisão perpétua para crimes hediondos!


Jussara Rocha Souza

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Dona de mim



Visto meu all star

Calça jeans desbotada

Um sorriso no olhar

Cabelos gris à la "recatada"


 Saio por aí

Respirando liberdade

Tomo um açaí

Com gosto de saudade


Como é bom ter recordações

Abraçar o tempo

Molhar as emoções

E ser você o seu melhor momento 


Meus passos são lentos

Colho olhares no caminho

Canto um acalento

Assim me acarinho


Volto pra casa

Destemida

Decote cor de rosa 

E me sinto encantada


Dona de mim

Do que sou

Ufaaaa

O pássaro enfim voou!


Jussara Rocha Souza

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Encantamento




Foi em um juramento

Entre o tempo e o vento

Escrito nos livros da memória

Contando nossa história 


Atrevida

Meu coração já sabia

Eras para toda vida

Sentimentos que no peito não cabia


Enredos

Nos teus olhos misteriosos

Guardavam segredos

Secretos, pretensiosos


Hoje teus cabelos nevados

Pelo tempo que os branqueou

Foste como chegou

Em um acordo entre o tempo e o vento


Deixou no peito saudade

Sabor de eternidade

Nunca soube de onde vieste

Só sei o quanto me amaste.


Jussara Rocha Souza

Fome de afeto

 A solidão dos amores esquecidos

Das almas perdidas

Dos afetos escondidos

Das misérias vividas


Miséria dos sentimentos

Da falta de tetos

De céus estrelados

De romantismo obsoletos


Pois a miséria meus amigos

Não se atém a fome dos pratos

Há a fome dos tratos

A fome de carinhos


Pois nada sou nesta vida

Sem viver um amor

Prefiro a chaga da ferida

De ter do amor passado despercebida


Jussara Rocha Souza