terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Então é natal

 



Era natal, o menino caminha pelas ruas, vê gente sorrindo, abraços pelas vidraças.

Crianças com seus brinquedos, músicas e muita algazarra, para e fica observando os fogos coloridos a dançar sobre os fios, fica encantado com as luzes brilhando sobre os telhados.

Em sua pouca vida infantil só vê tanta beleza e alegria nas casas de outras pessoas, nas novelas da televisão vista nas portas dos botecos do bairro, do qual muitas vezes é enxotado.

Nunca soube quem era o pai, os irmãos o conselho tutelar levou, não foi porque estava fora e a mãe desapareceu, foi embora...

Tem dias que preferia não estar vivo, come restos do lixo e nunca conseguiu entender como este tal de papai Noel nunca quis lhe conhecer, nunca desejou ser seu pai, afinal ele era tão bonzinho para outras crianças, mas a ele nunca deixou ao menos sentar em seu colo, disse que ele estava sujo não poderia ir em seu colo e disfarçadamente o colocaram em seu lugar, lhe dando um saquinho de balas para se calar.

Cansado, recostou na parede, tremia, não sabia se era frio, fome ou sede, mas era natal, os fogos continuavam, de repente escutou alguém lhe chamar, venha menino, vem deitar.

Um senhor então aproxima-se, ajeita a cabeça do menino em seu peito e começa a cantar,  dorme menino dorme, para onde estamos indo não existe fome, frio ou sede, todos são iguais e as crianças ganham presente todos dias sem precisar de natais.

Dorme menino dorme, que como você também andei a procura de uma pousada, tive sede e fome e só nos braços do Pai então descansei.


Jussara Rocha Souza


Que um dia todos possam ser e ter igualmente e que não se precise morrer para poder descansar!

Meu mais belo poema

 Ofereço-te meu colo quente que agora molhado de lágrimas se torna mais complacente.

Meu doce e sofrido amigo, aqui as coisas não andam lá muito bem, mas tenho convertido minhas tristezas em curar as tristezas do próximo. 

Não é  bondade para com os outros é para comigo mesmo, mas vamos falar de você,  me diga quem pode maltratar este poeta de alma nobre e palavras gentis?

Te ofereço meu colo, meu carinho e quem sabe uma taça de vinho.

Hoje pela manhã lembrei de você,  uma borboleta pousou em minha mão, fiquei com tanta alegria e pensei poeta isto merece uma poesia.

Hoje secarei teu pranto com o meus mais belo poema:

Você

Dor

 


Porque ela grita no meu íntimo

Rasga vísceras

E em meu desatino

Peço que sejam efêmeras

A dor minha companheira 

Vive em minha soleira

Não entra

E não me deixa sair


Jussara Rocha Souza

O rio

 



A casa estava vazia, 

Vazio está também seu coração

Sofre o estômago com azia

Sofre a alma com decepção


Abre a porta

Sai às ruas

Meia torta

Nua


Curiosos 

Olhares piedosos

Tendenciosos

Outros caridosos


Subiu a ponte

Comoção

Volte, tente

Ainda há solução


Desce até o rio

Os pés tropegos 

Hilário 

Encontra na água seus aconchegos


É água por todos os lados

Risos escancarados 

De quem cansou de ser abafado


O rio e seus vários afluentes

Não se deixa levar pelas correntes

Pode ser morte

De um coração doente


Vida 

Purificada

Para ser vivida


Jussara Rocha Souza 


Nota do autor:A vida merece sempre uma nova chance

Tenha fé 

Nem sempre o que tu vê é a verdade

Aprenda a respeitar a verdade de cada um

O mundo está repleto de julgadores

Muito ódio e pouco amores

Seja você diferente

Tome banho no rio da empatia

Odre




Guardo minhas lágrimas em odre

Onde reina meu silêncio

Deste mundo podre

Sentencio


Foi feito de minha pele

De cicatriz marcada

Ferida a ferro

Escravizada


Canto canções ao entardecer

Deixo vento assim levar

São orações para não morrer

A cativos acalentar


Não são versos tristes 

É melodia de um poeta

De quem ainda insiste

Lagarta em borboleta


O silêncio me constrói

O odre guarda meus mais sentidos versos

Sei que ainda dói

Mas não é fim

É começo

Reverso


Jussara Rocha Souza

Cais




Moça do mar

Pele bronzeada

Cabelos a voar

Olhar apaixonada


Fita o horizonte

Sonha com o viajante

Talvez além da ponte

Em águas verdejantes


Um navio solitário

Navegando ao longe

No peito relicário

Do amor distante


Ela espera no cais

Cabelos ao vento

Agora gris

Do tempo de espera

Que não volta jamais


Jussara Rocha Souza

Crônica da saudade

 



Era noite, sentei no quintal e fiquei observando a lua cheia, lua dos apaixonados, que muitas vezes me inspirou poemas e versos.

Fiquei a namorar o passado, você veio sentou ao meu lado e tocou minhas mãos que se entrelaçaram as suas.

Ficamos em silêncio, apenas sentindo o respirar um do outro, então tocou a canção, encostei a cabeça em seu peito e sentindo teu cheiro me deixei levar, éramos então um só coração.

Caminho a décadas contigo, mesmo quando o teu corpo foi embora, tua mão continuava com a minha, de vez enquanto me visitas em sonho e acordo sempre mais apaixonada.

Hoje sentada neste quintal, o coração apertadinho de saudades, data daquele 5 de dezembro, dia de tua partida, não abro os olhos, tenho medo de que não estejas aqui.

Para muitos pode parecer loucura, para mim é a saudade que vem me visitar e dizer, ainda estamos juntos, ainda estou aqui.

Tu vives em mim, nas noites enluaradas, no amor feito de madrugada, na vida tão compartilhada, neste teu olhar que me deixa trêmula, na boca que me beija inteira, no amor que jamais irá morrer.

Os raios de sol começam a aparecer, secam docemente a lágrima que agora cai, até breve amor, ainda há de existir muitas luas cheias, canções e bancos de jardim, para que mesmo em saudade una você a mim.


Jussara Rocha Souza

Miséria

 Miséria 

estado de enorme sofrimento; infelicidade, desgraça.

2.

estado de carência absoluta de meios de subsistência; indigência, penúria.

"a inundação deixou os moradores na m."


Viver em estado de miséria, é assim que estamos vivendo, cada dia mais pessoas comem das lixeiras, sem trabalho vivem nas ruas, miséria no prato, no teto, na dignidade.

Dizem que a mais triste das miséria é da ignorância, ignorância sua que mesmo vendo tanta dor fecha a porta e vira as costas.

Você já ficou sem comer por não ter alimentação nenhuma durante um dia, dois dias, pois é, tem gente que a dias não come, sei que você não é responsável pela vida alheia, afinal você trabalha, junta economia, se esforça, porque ele não pode fazer o mesmo que você?

Mas cada caso é um caso e ninguém merece passar fome, ninguém merece ter um estômago doendo de não ter o que comer, ninguém merece morrer de fome.

Me revolta a falta de alimentação em um país tão rico, tanto roubo, desvio de verba, enquanto uns enchem os bolsos outros nem bolsos tem para encher.

Falta tudo para a população, saúde, educação, trabalho, falta empatia e principalmente alguém que se importe com os menos favorecidos.

O que será de nós, o que será de meus semelhantes, olhe nossa cidade, nossas ruas, cada dia mais drogados, mendigos, pessoas pedindo nas sinaleiras, roubos, homicídio, zero política habitacional, zero planejamento, não aguento mais ver tanta miséria, estou revoltada!


Jussara Rocha Souza

Coração encarcerado

 



Um dia alguém colocou grades em meu coração, e eu coloquei liberdade em meus pensamentos.

Por anos consegui viver minha liberdade deste modo, mas meu coração acostumou a ser encarcerado, hoje sou livre mas não sei o gosto do amor!


Jussara Rocha Souza

Sentada na calçada

 



Sentada a beira da calçada, vestido de tirantes e tamanco malandrinho, queria descansar um pouquinho da rotina diária de um trabalho bem pesado. Era verão e os dias eram muito bonitos e quentes como sua alma sonhadora de menina.

A vida não lhe era fácil, dificuldade financeira, pais ditadores, muitas obrigações e nenhum direito.

Queria mudar o mundo só não sabia como, rebelde contra uma sociedade hipócrita e cruel com as pessoas de menor poder aquisitivo. Mas mesmo assim a vida lhe parecia sorrir, a roupa e o calçado eram sempre os mesmos, mas isto não lhe roubavam a beleza de sua alegria de menina moça quase mulher a desabrochar.

Cantarolava uma canção quando alguém sentou-se a seu lado, naquela época não tínhamos este medo de agora, e logo começamos um papo bem animado, a calçada era na rua Caramuru e ele era um alguém que me disse que eu tinha a boca da Sophia Loren, eu em minha inocência dei um sorriso enorme para ele e segui meu caminho.

São histórias que nos ficam na memória, se o elogio foi mentiroso pelo menos fez a alegria de um corpo cansado do trabalho e que raramente sabia o que era um elogio.

Lembro com clareza de meu vestido de tirantes e o tamanco que por anos levou meus pés ao trabalho, lembro dos trilhos do trem, minha irmã Janete e seus tamancos de veludos tão sonhado por ela, minha prima Cristina e nossas travessuras, lembro que fomos felizes em meio a tantas desventuras, continuo rebelde contra esta sociedade hipócrita e cruel com as pessoas de menor poder aquisitivo,  ainda sento na calçada e converso com desconhecidos, hoje com mais prudência, diante de tamanha violência, mas se passares em minha rua, em algum momento me encontrará sentada na calçada, batendo um bom papo com algum passante, gente que ao longo da vida ajuda a construir minha história e que carrego na memória.

Hoje a idade já não condiz, segundo outras pessoas, com adolescentes de sessenta anos batendo papo sentadas nas calçadas, mas quem disse que me preocupo, foram pessoas que encontrei nos meus bate papos nas calçadas da vida que me trouxeram alegrias e sabedoria.

E por falar nisso, semana passada, varrendo a calçada bati um papo com um senhor de Jaguarão, aquelas pessoas que parecem que conhecemos a anos, trocamos muitas ideias, rimos muito, nos despedimos e ele se foi, me esqueci de perguntar seu nome, mas ficou na memória.

E quando quiseres passa aqui, vamos bater um papo...


Jussara Rocha Souza

Viver é um ato revolucionário




Nasci revolucionária, quando depois de inúmeras tentativas de aborto vim ao mundo, nasci de sete meses, muito doente, fiquei várias vezes diante da morte.

E mesmo sendo torturada sem chances de me defender vim ao mundo, lutando bravamente contra meus opressores.

Apanhei muito no passado por não me calar, hoje falo através da escrita.

Porque se eu falar tudo que penso não chego nem na esquina, pois vão me matar, prometo ficar quietinha, mas aquela chama aqui dentro não se apaga, nasci revolucionária, mas não fui eu que escolhi, foi as circunstâncias que me fizeram assim.

Viver é um ato revolucionário, amar é um ato revolucionário, ser mulher é um ato revolucionário, então sou uma revolucionária!


Jussara Rocha Souza

Ladrões de sonhos

 



Eles chegam de mansinho

Te oferecem carinho

Procuram os desavisados

Dos amores cansados


Oferecem flores

Do amor sabores

Te encantam com sonhos

Sem ele, enfadonho


Então

Roubando teu coração

Eles vão embora

E teu mundo desmorona


São os ladrões de sonhos

Passam a vida risonhos

Deleita-se com a dor do outro

Monstros, pela vida andam soltos


É como roubar a vida

Dor desmedida

Nunca mais acreditar

Não mais querer amar


Roubam ilusões

Letras, melodias e canções

Deixam frustrações

Matando corações


Ladrões não roubam só bens materiais

Roubam sonhos

E estes são os piores


Jussara Rocha Souza

A vida passa cantando


 E a vida passa cantando


Prosa poética 


E a vida passa cantando, ora cantigas de ninar, ora cantigas para amar.

Às vezes é o vento que passa a cantar, ouça, ele traz notícias de lá...

Em outras alguém lá de cima, pega o violão e toca uma canção, e é tão melodiosa que cai chuvas do céu, dando a nítida impressão que alguém se preocupa com nosso coração.

E a música vai continuando, assim como a vida continua, com suas dores, amores, tragédias e comédias, desafinada ou afinada, desafiando nossas forças, poetas anônimos escrevendo suas histórias nos bancos da memória.

Hoje vim tocar minha canção, com notas de esperança, pedindo ao músico maior, inspiração para vencer minha indignação ao ver tanta crueldade e desumanidade na sua criação.

A vida era para ser uma canção de amor, com notas melodiosa e harmoniosa, mas o homem resolveu subjugar o seu próximo segundo a sua condição.

Pobre música perdeu o encanto e só o que assiste é dor por todos os cantos.

Toca meu maestro a maior de todas melodias e ensina a teu povo a viver com alegria, porque não aguento mais o luto de uma canção a beira de um caixão.

A vida continua, independente de sua melodia, mas faça diferente você e toque a sua mais linda canção e faça sorrir um coração.


Jussara Rocha Souza

terça-feira, 18 de outubro de 2022

Eu tenho 60+

 Crônica



Eu não deixei de ser mulher por ter sessenta anos, estou diferente, hoje escolho o que posso e quero fazer com meu corpo.

Você irá me perguntar, principalmente as mais jovens, mas antes você não escolhia o que fazer com seu corpo? Fui criada em tempos diferentes e muitas vezes não pude escolher, cheguei a ter repulsa por sexo, por ser obrigada a manter relação sexual como obrigação por ser casada.

É menino os tempos mudaram, mas hoje ainda existem muitas mulheres subjugada, por companheiro, pais, religiões e preconceito.

Hoje ainda nos matam, agridem e fazem violência com nossas mulheres, no Brasil meninas são vendidas em troca de dinheiro ou mantimentos pelos próprios pais, muitas estão na prostituição, mas esta é só a ponta do iceberg, no mundo, mulheres são mortas por querer estudar, por usar roupas "inadequada" sendo dadas em casamento aos 10 anos, e a maioria morre por sofrer hemorragia no ato sexual ou ficam com problema nos órgãos reprodutores com sequelas para toda a vida.

Mas o que quero aqui falar é sobre a mudança que nós mulheres maduras estamos realizando em nossas vidas, eu uso cabelos grisalhos porque me deram a liberdade de não mais querer pintar, mas poderia usar a cor que me fizessem feliz, afinal os cabelos são meus.

Tenho certeza que muitas se identificarão comigo, que maridos nem reparam mais em suas lingeries e que o sexo passou a ser o trivial, mulheres não deixem por menos invista em si, compre lingeries que valorizem seus corpos, use cremes, se olhe no espelho e sorria, você está viva e não é por ele, é por você.

Os desejos podem ter mudado de intensidade, mas eles existem e você não pode morrer viva, nada tem de errado em se gostar, hoje somos mais fortes, mais independente, idade passou a ser um detalhe, tenho sessenta e um anos, tenho sonhos, planos, desejos e o melhor estou viva.

Me gosto, gosto que vejo no espelho, porque minha beleza vem de um interior que trabalhou muito em defesa da autoestima, minhas cicatrizes se transformaram em raízes fortes e verdes, e pasmem, aos sessenta estão dando flores, e a cada dia brota mais e mais.


Jussara Rocha Souza

Os livros




Sentada em minha cama, o bom e velho amigo em minhas mãos, lembro de quantas histórias vivemos juntos. Já não me recordo, de quanto li, senti o perfume de suas páginas, chorei sobre suas folhas e adormeci com ele a meu colo.

Quantas vezes te encontrei nas folhas de meu amado livro, quando por vezes me senti a mocinha da história e fomos felizes para sempre.

Quantos mistérios e crimes desvendados, viagens ao centro da terra, risadas de cair ao chão e dores que atravessam o coração.

Gosto da era digital e realmente não me vejo mais sem ela, redes sociais, e-book e tantas outras facilidades que nos trás. Mas nada supera meu amor pelos livros materiais, gosto de tocar em suas folhas, e como diz meu amado amigo Geraldo em suas crônicas, deveriam incentivar o gosto pelos livros em crianças e adolescentes, pois há bibliotecas públicas abarrotadas de livros sem ter quem os procure, amontoados de livros em lixeiras, que dor me dá no peito em pensar meus amados amigos jogados ao lixo.

Uma vez ao ler a bíblia ficava maçante o relato e eu quase dormia ou desistia de ler, então uma senhora disse para mim, viva a história, entre nela, imagine-se vivendo aqueles tempos, e desde então vivo histórias maravilhosas ou nem tanto, mas nunca estou sozinho ou em tédio, os livros já me levaram a lugares que nunca conseguiria chegar sem eles.

E os escritores, parte essencial e a quem devo o amor pelos livros, queria poder citar nomes, mais são tantos, só posso agradecer pelo dom inspirador de cada um.

Não sou muito boa em crônicas, mas amo ler, e minha escrita de hoje veio inspirada de um homem que admiro muito Geraldo Jose Costa Junior, um cronista de mão cheia, a você, Gaia e o café.

De Florbela para Hernest!


Jussara Rocha Souza

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Primavera em mim

 



De vez em quando uma lágrima cai

A brisa a lambe docemente

Na face úmida uma folha teimosa gruda fazendo cócegas

Então arranca um sorriso

 De um rosto molhado de tristeza

A folha se vai com o vento

Uma cigarra desavisada 

De minha agonia 

Vem brincar em minha mão

Canta com alegria 

De repente o inverno se esvai

O céu volta a colorir

Acalma o coração

Eu  viro primavera

E volto a florir


Jussara Rocha Souza

A pipa

 Sentada ao quintal uma mãe corta folhas de jornal

Parte finas tiras de taquara

E com farinha e água confecciona a mais poderosa cola

Depois de montada a mais cara das pipas

Ela rasga uns panos velho e com ele faz o mais colorido rabo que já vimos bailar ao céu 

O velho rolo de lã da cesta da vovó arrematou o trabalho.

Foi na cama do filho e o chamou, juntos foram para o campinho onde crianças exibem seus mais caros presentes e juntos soltaram pipas, entre risos e gritos, solta linha mamãe, mais pra  lá meu filho...

De repente muitas crianças se aproximaram e queriam soltar pipas com eles e o menino orgulhoso de sua mamãe e de seu tão caro presente sorria maravilhado.


Jussara Rocha Souza


" Que o meu melhor presente é ter você aqui"


A todos meus netos e bisnetos que possam aprender de seus pais o valor do amor, este sim é maior de qualquer presente.

Que meus filhos possam ser pais presentes na vida de seus filhos, que o valor de um presente não está no preço ou tamanho que ele tem e sim no amor de quem lhe deu.


Meus filhos cada figurinha grudada com "grude" no nosso álbum hoje seja o motivo de sorrir de todos nós.


A mala



Carrego na mala saudade

Tempos de felicidade

De amores

Aromas e sabores

Do gosto de beijo bebido

Da fonte do amor desmedido

Carrego na mala saudade

Da cumplicidade

Dos olhares furtivos

Gosto bom de proibido

Do lábio mordido

No beijo escondido

Carrego na mala saudade

Que hoje está por demais pesada

Talvez te encontres na foto amarelada

Ou no disco arranhado

Na dança de corpo colado

Deito então no meu leito

Coloco a mala a meu lado

Deixo-lhe sair 

Então deliciosamente triste

De minha liberdade

Abraço a saudade 


Jussara Rocha Souza

Entre sonhos e realidades

 Pintura acrílica sobre tela


A dama de vermelho

 Pintura em acrílico sobre tela de minha autoria 


O mundo

 O mundo roubando nossa inspiração

Querendo roubar até o coração

Maldade torna-se banal

Descaso normal

Quero viver

Ver meu neto crescer

Chega de violência

Tanta maledicência

Seja orquídea

Ou apenas flor do campo

Você é muito importante 

Olhe quantas flores no jardim

Olha bem para mim

Preciso sonhar

Amar

Veja, é primavera

Não é apenas quimera

A vida é real

E maldade nunca me será normal

Vamos plantar

Semear 

E ver o amor

Novamente florescer!


Jussara Rocha Souza


A lua e o mar


Pintura em acrílico sobre tela de minha autoria 


Janela do tempo

 Vejo a vida passar

Da janela do tempo

A me olhar

Fecho a vidraça

Faço pirraça

Vá embora

Menina

 Não há mais vida

O amor matou-me

Em uma tarde primaveril

Febril

Encostado a meu rosto

Partiu.

Jussara Rocha Souza


domingo, 2 de outubro de 2022

Árvore




Estou oca

Como um tronco velho

Que já não possui interior 

Há muito se foi o amor

Não há dor

Não há tristeza

Apenas o vazio

Olho o jardim

Não há você em mim

Não há carinho

Não existe ninho

Apenas este buraco

Onde minha alma se esvai

Então a lágrima cai

Molhando o coração

Cansado de solidão 

Não posso segurar o tempo

Diz-me o vento

Vá, se apresse

Ainda há vida

Para ser vivida


Jussara Rocha Souza

Tarde demais


 


Nos caminhos desta vida

Estradas nem sempre com saídas

Trouxe sorrisos nos olhos

E sonhos no coração

Talvez seja esta pitada de mistério

Em teus versos sinceros

Que me criaram ilusão

Não quero te desvendar

Prefiro te imaginar

Cabelos revoltos

Mãos firmes

Segurando o leme

Barco perdido no mar

Olhos ao longe a vagar

Embalando versos doces

Contando-nos segredos

Nas páginas deste enredo


Jussara Rocha Souza

sábado, 1 de outubro de 2022

Cesto de palha

 O velho cesto de palha

Que hoje abriga a malha

Testemunha ocular

Assim como o luar

Das noites de amor

Dias com sabor

De vida

Sem dor

Ou feridas

Amigo cesto

Das noites insones

Juras solenes

Ele se foi

Ficaram os sonhos

A cama com seu perfume

E este gosto de regresso

Na malha deitada ao cesto


Jussara Rocha Souza




terça-feira, 27 de setembro de 2022

Um olhar no passado




Carregava no colo a menina

Embora nunca fosse mãe

Esta era a sina

Da sobrevivente chacina

Seus passos eram cansados

Opacos seus olhos

Seu sono atormentado

Sobre os restolhos

Flor

Em meio a abrolhos

Embala o embrulho

Em meio aos entulhos

Canta uma canção de ninar

Em sua mente

Doente

O filho a embalar

Tens cheiro de sangue

Das almas a vagar 

 Carregas  contigo a dor do lugar


Jussara Rocha Souza

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Para sempre

 



Te espiei por uma fresta

Do tempo que me resta

Vi dois apaixonados

Jovens enamorados

Quis voltar o tempo

Segurar o vento

Não te deixar partir

Do meu breve existir

Talvez seja a morfina

Que o passado descortina

Talvez seja a morte breve

Que em sonhos te leve

Te amarei para sempre

Mesmo que o sempre

Seja este breve momento


Jussara Rocha Souza

Cúpido

 



Dobrando aquela esquina

Passava a menina

 olhares furtivos

Para o moço de cabelos ruivos

Aqui da janela

Torcia para ele olhar para ela

Queria dar uma mão ao destino

E então chamei o menino

Viste que moça linda?

Porque não a olhaste ainda?

O menino esboçou um sorriso

De cúpido não era preciso

Hoje fiquei atrás da vidraça

A vi aproximando-se com graça

O menino lançou um olhar pra mim

E estendeu sua mão enfim


Jussara Rocha Souza

domingo, 25 de setembro de 2022

Meninos




Crianças dormem nas ruas

Tendo o teto de estrelas como suas

O agasalho seus próprios corpos

Braços juntos embalam os mortos

Dorme criança

Dizem que da pátria és esperança

No entanto dormes ao relento

Sem teto

Sem alento

Qual é tua pátria menino

Nem meu nome assino

Nasci na calçada

No meio de uma bocada

Meus irmãos é o mundo

Neles me confundo

Aqui todos são iguais

Nem menos ou mais

Pés descalços

Lembram percalços

Somos homens crianças 

Com medo

E sem esperanças

Mas tenho muitas riquezas

Todas dadas por Deus

Sou dono da noite

Do dia

Das estrelas

Do sol e da lua

Sou proprietário majoritário

Da mãe natureza


Jussara Rocha Souza

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Rindo sozinha



Hoje no quintal

Conversando com meu velho salso chorão

Disse-lhe que solidão não é tão mal

É um desague no coração

Ele deixou cair uma lágrima

Meio carrancudo me disse

Tome tento menina

O desencanto não lhe deixa ver

Alguém anda notando você

E este sorriso no rosto

Com jeito meio bobo

Também está em teus pensamentos

Cale-se salso

São só fragmentos

O salso que só então chorava

Por dentro sorria

Ele também sabia

Uma paixão já nascia


Jussara Rocha Souza

sábado, 17 de setembro de 2022

Precisava




Só precisava de um olhar

Daqueles marejados de mar

Que a brisa trás sem pensar

Que ficam assim na memória

E fazem história

Com gosto de querer amar

Então me encontro em tua poesia

Em uma noite de lua

Flagrados pelas estrelas

Um beijo enamorado

Querendo ser eu tua musa

Linda e nua

Nos sonhos e na vida

Toda sua


Jussara Rocha Souza

Semente


 


Nasci semente

Ramo sem folhas

Em terreno pouco fértil 

Sobrevivi

Raízes não tive

Tive que arar muito à terra

Adubar

Plantar e replantar

 Me reguei de muitas lágrimas 

Cresci

Hoje árvore frondosa

Ramos verdes

Galhos grossos

Criei raízes em mim

A semente se fez flor

Hoje está carregadinha

De amor


Viva a primavera, seja semente que brota, nunca deixe que as agruras da vida te matem.


Jussara Rocha Souza




segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Um lugar de amores mortos

 



Como ousas querer me amar

Não sabes que tenho feridas

O vento levou minha alma

Em um temporal 

Dia cinza

Flores mortas

Árvores tortas

Não sabes que o coração também morreu

Eu não queria

Ele pedia

E então aceitei

Fiquei só 

Como ousas despertar em mim paixões 

As sepultei

Cala-te coração 

Não ouses te apaixonar

Foi só um olhar


Jussara Rocha Souza

Um chá por companhia

 



Saboreava a goles grandes o chá 

O sabor das frutas vermelhas lhe levavam ao passado

Um tempo de risos soltos

E lençóis amassados

Cabelos revoltos

Rosto corado

Sem arrependimentos 

Deliciosos momentos

Hoje o chá lhe faz companhia 

Junto da cama vazia

A cortina afastada pelo vento

A sombra no jardim

Dá-lhe a impressão 

Delírios deste velho coração 

Volto ao chá 

Quem sabe amanhã...


Jussara Rocha Souza

domingo, 4 de setembro de 2022

Costuras

 



Todos dias sinto rasgar-me a alma...

E assim por anos a fio, venho me costurando,

De tanto costurar-me

Hoje me falta pedaços 

A pele ficou enrugada

E o coração, ah! O coração este já nem bate

Tem tanto medo de machucar-me

Que vive silencioso

Um dia a agulha costurou tão fundo

Que lhe atingiu a alma

Ela sangrou 

Que lágrimas vermelhas lhe banharam a face

Hoje então o coração não mais se arrisca

Tem medo de ter de fazer outra costura.


Jussara Rocha Souza

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Morbidez

 



A saúde é sempre uma questão que preocupa, mais ainda quando lutamos com ela desde o nascimento. 

Mas no meu caso é uma doença pulmonar crônica que me tira o ar, literalmente, sem ar.

E nestes instantes me pergunto será minha hora? Não é morbidez, é a consciência da doença que carrego. Mesmo sendo uma pessoa otimista e bastante "arteira" confesso que me peguei pensando se seria agora meu "passamento ".

E então pensei no que fiz ou não fiz, a sensação de deixar para trás filhos, netos, familiares e amigos. Quero fazer ainda tantas coisas, tenho tantos sonhos e desejos.

Será mórbido pensar nestas coisas? Vejo o quanto somos frágeis diante da morte, quanto não somos capazes de decidir sobre nosso próprio corpo, hoje estando um pouco melhor e com a respiração voltando aos poucos não quero pensar em morrer.

Mas posso afirmar que pensar na morte pode nos fazer melhor, e compreender que a vida, "apesar dos pesares, pode ser maravilhosa!"


Jussara Rocha Souza

Meu mundo gris

 Este cinza

Combina com meus cabelos gris

Com o Sena em Paris em dias de nevoeiros

Talvez seja só devaneios

Mas estou viva

E isto é verdadeiro


Jussara Rocha Souza 


Pintura feita em lajota


Meu mundo gris


Demência




Esta névoa no olhar

Mostra o velho menino

A meditar 

Não sei onde se perdeu

Se de mim esqueceu

Do caminho não há mais volta

Minha alma de dor corta

Os dias lhe são vazios

Sem memória 

O velho menino

Está no barco prestes a naufragar

Vem meu menino

Agarra minha mão 

Deixe eu ser o seu leme

A lhe mostrar a direção. 


Jussara Rocha Souza 


Obs: Fiquei muito impactada com a demência nos idosos, então fiz este poema em memória daqueles que perderam o combate para a demência.

domingo, 28 de agosto de 2022

Pintura em azulejo

 Primeiro trabalho em azulejo 


Censurado

 De um passado...





O rádio tocava Caetano

Finalmente estava de volta

Eram tempos novos

Falava-se em liberdade

O coração pulava de saudades

Enfim teu cheiro

Adeus estrangeiro

Colocou as malas no chão 

Ainda havia sonhos

Levantou o bagageiro

Deixando fugir dele (realidades) 

 Abriu o portão 

Um estampido

Um corpo caído 

Sonhos e saudades

Misturados ao sangue

Espalhados no chão 


Um olhar na multidão 

Um grito mudo de dor

Liberdade de expressão 

Calada

Com um tiro no coração 


Jussara Rocha Souza

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Urgente, urgente

 Urgente, urgente


Preciso de sonhos

Não aguento mais realidades

Frias, doentes

Preciso de risos largos

Contar histórias 

Coisas estas que guardamos na memória 

Quero ir para Paris

Seja de avião 

Ou de Biz

Ou nas páginas deste livro gris

Preciso sonhar

Com guardas chuvas coloridos

Beijos na boca engolidos

O riso no rosto 

De lembrar de ti com gosto

Embora seja agosto

Preciso urgentemente de sonhos

Para que eu não morra de tristeza

Sem antes provar destas belezas

Preciso urgentemente 

De fazer artes

Aquelas iguais à criança

Que guardo nas lembranças 

Inventar encantamentos

Neste mundo de desalentos


Jussara Rocha Souza


quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Jardineiro

 



Eu sou um cuidador, sim, cuido de um canteiro. Nele há pássaros, borboletas e flores o ano inteiro.

Um dia, uma dor muito intensa me visitou, e um beija-flor vendo minha tristeza, me mostrou o encanto de uma flor.

No início era meio mecânico, molhar, adubar, e tal qual o beija-flor uma borboleta então me falou, quando pousou em um girassol e me ensinou a beleza dos raios de sol, então aqueceu meu coração e refiz a plantação. 

Hoje converso todos os dias com elas, são avencas, azaleias, dona joaninha acho até que conhece, tão logo me vê começa a refastelar-se. Caia uma chuva muito forte e eu corri para proteger as pequenas mudas de amor-perfeito que há poucos dias havia plantado, fiquei toda molhada, após dois dias chuvosos, finalmente o sol.

A noite anterior tinha sido difícil e as lágrimas pareciam concorrer com a chuva que escorria na vidraça que agora o sol começava a lamber, levantei sem pressa ou vontade, retirei a lona de sobre as plantas e três vasos completamente repletos de flores me deram as Boas-vindas. Mais uma vez a natureza me presenteava com suas belezas, e me ensinava a ser paciente com as dores do mundo.

Hoje compreendo que como este jardim, a vida tem flores maravilhosas e coloridas, mas que também há ervas daninhas. Que flores morrem e outras renascem, no inverno as borboletas vão embora, mas que em setembro elas voltam e assim é a vida, também descobri que não sou uma cuidadora de jardins, este jardim é meu cuidador e me cuida com muito amor!


Jussara Rocha Souza

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Canção da dor

 



O que você entende de dor

Quando de ti foi levado seu amor

Que todos dias tem que viver 

Enquanto quem mais amava teve que morrer

O que você entende de dor

Quando este nó na garganta não se desfaz

E mesmo chorando por dentro, você tenta, tenta e se refaz

O que você entende por dor

Quando toca a nossa canção preferida

E você então chora escondida 

Promete pra si mesma que não vai sofrer 

Mas lembra que ninguém retorna depois de morrer

Só quem perdeu seu amor

Pode entender esta dor

É a saudade que aperta

A lágrima que no rosto desperta


Jussara Rocha Souza

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Pelas ruas da Cidade Nova nas memórias da minha juventude




Como faz bem lembrar os tempos de mocidade. Nada tem a ver com idade, é sensibilidade, romantismo e frescor de viver. Hoje até os erros viraram saudade, namoros escondidos, o brilho do olhar, eu passeava pelas ruas da Cidade Nova levando alegria nos passos, sonhava em viajar pelo mundo, estudar e ser muito feliz. A vida não era fácil naqueles tempos, mas eu lutava por ela como uma leoa, eu queria ser feliz. Dona da palavra kkk brigava por meus ideais e pelo que acreditava ser o certo. Eu hoje mudei muito, às vezes as lições são fortes por demais e os "professores" muito cruéis, acabam por nos calar, mas tem sempre um papel e uma caneta para nos expressar. Mas voltamos aos tempos de juventude, tudo era motivo de rebeldia, e também de flertes e conversas animadas com a minha irmã e primas. Fui criada por pais rígidos e tudo me era proibido, então tudo era feito escondido, o meu pai era da direita e eu mesmo sem entender muito de política para lhe contrariar era da esquerda e daí peguei gosto pelos comissios nos palanques da cidade, um dia na mesa na hora do almoço falei em alto e bom som: — Ele vai voltar! Apanhei uma tapa no rosto de sangrar e fiquei sem almoço. Até hoje lembro da cara de fúria do meu pai e do meu avô que achava que mulher devia votar em quem o marido votasse. Enfim sem mais delongas eu era uma jovem rebelde, mas era muito feliz e dentro do meu pequeno limitado mundo existia um universo de pensamentos e esperanças. Nunca pude ir a uma festa ou baile, os meus pais não permitiam, mas dancei nos bailinhos à tarde nas escolas Presidente Vargas e Revocata de Melo de onde o meu pai me tirou várias vezes pelos cabelos, fiz muitos amigos que continuam até hoje na minha vida. Continuo morando na minha amada Cidade Nova, e daqui tenho muitas histórias a contar, desde a minha juventude entre Primeiro de Maio e nas ruas da DomPedro I e arredores, a missa aos domingos nos Salesianos para assistir ao cinema(hoje por ironia moro na frente dos Salesianos), encontrar o meu primeiro amor, que trabalhava no calçamento e que o meu pai proibiu o namoro, pois dizia que ele era Marcelino pão e vinho kkk Antônio, por onde será que andas. Esta é uma crônica da saudade, saudade de quem um dia fui, mas podes ter certeza esta moça continua viva aqui dentro de mim. Qualquer dia destes volto a contar das minhas andanças pelas ruas da minha Cidade Nova. 


Jussara Rocha Souza

sábado, 13 de agosto de 2022

Cecília

 



A poesia é esta vela acesa 

Que por vezes canta tristeza

Outras porém traz alegrias

Mas será sempre poesia 


Poesia é escrever com o coração 

O afago da solidão 

É o amigo

Ao teu lado te ouvindo


Por isto sou poeta

Manter esta porta aberta

Falar de amores

Da vida seus rumores


Hoje o poeta se fez jardim

Plantou versos de jasmim

Carregou de sorrisos este dia

 Para oferecer à  você Cecília!


Minha homenagem a minha amiga de juventude Maria Cecília Cissa .


Esta vela acesa hoje é para ti minha amiga!

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Chuva

 É a chuva que cai

Esperança que esvai Do tempo que já passou De um amor que a morte levou É a chuva com a sua melodia Molhando a poesia Lágrimas de solidão Abafadas no colchão A chuva deixa-me nostálgica Lembranças letárgicas Das quais não quero acordar Para sempre sonhar Eu amo-te tanto E, no entanto Nunca mais o terei Os teus lábios não mais sentirei Os pingos cantam-me uma canção Acalentam o meu coração Que de saudades adormece E então o milagre acontece Jussara Rocha Souza

quarta-feira, 27 de julho de 2022

Suicídio

 



Na ponte escura 

Um vulto se esguia

Nas suas agruras

Grita


Um grito de dor

Quase terror 

Vaga pela escuridão 

Em busca de consolação 


Quem passa neste caminho

Disse ouvir o lamento

Um gemido sozinho

Um corpo no cimento


Dizem que a depressão o assassinou 

De cima da ponte se atirou

Imagino o seu desespero 

E quantos ela matou


Não sei se é causo

Ou verdade

Fico confuso

E na minha realidade 


ouço-te gritar

Um grito de socorro

Não sei se também grito

Ou corro


Mas fico ali a cantar

Uma canção de ninar

A alma atribulada acalmar

E então começo a chorar...


Jussara Rocha Souza 


"Depressão mata"

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Amarelo

 




 Eu sou uma admiradora das belezas da natureza, vejo nelas falas, cantos e encantos que me enchem os olhos. E o amarelo das flores e folhas são minhas preferidas, curam feridas, trazem esperanças e convidam-me a dançar. Foi nos girassóis de Van Gogh que me apaixonei pelas pinturas e foi no belo jardim de girassóis que senti as maiores emoções de Caio Fernando Abreu. Senti o escuro da noite, banhada de lágrimas e o escorrer das manhãs de outono nas folhas amarelas coladas a janela. Hoje caminho pelos campos de girassóis, converso com o meu amigo e tento assim entender as suas angústias e por vezes parecem as minhas, então ouço a sua sinfonia em meio ao céu estrelado. Volto ao jardim e concedo-me o direito de amar-te, nas folhas amarelas do teu caderno de versos, abraço-te, você foi-se e não mudou muitas coisas por aqui, ainda se fala de guerras, não só a terrível guerra das armas e bombas. As íntimas também estão a matar, com seu preconceito e preceitos que trazem solidão e dor. Então você olha-me, doce, terno e diz-me. Calma, não será eterno. Lembro que girassóis sempre apontam em direção ao sol, talvez eles queiram nos falar de calor, amor e dizer que ainda há esperanças. Que outros como eu enxergara a beleza e a dor no amarelo das suas flores, mas que amaram, amaram tanto que transformam o seu amor em telas e versos. E eu sou grata por vocês ensinarem-me tanto, com amor Van e Caio! 


Jussara Rocha Souza

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Outonal

 



Me sinto outonal 

Folhas caindo

Limpando meu emocional

O velho amarelo

Dando vida ao verde

Deixando brotar os galhos

Sem vínculos com o antigo 

Sem bagagens a carregar

Apenas deixando florescer 

Renascer

Renascer 

Florescer 


Jussara Rocha Souza

domingo, 3 de julho de 2022

Saudade

Saudade?
Saudade é a tinta fresca no quadro da memória e que por um descuido foi tocada e ficou ali a impressão pra sempre marcada.
É acordar neste domingo com um samba enviado por um amigo e que desperta em mim esta história. 
Saudade?
É esta prosa meio sem jeito, com aperto no peito e a nostalgia do que viveu um dia.
É a melancolia sentada no balanço do tempo, inevitável, inefável e que vem nos visitar.
Saudade?
É sorrir sozinha, fazer caras e bocas para as lembranças que lhe avizinha, como se aqui estivesses.
É o samba na vitrola, " as rosas não falam" diz Cartola e eu no meu imaginário de criança te convido à esta dança. 
Saudade?
É o barco feito de jornal, soldado cabeça de papel, dançar em cima dos seus pés, ouvir café Nice e Noel...
" E a noite varava a madrugada, o café Nice era um pedaço do céu " e aqui continuo eu, com a saudade a me visitar sem esperar, até que o balanço do tempo venha e me leve para junto de ti e então iremos embalar a saudade de outros, com sambas, poesias e lembranças boas a povoar nosso quadro da memória. 

Jussara Rocha Souza 



quarta-feira, 29 de junho de 2022

Janelas da alma

 



Abri as janelas da alma

Coloquei violetas no parapeito 

Assim meio sem jeito

Entoei uma canção 

Ela falava de amores tardios

Quereres arredios

Do toque leve das mãos 

Mas era assim mesmo uma canção 

O sol estava lindo

E merecia deixar entrar a luz

Nunca mais escuridão 

Dizia o coração 

Continuei a cantarolar

E um pássaro parou a me fitar

Quando se abre a janela

Mesmo que seja uma fresta

A esperança vem nos visitar


Jussara Rocha Souza