quinta-feira, 26 de abril de 2018

O quarto escuro do cérebro

Dizem que todos temos um quarto escuro no cérebro e que nele ficam guardadas na memória o que não queremos ou não devemos lembrar.
Quando criança tinha medo do escuro e quando a luz se apagava o terror noturno e solitário se instalava. Sombras tornavam-se monstros vorazes e grandiosos e qualquer ruído era causa de pavor.
Durante anos viveu a angústia de dormir no escuro, e seus pais em sua maternal ignorância ainda o assombravam com figuras dantescas como 'homem do saco", "bicho papão", o escurecer travava uma luta com seu interior e foi então que ele foi apresentado a um senhor chamado medo.
Com o passar da idade, a vida já adulta, os medos eram outros, o medo das perdas, dos amores, carreira, família, saúde, filhos, tantas responsabilidades que o mundo dos adultos trazem que no fundo só desejava que o problema fosse seu pequeno quarto escuro.
Mas como ser humano adulto aprendeu a se superar, criou uma couraça para tudo enfrentar, a vida que convenhamos não é nada fácil colocou um escudo em seus sentimentos e assim se fez forte e insensível a dor dos seus irmãos e olhe não era por mal não, afinal não podia ser pra sempre um menino.
Tudo seguia seu curso natural, um homem agindo dentro do seu mundo animal, muitas vezes apontando o dedo, julgando o que lhe acha imoral ou normal, criticando a fraqueza de quem não consegue ser fortaleza. Como não pode ? Como não consegue ? Será que não tem fé ? Será isto frescura ? Coisa de quem não tem o que fazer ? Perguntas cruéis a quem ja não resiste mais.
Hoje quando deitou teve medo e lembrou do irmão segurou a cabeça entre as mãos e chorou de emoção, aquele irmão que tem um medo instalado dentro do seu coração, que lhe impedi a ação, consome seus membros e o mata um pouco a cada dia.
Hoje sentiu medo e lembrou do irmão e doeu muito lembrar do seu sofrer, queria poder lhe tirar essa ansiedade, está angústia, e de novo lhe devolver a alegria.
Hoje sentiu medo e por fim matutou: me desculpe eu pensei que o bicho papão tinha ficado na infância, não sabia que ele tinha feito morada na sua mais profunda emoção, somos fruto da Criação, mas imperfeitos em nossa condição.
Vem, segura minha mão, vamos seguir em outra direção, abrindo uma fresta a cada novo dia até que o sol inunde de vez este quarto escuro.

Dedico está prosa a minha irmã Janete Rocha