sábado, 21 de março de 2015

Contos de roda de chimarrão


O dia mau amanheceu e ele estava na lida há horas, o corpo moreno queimado do sol e os vincos no rosto mostravam o tanto de horas a fio no trabalho do campo.
As mãos calejadas pelo cabo da enxada davam a ele a aparência de um homem rude, sempre foi de poucas palavras e nenhum sorriso.
Ninguém sabia que dentro daquele peito havia um coração que batia quase em desespero, mas tinha aprendido desde menino a guardar seus sentimentos, criado como filho de empregado em uma fazenda nunca teve muita chance de reclamar nada, seus pais deviam muita obrigação aos patrões e o criaram com o medo e o sentimento de dever alguma coisa a eles.
Mas quando soltava o trabalho sentava-se em baixo do arvoredo e lá ficava a tocar canções de amor em seu violão e quando as estrelas começavam a cobrir o céu fechava seus olhos e ficava a sonhar com quem um dia ia conhecer e amar.
E foi em uma destas noites que uma figura feminina lhe apareceu em meio a escuridão, linda, de cabelos e olhos negros como a noite lhe sorriu, mas foi tão breve que ele achou que tivesse cochilado e sonhado com esta moça.
No dia seguinte aquela imagem o acompanhou o dia todo e quando acabou seu serviço foi para o arvoredo tocar seu violão, naquele dia as canções eram ainda mais românticas e quando a noite chegou e o céu se cobriu de estrelas ela apareceu, roçou seus lábios no dele e ali mesmo se amaram.
O caboclo já não era mais o mesmo, seus olhos tinham um brilho diferente, fazia a lida depressa e corria para o arvoredo a espera de sua amada, até que um dia o semblante do moço se escureceu e o violão não tocava mais canções de amor e sim um lamento tão triste que doía a alma de qualquer vivente que o escutasse. Os dias passavam e o moço definhava a olhos vistos, foi encontrado morto embaixo do arvoredo olhando para o céu em uma noite estrelada, no rosto uma lágrima caída.
Durante muito tempo comentou-se sua morte, uns diziam que foi por amor, que o patrão desconfiado das atitudes estranhas de sua filha mandou para um colégio interno na capital para nunca mais voltar. Só sei que em noites estreladas ouve-se um violão a tocar uma canção de amor, ali bem embaixo do arvoredo onde os amante costumavam se encontrar e quando isto acontece um pingo d’água cai do céu como a lágrima do caboclo a chorar por sua amada!