quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Fulano de tal




Era muito pequeno, chegava a ser franzino, a fome e os maus tratos naquele casebre sujo o impediram de crescer de forma normal igual aos meninos de sua idade.
A barriga saliente denunciava a presença de vermes que se alojavam em seu ventre e lhe consumiam as forças, embora os lábios sorrissem os olhos eram tristes e sem vida!
E foi desta maneira que ele cresceu, em meio à miséria, falta de amor, falta de pão, falta de tudo!
Ir a escola era um tormento, não conseguia entender o porquê de estar lá, eram motivo de riso e chacotas por parte dos colegas que debochavam de seus tênis furados e chinelos de dedos que deixavam a vista os pés abichados.
A única coisa boa era hora da merenda que matava sua fome e era a única refeição daquele dia.
Queria ser jogador, cantor de rap e quem sabe fazer sucesso e então seria o “senhor” fulano de tal e de fome nunca mais passaria mal.
O barraco de um só cômodo abrigava além dele mais oito irmãos, nenhum sabia quem era o pai, a mãe engravidava e deixava todos apreensivos, seria mais um a comer, menos alimento e mais choro de fome, frio e falta de tantas outras coisas.
A mãe dava um duro danado, mas diante de tanta gente o dinheiro era nada, desiludida e sem muita esperança desafogava as magoas na bebida e então agredia física e moralmente seus filhos, culpando-os pela miséria vivida, chamando o suposto pai de traste e prevendo o mesmo destino ruim do pai aos filhos.
E assim seguia a vida de meu pequeno menino que crescia em idade, mas não no corpo e em tamanho. Cedo conheceu o furto, quando por fome roubou laranjas na feira, depois começou a ser aviãozinho dos traficantes e aos doze anos teve sua primeira arma.
Sentiu-se homem e pela primeira vez entrou para o “maravilhoso” mundo das drogas e sentiu a força do poder do trafico no morro.
Em certa noite em meio a uma disputa por ponto de venda do trafico ele morreu assim como nasceu, pequeno e franzino.
Foi enterrado como indigente, será apenas mais um fulano de tal, seu corpo ninguém reclamou.
Esta prosa é em homenagem aos João, Antonio, Luiz, Pedro, e outros tantos nomes que morrem todos os dias vitimas da miséria, violência e descaso e que serão apenas mais um número nos registros sociais.


domingo, 19 de agosto de 2012

A idade do coração



Esta menina que vive dentro de mim,
Que ama o amor como ninguém jamais amou...
Sente ainda o perfume de jasmim,
Que nas páginas amareladas segredou...

No rosto o tempo abre sulcos,
Mas a alma recusa-se a entender...
Que a idade do corpo da menina,
Não pode ao coração envelhecer...

A paixão é quem aquece a vida,
Acelera, palpita o coração...
Reescreve as páginas vividas,
Acaba com a solidão...

E quando me pego aqui sonhando,
Como sonhava em menina...
A alma me da à certeza,
Que a idade do coração...
Não é o corpo que determina!