Se vier esta noite
Deixarei a porta entre aberta
Dormirei assim descoberta
Para que possas me cobrir
Então quando acordar
E sentir meu corpo quentinho
Saberei, você esteve aqui!
Jussara Rocha Souza
O mundo visto e revisto através do leitor, criando sonhos e realidades. Venha participar deste mundo, lendo meus artigos. Seja bem vindo!
Se vier esta noite
Deixarei a porta entre aberta
Dormirei assim descoberta
Para que possas me cobrir
Então quando acordar
E sentir meu corpo quentinho
Saberei, você esteve aqui!
Jussara Rocha Souza
Meu pé de pêssego floriu
Não é março ou abril
Mês das flores no Japão
Mas é Agosto
E eu saboreio com gosto
Minhas flores de pessegueiro
Minhas cerejeiras a lá brasileiro!
Jussara Rocha Souza
Aqui não tem ninguém
O dia frio me remete a lembranças
Me pergunto onde ficou o meu alguém
Me visto de fantasias
Solto este grito preso
Em minha garganta
Quero mais
Preciso de mais
Quero cantar
E como bailarina dançar
Dançar
Rodopiar
Soltar a menina
Que reina em mim
Sentir o ar gelado da estação
Bater em meu rosto
Enquanto a vitrola
Toca nossa canção!
Ventos
Hoje o vento passou
Deixou marcas
Roubou
Levou consigo
Meu melhor amigo
Deixou a dor
Da separação
Hoje o vento passou
E audaz
Deixou marcas
De um temporal
Que destrói
E deixa pra trás
Tenho receio de ventos
Só é bonito
Em catavento
O mesmo que refresca no calor
Passou e levou meu amor
Será esta minha sina
Esperar primaveras
Já que o inverno
Com seus ventos
Levou consigo minha vida!
A velha cadeira de balanço hoje já não é ocupada, ficaram apenas as lembranças...
Eu tinha exatamente nove anos quando ele apareceu em nossa casa, até então eu não o conhecia.
Trazia junto a si pirulitos redondos, gigantes e coloridos, fiquei encantada com ele, sim, ele era meu avô. Um senhorzinho frágil e com um coração maravilhoso que só os avós tem, ele realmente era especial, tinha histórias mirabolantes que me levavam a sonhar .
Meu avô me fez conhecer os sonhos, me falava sobre seres encantados que viviam em florestas, usavam a magia das plantas e curavam as pessoas.
Meu avô foi embora quando eu tinha treze anos, lembro de meus pais chorando, sabia o que tinha acontecido.
Não vejo a morte como algo triste, o contemplo em meio as plantas, no meio dos seres da natureza trazendo cura para espíritos necessitados.
Meu avô não me ensinou a contar histórias ele me ensinou a ser a história, fazendo de mim princesa, fada, sereia ou ser a melhor protagonista de meu próprio conto!
Hoje avó sento na velha cadeira de balanço e conto a meus netos sobre um velhinho que um dia andou por aqui, espalhando fantasias.
Jussara Rocha Souza
A vassoura lambe a areia
No varal roupas dão o colorido
Junta-se a ave que gorgeia
Espetáculo por Ele gerido
É tudo tão belo
A simplicidade
Assim singelo
Sem pretensão, felicidade
Porta e janela escancarada
O assoalho de tacos
Conta passos de um passado
Ao longe o som da viola
Eis aqui meu lugar
Espalho sementes de girassol
Pelos cômodos da casa
Deixo entrar o sol
Sento a mesa
Observo os pássaros a entrar
Me alimento da natureza
Deus está neste lugar
Jussara Rocha Souza
Faz tempo que não te vejo
Por isto escrevo
Não sei mais o que é amar
Sinto o balanço do mar
Mas não há barco para navegar
Sinto falta do frio na barriga
Do enfeitar da rapariga
Para esperar o amado
No dia marcado
Escrevo cartas ao vento
Palavras de contentamento
De quem ama a saudade
Daquela tal felicidade
O vento entende e responde
Com a triste folha que cai
Igualmente a esta lágrima
De que dos meus olhos sai!
Jussara Rocha Souza
Crônica
Esta semana em uma publicação no face foi lembrado o Cine da VILA( o pulguinha) da Rua Caldas Júnior, neste lugar muitas histórias se passaram assim como as fitas que passavam na sua tela.
Eu morava na Primeiro de Maio e estava começando a me interessar por rapazes, tinha entre quinze e dezesseis anos, minha mãe havia tido um bebê e eu ia toda semana a um mercado que existia na Presidente Vargas um pouco antes do pórtico buscar leite em pó para minha irmã!
Ia por cima dos trilhos, cheia de vida, sorriso no rosto e uma ânsia enorme por conhecer o mundo, neste caminho haviam dois rapazes, um quase na frente da casa do outro, em ambos lados dos trilhos, Arlindo e Ademir, os dois eram alvo de meus olhares o que era correspondido por eles.
Nunca falamos, eram só olhares, então um dia eles vieram até a mim saber quem eu queria namorar, eu nem sabia o que responder e saí correndo.
Então foi que os meninos marcaram uma luta em frente ao cine pulguinha e quem fosse o vencedor iria me pedir em namoro, eu fui saber disto por eles próprios depois de feita as amizades.
Foi então que na próxima semana ao ir ao mercado não vi Arlindo no portão e na beira do trilho estava Ademir a me esperar.
Deu início a um grande amor, inocente, apaixonado, queria ir todos dias no mercado, todo momento era motivo para nos encontrarmos, nunca houve sexo, era amor, planos de futuro, juras de amor, beijos inesquecíveis, tudo nele era lindo, as conversas no trapiche do parque, os beijos roubados atrás da esquina até que? Meu pai descobriu, alguém contou e eu fiquei de castigo, não podia ir mais ao mercado, não podia sair na frente de casa, era monitorada dia e noite.
O irmão dele o Zé e um amigo em comum o Paulo entregavam bilhetes a minha irmã que repassava para mim, um dia resolvemos escrever cartinhas para a rádio dedicando música um para o outro, lembro até hoje as canções, ele excuse-me do Júnior e eu a noite e a despedida de Angela Maria.
Passei o dia do lado do rádio, e quando o locutor falou nossos nomes e nossas dedicatórias um ao outro, minha mãe ouviu e enlouqueceu. Então o romance não havia terminado e medidas mais drásticas foram tomadas, nosso último encontro foi dentro do cemitério, minha mãe iria levar flores no túmulo de alguém e eu teria que ir junto, se ficasse em casa poderia ir vê-lo e meu pai tinha avisado a minha mãe que nunca mais poderia acontecer.
Minha irmã avisou Ademir e trocamos pela última vez beijos apaixonados atrás dos túmulos, voltei correndo para perto da mãe, que desconfiada fez a busca e o encontrou logo adiante, entre insultos e tapas no rosto fomos separados definitivamente.
Soube que ele faleceu dois anos depois de uma leucemia e segundo amigos próximos fomos namorados até o último momento dele, que pediu para me avisar sobre sua morte, mas meus pais trocaram de residência.
Amores adolescentes tão repletos de significados, tão puros e inocentes, meu primeiro amor te dedico esta crônica de hoje, não com tristeza, mas com saudades daqueles meninos cheios de sonhos.
Jussara Rocha Souza
Serei eu esta casa abandonada
De portas e janelas fechadas
Abandonada por seus moradores
No jardim mortas flores
Assim me sinto
No bar o velho e amargo absinto
Já não o bebo
Bebo lágrimas de aconchego
Tudo ficou parado no tempo
A mesa e o revestimento
O quadro desbotado
Seu lugar na parede marcado
O cuco perdeu o pêndulo
O cérebro já caduco
Deixou de sentir
Nesta casa não há mais existir!
Jussara Rocha Souza
A demência em idosos é penoso, para eles e para quem deles cuida.
Muitos são abandonados neste momento, a vida é um plantar e colher, seja você um semeador do bem para que na velhice colha bons frutos.
Quando a dor gritante invade meu ser, não consigo compreender, choro o vazio que não me deixa viver.
É uma lacuna, um vão escondido nas profundezas de meu cérebro, oculto, subentendido por mim como dor.
Não lembrar me dói e ao mesmo tempo me protege, existe um quê de melancolia que por vezes me bate a porta, que ao coração corta e me faz sofrer.
Sinto que o passado encarcerou minhas lembranças em um porão, alguém roubou minha inocência, machucou minha essência e depois trancafiou tudo isto no meu quarto escuro do subconsciente que não me deixa lembrar mas que minha alma sente.
Tem noites que acordo gritando, um grito de medo, com horror, há alguém lá, mas ficou naquele lugar, que não consigo decifrar.
Levanto, abro a janela, lá no final da rua uma menina corre em direção a luz, enfim acordo, o pesadelo acabou, a menina voltou para seu interior.
Jussara Rocha Souza
Gosto da sutileza
Do tocar
Do tocar a alma
A doce calma
Carrego no íntimo flores
E brilho de estrelas
Gosto de sutilezas
Do refinamento tênue
De um olhar
Do se dar
Sem esperar
A simplicidade do sentir
A espontaneidade
De ser sem precisar fingir
Jussara Rocha Souza
São estes guardados
No recôndito profundo
No âmago escondido
Ferindo fundo
Estes que não conto a ninguém
Roubam minha dignidade
Deixam de ser alguém
Cárcere privado da verdade
São males da vivência
Ferro ferindo
A decência
Manchando a inocência
Um coração Lupiscinico
Não consegue deixar de sofrer
Cínico
O outro lhe rouba o viver
Jussara Rocha Souza
Busco por ti meu amado
Nas noites de céu estrelado
No ouro dos fios dourados
Que nos ligam a eternidade
Não são efemeridades
Ah! Meu amado quanta saudade
De nossa felicidade
Da nossa liberdade
Da sombra embaixo da pitangueira
Do banho de mangueira
De coisas banais
Tão raras e atemporais
Meu amado o tempo é só detalhe
Lembra na árvore o entalhe
Somos que nem este tronco
Enraizados um no outro
Adeus amado meu
O dia já amanheceu
E a realidade me diz
Que a estrela adormeceu
Jussara Rocha Souza