domingo, 27 de agosto de 2023

Sonho




Se vier esta noite

Deixarei a porta entre aberta

Dormirei assim descoberta

Para que possas me cobrir

Então quando acordar

E sentir meu corpo quentinho

Saberei, você esteve aqui!


Jussara Rocha Souza

Pé de pêssego

 Meu pé de pêssego floriu

Não é março ou abril

Mês das flores no Japão

Mas é Agosto

E eu saboreio com gosto

Minhas flores de pessegueiro

Minhas cerejeiras a lá brasileiro!


Jussara Rocha Souza


Bailarina




Aqui não tem ninguém

O dia frio me remete a lembranças

Me pergunto onde ficou o meu alguém

Me visto de fantasias

Solto este grito preso

Em minha garganta

Quero mais

Preciso de mais

Quero cantar

E como bailarina dançar

Dançar

Rodopiar

Soltar a menina

Que reina em mim

Sentir o ar gelado da estação

Bater em meu rosto

Enquanto a vitrola

Toca nossa canção!

Ventos

 Ventos



Hoje o vento passou

Deixou marcas

Roubou

Levou consigo

Meu melhor amigo

Deixou a dor

Da separação

Hoje o vento passou

E audaz

Deixou marcas

De um temporal

Que destrói

E deixa pra trás

Tenho receio de ventos

Só é bonito

Em catavento

O mesmo que refresca no calor

Passou e levou meu amor

Será esta minha sina

Esperar primaveras

Já que o inverno 

Com seus ventos 

Levou consigo minha vida!

sábado, 26 de agosto de 2023

Meu avô um ser encantado




A velha cadeira de balanço hoje já não é ocupada, ficaram apenas as lembranças...

Eu tinha exatamente nove anos quando ele apareceu em nossa casa, até então eu não o conhecia.

Trazia junto a si pirulitos redondos, gigantes e coloridos, fiquei encantada com ele, sim, ele era meu avô. Um senhorzinho frágil e com um coração maravilhoso que só os avós tem, ele realmente era especial, tinha histórias mirabolantes que me levavam a sonhar .

Meu avô me fez conhecer os sonhos, me falava sobre seres encantados que viviam em florestas, usavam a magia das plantas e curavam as pessoas.

Meu avô foi embora quando eu tinha treze anos, lembro de meus pais chorando, sabia o que tinha acontecido.

Não vejo a morte como algo triste, o contemplo em meio as plantas, no meio dos seres da natureza trazendo cura para espíritos necessitados.

Meu avô não me ensinou a contar histórias ele me ensinou a ser a história, fazendo de mim princesa, fada, sereia ou ser a melhor protagonista de meu próprio conto!

Hoje avó sento na velha cadeira de balanço e conto a meus netos sobre um velhinho que um dia andou por aqui, espalhando fantasias.


Jussara Rocha Souza

Sementes de girassol

 



A vassoura lambe a areia

No varal roupas dão o colorido

Junta-se a ave que gorgeia 

Espetáculo por Ele gerido


É tudo tão belo

A simplicidade

Assim singelo

Sem pretensão, felicidade


Porta e janela escancarada

O assoalho de tacos

Conta passos de um passado

Ao longe o som da viola


Eis aqui meu lugar

Espalho sementes de girassol

Pelos cômodos da casa

Deixo entrar o sol


Sento a mesa

Observo os pássaros a entrar

Me alimento da natureza

Deus está neste lugar


Jussara Rocha Souza

Cartas ao vento




Faz tempo que não te vejo

Por isto escrevo

Não sei mais o que é amar

Sinto o balanço do mar

Mas não há barco para navegar

Sinto falta do frio na barriga

Do enfeitar da rapariga

Para esperar o amado

No dia marcado

Escrevo cartas ao vento

Palavras de contentamento

De quem ama a saudade

Daquela tal felicidade

O vento entende e responde

Com a triste folha que cai

Igualmente a esta lágrima

De que dos meus olhos sai!


Jussara Rocha Souza

sábado, 19 de agosto de 2023

O primeiro amor nunca se esquece

 Crônica




Esta semana em uma publicação no face foi lembrado o Cine da VILA( o pulguinha) da Rua Caldas Júnior, neste lugar muitas histórias se passaram assim como as fitas que passavam na sua tela.

Eu morava na Primeiro de Maio e estava começando a me interessar por rapazes, tinha entre quinze e dezesseis anos, minha mãe havia tido um bebê e eu ia toda semana a um mercado que existia na Presidente Vargas um pouco antes do pórtico buscar leite em pó para minha irmã!

Ia por cima dos trilhos, cheia de vida, sorriso no rosto e uma ânsia enorme por conhecer o mundo, neste caminho haviam dois rapazes, um quase na frente da casa do outro, em ambos lados dos trilhos, Arlindo e Ademir, os dois eram alvo de meus olhares o que era correspondido por eles.

Nunca falamos, eram só olhares, então um dia eles vieram até a mim saber quem eu queria namorar, eu nem sabia o que responder e saí correndo.

Então foi que os meninos marcaram uma luta em frente ao cine pulguinha e quem fosse o vencedor iria me pedir em namoro, eu fui saber disto por eles próprios depois de feita as amizades.

Foi então que na próxima semana ao ir ao mercado não vi Arlindo no portão e na beira do trilho estava Ademir a me esperar.

Deu início a um grande amor, inocente, apaixonado, queria ir todos dias no mercado, todo momento era motivo para nos encontrarmos, nunca houve sexo, era amor, planos de futuro, juras de amor, beijos inesquecíveis, tudo nele era lindo, as conversas no trapiche do parque, os beijos roubados atrás da esquina até que? Meu pai descobriu, alguém contou e eu fiquei de castigo, não podia ir mais ao mercado, não podia sair na frente de casa, era monitorada dia e noite.

O irmão dele o Zé e um amigo em comum o Paulo entregavam bilhetes a minha irmã que repassava para mim, um dia resolvemos escrever cartinhas para a rádio dedicando música um para o outro, lembro até hoje as canções, ele excuse-me do Júnior e eu a noite e a despedida de Angela Maria.

Passei o dia do lado do rádio, e quando o locutor falou nossos nomes e nossas dedicatórias um ao outro, minha mãe ouviu e enlouqueceu. Então o romance não havia terminado e medidas mais drásticas foram tomadas, nosso último encontro foi dentro do cemitério, minha mãe iria levar flores no túmulo de alguém e eu teria que ir junto, se ficasse em casa poderia ir vê-lo e meu pai tinha avisado a minha mãe que nunca mais poderia acontecer.

Minha irmã avisou Ademir e trocamos pela última vez beijos apaixonados atrás dos túmulos, voltei correndo para perto da mãe, que desconfiada fez a busca e o encontrou logo adiante, entre insultos e tapas no rosto fomos separados definitivamente.

Soube que ele faleceu dois anos depois de uma leucemia e segundo amigos próximos fomos namorados até o último momento dele, que pediu para me avisar sobre sua morte, mas meus pais trocaram de residência.

Amores adolescentes tão repletos de significados, tão puros e inocentes, meu primeiro amor te dedico esta crônica de hoje, não com tristeza, mas com saudades daqueles meninos cheios de sonhos.


Jussara Rocha Souza

domingo, 13 de agosto de 2023

 Tenho um sol em meus olhos e um jardim florido em meu coração.

Mesmo em dias sombrios quando meu sol se esvai e dos meu olhos correm lágrimas aproveito e rego com elas meu jardim interior!


Jussara Rocha Souza


Demência




Serei eu esta casa abandonada

De portas e janelas fechadas

Abandonada por seus moradores

No jardim mortas flores


Assim me sinto

No bar o velho e amargo absinto

Já não o bebo

Bebo lágrimas de aconchego


Tudo ficou parado no tempo

A mesa e o revestimento

O quadro desbotado

Seu lugar na parede  marcado


O cuco perdeu o pêndulo

O cérebro já caduco

Deixou de sentir

Nesta casa não há mais existir!


Jussara Rocha Souza 


A demência em idosos é penoso, para eles e para quem deles cuida.

Muitos são abandonados neste momento, a vida é um plantar e colher, seja você um semeador do bem para que na velhice colha bons frutos.

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Pesadelo




Quando a dor gritante invade meu ser, não consigo compreender, choro o vazio que não me deixa viver.

É uma lacuna, um vão escondido nas profundezas de meu cérebro, oculto, subentendido por mim como dor.

Não lembrar me dói e ao mesmo tempo me protege, existe um quê de melancolia que por vezes me bate a porta, que ao coração corta e me faz sofrer.

Sinto que o passado encarcerou minhas lembranças em um porão, alguém roubou minha inocência, machucou minha essência e depois trancafiou tudo isto no meu quarto escuro do subconsciente que não me deixa lembrar mas que minha alma sente.

Tem noites que acordo gritando, um grito de medo, com horror, há alguém lá, mas ficou naquele lugar, que não consigo decifrar.

Levanto, abro a janela, lá no final da rua uma menina corre em direção a luz, enfim acordo, o pesadelo acabou, a menina voltou para seu interior.


Jussara Rocha Souza

Sutilezas

 


Gosto da sutileza

Do tocar

Do tocar a alma

A doce calma

Carrego no íntimo flores

E brilho de estrelas

Gosto de sutilezas

Do refinamento tênue

De um olhar

Do se dar

Sem esperar

A simplicidade do sentir

A espontaneidade

De ser sem precisar fingir


Jussara Rocha Souza


segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Segredos da alma

 


São estes guardados

No recôndito profundo 

No âmago escondido

Ferindo fundo


Estes que não conto a ninguém

Roubam minha dignidade

Deixam de ser alguém

Cárcere privado da verdade


São males da vivência

Ferro ferindo

A decência

Manchando a inocência


Um coração Lupiscinico 

Não consegue deixar de sofrer

Cínico

O outro lhe rouba o viver


Jussara Rocha Souza

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

A meu amado




Busco por ti meu amado

Nas noites de céu estrelado

No ouro dos fios dourados

Que nos ligam a eternidade


Não são efemeridades

Ah! Meu amado quanta saudade

De nossa felicidade

Da nossa liberdade


Da sombra embaixo da pitangueira

Do banho de mangueira

De coisas banais

Tão raras e atemporais


Meu amado o tempo é só detalhe

Lembra na árvore o entalhe

Somos que nem este tronco

Enraizados um no outro


Adeus amado meu

O dia já amanheceu

E a realidade me diz

Que a estrela adormeceu


Jussara Rocha Souza