domingo, 6 de novembro de 2011

O TREM


O trem apitou na estação me tirando de meu torpor, todos dias ele vem para me lembrar que estou 'viva", se é que isto é viver!
Parece que já chegou a primavera, digo parece, pois há muito não vejo calendários, estações...
Os dias são todos iguais, sempre os mesmos gestos mecânicos, de quem apenas acostumou a fazer os mesmos.
Era também primavera quando te foste, os jardins estavam floridos e tudo parecia lindo, aliás tudo é lindo quando estamos apaixonados.
Lembro quando você chegou, eu molhava o jardim e atingi você com jatos d'água quando passava na calçada.
Fiquei envergonhada, pedi mil desculpas e depois rimos muito juntos e daí começou nossa amizade.
Conversávamos todos os dias, gostávamos das mesmas coisas, parecia que já nos conhecíamos a muito tempo, nos apaixonamos e eu tinha a certeza que nada iria nos separar.
Nunca perguntei de onde tinha vindo, quem era a sua família ou coisas do gênero e ele nunca falou também, nosso amor era perfeito, ninguém jamais me amou assim.
Você tocava meu corpo como se ele tivesse sido sempre seu e eu me deixava levar por esta paixão que incendiava minha alma e todo meu ser.
A realidade parecia que estava do lado de fora da porta, deixei os amigos, como sempre trabalhei em casa não precisava me afastar para ir ao trabalho, minha vida era ele, minha vida era dele.
As vezes você mencionava precisar sair mas nada que demorasse e quando retornava me amava como nunca, minutos eram motivos de saudade para nós, e eu nada desconfiava, estava cega de amor, paixão e desejo.
E veio o verão, o outono, o inverno e o amor crescia cada dia mais, com mais força e vontade e juntos vimos nosso jardim florescer e a primavera novamente chegar.
Lembramos o dia que nos conhecemos, regamos juntos o jardim e acabamos molhados fazendo amor na grama ali mesmo.
Aquela noite você me amou como nunca, nossos corpos eram um só, quando acordei pela manhã você me beijou e disse que iria ter de sair mas já voltava.
Fiquei na vidraça olhando você e pensando no quanto te amava, só que você nunca mais voltou.
Hoje já nem sei quando tempo passou e continuo aqui na mesma janela, na esperança que este trem que um dia o levou te traga de volta.
Meus olhos deixam cair uma lágrima, o trem dá o sinal de partida, mas uma vez você não veio, baixo a cabeça em desanimo e volto para velha cadeira a beira da janela.
Quem sabe amanhã, quando o trem chegar, quem sabe, quem sabe...

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