domingo, 19 de janeiro de 2025

Meu avô um ser encantado



Uma casinha ao pé da serra,  quando chove tem  cheiro de terra.

Um jardim bem florido, na soleira sentava o menino.

Quando ia na cidade, em tempos de festividade, via árvores coloridas, vitrines bonitas, Papai Noel, quem seria ele, que nunca o visitou, moraria no céu?

A mãe dizia que Papai Noel não sobe a serra, seu trenó encalha na terra, o menino fica triste, mas conformado não insiste.

A mãe para não deixar o filho magoado, explica que Papai Noel é um ser encantado, natal é só contado em contos de fadas e que nunca ninguém viu Papai Noel de verdade.

O avô então pesaroso, resolve fabricar um presente para o neto e na noite de natal, coloca o presente no beiral.

O menino acorda com o barulho, vê o presente, e de soslaio a figura do avô com sua barba e cabelos brancos a se esgueirar por entre o arraial, vovô, Papai Noel, que orgulho! E então feliz da vida, dorme o sono dos inocentes, Papai Noel é um ser encantado e ele é meu avô, eu sou neto de Papai Noel, sim, existe Natal na serra, e eu vivo em um conto de fadas, Deus muito obrigado, sou um menino privilegiado!


Jussara Rocha Souza

Juventude transviada

 



A barriga molhada

No tanque a roupa esfregada

Estava lá e "não" sabia

"Lava roupa todo dia, que agonia!"


Tocava no rádio Luiz Melodia 

Ela cantava, gemia e lavava

A criança agarrada a saia

No berço outro de fome desmaiava


Tresloucada, sorria

A fome, a miséria fazia moradia

Ela lavava, lavava roupas, a alma, as feridas 

Enganando a fome com água da bica 


" Uma mulher não pode vacilar"

Daqui a pouco vai chegar a madame

A moral e bons costumes

A mesma que salgou minha carne

Como charque no cortume 


Hoje a melodia

Despertou a memória 

Olhou suas mãos enrugadas

Lembrou do tanque


O sol nas costas ardia

As mãos sangravam

Uma mulher que ousou sonhar

Lavou no tanque o amar


Hoje sabe que esteve lá 

"Uma mulher não pode vacilar"

Mas pode ser abusada, violada, e calada

Em pesadelos a noite vê sua alma libertada!


Jussara Rocha Souza 


Jussara Rocha Souza

Convite



Te convido a visitar minha alma

Ela tem cheiro de jardins

Respira ar de jasmim

Chá de alecrim

E cidreira para a calma


Aqui tem cicatrizes

Curadas por sol edificante 

Transformei-as em luzes

Desfilam assim brilhantes

Por entre folhas gigantes


Fiz da alma jardim

Com pássaros cantantes

Que aos monstros exterminaram

Quando em trevas me assustavam

Suas melodias os afugentaram 


Sou pura alma

A vestimenta do corpo

Esta não me importa

Sou vestida de essências 

Que inibem as maledicências


Meus antídoto para a dor

Um coração repleto de amor

Um jardim de violetas

Vagalumes e suas luzes

Aqui tudo é tão bonito 


Venha, te convido

A conhecer minha alma

Mas venha sem vestes

Pois a mim ela nada me importa

Também quero conhecer tua alma

Do meu coração a vocês

Abro a porta!


Seja bem vindo

A meu jardim interior!


Jussara Rocha Souza

Pintura em acrílico sobre madeira

Floresceu minha alma!