A barriga molhada
No tanque a roupa esfregada
Estava lá e "não" sabia
"Lava roupa todo dia, que agonia!"
Tocava no rádio Luiz Melodia
Ela cantava, gemia e lavava
A criança agarrada a saia
No berço outro de fome desmaiava
Tresloucada, sorria
A fome, a miséria fazia moradia
Ela lavava, lavava roupas, a alma, as feridas
Enganando a fome com água da bica
" Uma mulher não pode vacilar"
Daqui a pouco vai chegar a madame
A moral e bons costumes
A mesma que salgou minha carne
Como charque no cortume
Hoje a melodia
Despertou a memória
Olhou suas mãos enrugadas
Lembrou do tanque
O sol nas costas ardia
As mãos sangravam
Uma mulher que ousou sonhar
Lavou no tanque o amar
Hoje sabe que esteve lá
"Uma mulher não pode vacilar"
Mas pode ser abusada, violada, e calada
Em pesadelos a noite vê sua alma libertada!
Jussara Rocha Souza
Jussara Rocha Souza
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