domingo, 19 de janeiro de 2025

Juventude transviada

 



A barriga molhada

No tanque a roupa esfregada

Estava lá e "não" sabia

"Lava roupa todo dia, que agonia!"


Tocava no rádio Luiz Melodia 

Ela cantava, gemia e lavava

A criança agarrada a saia

No berço outro de fome desmaiava


Tresloucada, sorria

A fome, a miséria fazia moradia

Ela lavava, lavava roupas, a alma, as feridas 

Enganando a fome com água da bica 


" Uma mulher não pode vacilar"

Daqui a pouco vai chegar a madame

A moral e bons costumes

A mesma que salgou minha carne

Como charque no cortume 


Hoje a melodia

Despertou a memória 

Olhou suas mãos enrugadas

Lembrou do tanque


O sol nas costas ardia

As mãos sangravam

Uma mulher que ousou sonhar

Lavou no tanque o amar


Hoje sabe que esteve lá 

"Uma mulher não pode vacilar"

Mas pode ser abusada, violada, e calada

Em pesadelos a noite vê sua alma libertada!


Jussara Rocha Souza 


Jussara Rocha Souza

Nenhum comentário:

Postar um comentário