sábado, 19 de abril de 2025

Sábado de aleluia




Antigamente hoje não tão visto, sábado de aleluia era dia de matar o judas.

Judas seria um boneco com roupas e feições de algum vizinho fofoqueiro, implicante com as crianças da quadra, ou alguém a qual não simpatizava.

Nos dias atuais os judas estão sentados em tribunas, palanques, fazendo comércio nos templos, vendendo a vida humana em troca de dinheiro.

Sim, vendendo a vida humana por interesses próprio, enquanto o povo morre os grandões embolsam o dinheiro da saúde, médicos sem o mínimo de amor ao próximo( tem excessões) que visam só subir na vida, com falcatruas em operações, próteses, vacinas, e tantas coisas mais que ficaria dias escrevendo.

O Judas pode estar aí ao seu lado beijando seu rosto com olho nos seus filhos, nos maridos antes amorosos e que se revelam monstros, ontem foram seis casos de feminicidios no nosso estado.

Judas nunca está muito longe de nós, os encontramos nos lugares em que mais precisamos de apoio, lares, hospitais, igrejas, governantes... Geralmente prometem milagres a vidas desesperadas ou ignorantes roubando não só os bens materiais, mais a fé, sonhos e por fim vidas.

Passamos muitas vezes por Jesus e nem ligamos, e no entanto apertamos a mão do Judas achando que é Jesus.


Jussara Rocha Souza

Sobrevivente




Há dias em que a vida pesa, o passado bate à porta, revira gavetas e faz estragos, rasgos...

Quando criança não entendemos tantas coisas, e no entanto elas vem sendo esclarecidas na maturidade, certezas se desfazem e você se sente traída, envergonhada e magoada. E verás que a vida não se apaga como giz na lousa.

Mas você não tem culpa, sabe que não tem, mas a vida te impõe culpas, dores e tu te sente covarde.

Porque calamos?se o que queremos é gritar, largar tudo e falar o que realmente te faz mal, sim, sou covarde, porque fiquei velha e não há mais forças suficientes para lutar, me acovardei diante da fome, miséria e medos. Todos viram, mas não se importaram, sempre foi assim, hoje andando pelas ruas vejo gente perdida, sem ninguém para se importar também.

Resisto e insisto, mas a dor continua ali, latente, o dedo afundando a ferida e fazendo sangrar. Eu tenho um corpo de carne e osso, um coração ferido e dores a mim atribuídas e não escolhidas.

Então me encolho dentro de mim e deixo a menina interior chorar até cansar, levanto, visto a máscara da vida e sigo em frente.

Tranco a porta, fecho gavetas e brinco de ser feliz, serei atriz? Não, apenas sobrevivendo. 


Jussara Rocha Souza

Valsando ao sabor do vento

 



Nuvens rosáceas bailam pelos céus 

O vento embala as árvores feito carrossel 

Rodopia ao sabor do outono, folhas amarelas

Pintando a vida como aquarelas 

Lá ao longe canta o sabiá 

Canta canções de roda também o piá 

No avarandado a vida bebe nos cabelos grisalhos

O passado visto por olhos nublados

Uma menina dançando com o tempo

Valsando ao sabor do vento!


Jussara Rocha Souza

O amarelo em mim


Acrílico sobre tela



 

Flor noturna

 Acrílico sobre madeira 


O canto do rouxinol

 O canto do rouxinol 



Canta, meu rouxinol

Se és feliz ao cantar

No despedir do sol

Mágico 

Enfeite meu teto 

Por estrelas coberto

E do dia adormeço 

E acordo nos teu braços 

Prisioneira deste canto

Que seduz com maestria

Em noites de lua cheia

Teu canto mágico 

Me incendeia 

Deixe-me tomar

Por inteira

Canta, meu rouxinol

Antes que nasça o sol!


Jussara Rocha Souza

De encontro a teus versos

 De encontro a teus versos


Em meio a tantas vidas

Eu destas repartidas

Fui Machado, João Cabral

Morri de ansiedade em um grenal

E muitas, muitas vezes fui ao meu funeral

Briguei pelo meu latifúndio 

Tal qual Severina 

Mas não havia terra

Era inútil esta guerra

Com Machado fui a fundo

Queria expandir meu mundo

Mas foi Florbela

Que despertou meus versos

De vida e morte

Das paixões e reversos

Morri sim todos dias

De fome, dor e traições 

Não quero deixar de sonhar

Tomara alzheimer não me visitar 

Ainda vivo muitas vidas 

Entre outonos, invernos

Chegadas e partidas 

E amigo poeta

Ainda olho a chuva na janela

E planto girassóis 

A terra já não é tão fértil 

Mas os pensamentos voam

Como borboletas embevecidas 

Embriagadas em minha emoção 

De repente as lágrimas 

Queimam a face como açoite 

Onde estávamos naquela noite?


Jussara Rocha Souza

Sentada no fim do mundo

 Acrílico em tela 



A arte de viver a vida

 A arte de viver a vida


Crônica 


A vida por vezes dói demais, sai do seu eixo, um dia somos jovens, cheios de esperança, agarramos o mundo com as mãos.

Em outras circunstâncias somos velhos e queremos agarrar o mundo com as mãos e não há forças. E então vejo que ficou tanto a fazer, tanto caminho a percorrer, a tão famosa terceira idade está aí para ser vívida, com sua maturidade, conhecimentos e sabedoria, mas muitos já sem forças, com saúde frágil e sem poesia. E não me diga que não se cuidou, que não fez merecer, o tempo e as intempéries sobrevém a todos de uma maneira ou de outra.

Quando jovens achamos que tem tempo para tudo, quando mais velhos percebemos que já não há tempo, seguramos ele com unhas e dentes na esperança de poder ficar mais um pouquinho.

Mas aí eu lembro que não sou eterna, apesar de que gostaria de ser, que o mundo está com excesso de população e que precisamos dar lugar aos que estão por vir.

Não vou dizer que deveria ou não ter feito, sei que fiz o que pude, dei o que de melhor sabia, fui e sou autêntica, e ainda estou aqui, apesar dos pesares.

Já morei numa barraca de lona preta, hoje tenho palácio, já tive fome, hoje tenho banquete, então fui abençoada e saiba que vou continuar querendo agarrar o mundo com as mãos e que esta fome de vida me trouxe até aqui e assim seguirei até partir.


O que te parece o fim é apenas o caminho de volta para o começo!

Viver é uma arte e eu escolhi ser artista.


Jussara Rocha Souza