sábado, 19 de agosto de 2023

O primeiro amor nunca se esquece

 Crônica




Esta semana em uma publicação no face foi lembrado o Cine da VILA( o pulguinha) da Rua Caldas Júnior, neste lugar muitas histórias se passaram assim como as fitas que passavam na sua tela.

Eu morava na Primeiro de Maio e estava começando a me interessar por rapazes, tinha entre quinze e dezesseis anos, minha mãe havia tido um bebê e eu ia toda semana a um mercado que existia na Presidente Vargas um pouco antes do pórtico buscar leite em pó para minha irmã!

Ia por cima dos trilhos, cheia de vida, sorriso no rosto e uma ânsia enorme por conhecer o mundo, neste caminho haviam dois rapazes, um quase na frente da casa do outro, em ambos lados dos trilhos, Arlindo e Ademir, os dois eram alvo de meus olhares o que era correspondido por eles.

Nunca falamos, eram só olhares, então um dia eles vieram até a mim saber quem eu queria namorar, eu nem sabia o que responder e saí correndo.

Então foi que os meninos marcaram uma luta em frente ao cine pulguinha e quem fosse o vencedor iria me pedir em namoro, eu fui saber disto por eles próprios depois de feita as amizades.

Foi então que na próxima semana ao ir ao mercado não vi Arlindo no portão e na beira do trilho estava Ademir a me esperar.

Deu início a um grande amor, inocente, apaixonado, queria ir todos dias no mercado, todo momento era motivo para nos encontrarmos, nunca houve sexo, era amor, planos de futuro, juras de amor, beijos inesquecíveis, tudo nele era lindo, as conversas no trapiche do parque, os beijos roubados atrás da esquina até que? Meu pai descobriu, alguém contou e eu fiquei de castigo, não podia ir mais ao mercado, não podia sair na frente de casa, era monitorada dia e noite.

O irmão dele o Zé e um amigo em comum o Paulo entregavam bilhetes a minha irmã que repassava para mim, um dia resolvemos escrever cartinhas para a rádio dedicando música um para o outro, lembro até hoje as canções, ele excuse-me do Júnior e eu a noite e a despedida de Angela Maria.

Passei o dia do lado do rádio, e quando o locutor falou nossos nomes e nossas dedicatórias um ao outro, minha mãe ouviu e enlouqueceu. Então o romance não havia terminado e medidas mais drásticas foram tomadas, nosso último encontro foi dentro do cemitério, minha mãe iria levar flores no túmulo de alguém e eu teria que ir junto, se ficasse em casa poderia ir vê-lo e meu pai tinha avisado a minha mãe que nunca mais poderia acontecer.

Minha irmã avisou Ademir e trocamos pela última vez beijos apaixonados atrás dos túmulos, voltei correndo para perto da mãe, que desconfiada fez a busca e o encontrou logo adiante, entre insultos e tapas no rosto fomos separados definitivamente.

Soube que ele faleceu dois anos depois de uma leucemia e segundo amigos próximos fomos namorados até o último momento dele, que pediu para me avisar sobre sua morte, mas meus pais trocaram de residência.

Amores adolescentes tão repletos de significados, tão puros e inocentes, meu primeiro amor te dedico esta crônica de hoje, não com tristeza, mas com saudades daqueles meninos cheios de sonhos.


Jussara Rocha Souza

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