Todos dias ia para a beira do tanque, separava peça por peça, batia, esfregava.
O tanque ficava a beira de um muro em um corredor onde passavam pessoas que moravam neste lugar.
Então ela lavava e cantava, a barriga roncando de fome, e ela esfregava, batia a roupa, com lágrimas nos olhos, ao passar alguém sorria, no beco todos comentavam sobre ela, a fome a consumia, os ossos lhe sobressaem a pele e ela cantarolava.
De vez enquanto bebia direto da bica água, enganando o estômago que já doía, o varal coberto de roupas, as costas vergadas pelo desgaste na coluna e ela sorria.
Dizem que ela faleceu recentemente, estava a beira do tanque e teve um mal súbito e morreu, o rádio tocava uma canção e seus lábios estavam entreabertos como se sorrisse.
Nunca a esquecerei, seu sorriso, o branco de seus dentes e da roupa quarada ao sol, da mulher que enganava a fome com água da bica, que cantarolava e sorria enquanto um sol escaldante em suas costas ardia.
Dizem que escutam no corredor barulho de água correndo e que uma canção é ouvida débil, frágil e bonita, por vezes dizem escutar risos, será ela que no seu tanque está a lavar, misturando lágrimas com a água da bica para ninguém notar.
Jussara Rocha Souza
Nenhum comentário:
Postar um comentário