domingo, 1 de setembro de 2019

A solidão de quem ficou no sertão



A tarde ia caindo, ao longe o canto dos pássaros se ouvindo, cada um buscando abrigo fugindo do perigo.
Anunciou a rádio local, a chegada em breve do temporal, aqui a chuva nunca vem e quando aparece pouco se salva do que se tem, fico a me perguntar se este lugar foi esquecido de Deus, ou será que quem o desbravou era ateu e de orar nunca entendeu.
Todos os dias pessoas vão embora, buscam outro destino lá fora, nunca mais retornam, nunca saberemos da vida tiveram melhora. Também já pensei em tudo abandonar e meu quinhão em outros pagos ir buscar, mas cadê coragem de tudo aqui pra trás deixar ficar.
O céu começa a escurecer e meu corpo parece estremecer de novo me assombra os pensamentos, lembro-me de meus pais de cada semente plantada neste chão, do sol a sol, a devastação, o calor de abrasar, a sede que mata de desidratação.
Neste lugar enterrei pai, mãe e irmãos, vi a terra florescer, também a vi secar, nunca quis casar de medo de meus filhos não ver se criar, mas quem diz que consigo desistir. Sou sertanejo e como tal corajoso, seca as lágrimas com o dorso do braço e continua a fechar portas e janelas, revive cenas tal qual novela. É a solidão de quem ficou no sertão.
O céu escurece e o barulho dos trovões estronda na pequena choça, tapa os ouvidos e espera quieta, quase não se ouve nem sua respiração, é uma oração calada ao Deus da criação.
Adormece, sem saber se vai haver amanhecer, mas aqui no sertão é assim, tudo é muito exagerado, é a seca ou é a inundação, se sobreviver continua minha luta me sentido agraciado, mas se caso neste temporal deixar de ser um ser carnal, também serei abençoado, pois de certo em um lugar onde vive um Ser de poder tão especial, deve haver água, pastagens verdejantes e os temporais não me trarão medo, então a Ti continuará a ser grato este sertanejo.

Jussara Rocha Souza

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