sábado, 20 de novembro de 2021

O dia que conheci o preconceito racial




Eu não sabia o que era preconceito racial até ter quinze anos, sempre vi e vejo até hoje todos seres humanos iguais e a cor nunca me chamou a atenção como diferença. 

Chamou a atenção sim, quando me apaixonei com 15 anos por um rapaz negro, lindo, maravilhoso!

Logo ficamos encantados um pelo outro, eu queria que o mundo conhecesse meu amor, então resolvi apresentar Miguel a meus pais(este era o nome de meu amor) e para minha triste e desesperadora surpresa minha mãe fez um escândalo. O namoro foi proibido terminantemente e eu fiquei de castigo, meus pais cuidavam a entrada e saída da escola, eu queria saber o que meu namorado tinha de errado, sapatiei, chorei, espraguejei e escutei minha mãe aos berros dizer: -Ele é um negro, prefiro te ver morta dentro de um caixão do que namorando um negro.

Neste dia mesmo sem entender o porquê vi que as pessoas faziam diferença de cor entre os seres humanos, nossa história não teve um final feliz.

Meus pais me mandaram para outra cidade para esquecer Miguel, na véspera da partida me encontrei com ele e disse que teríamos que dar um tempo, mas que eu o amava muito, choramos muito abraçados e nos despedimos com um longo e apaixonado beijo.

Eram duas horas da madrugada quando bateram palmas no portão, meu pai atendeu e uma senhora com muita raiva esbravejava contra meu pai, sabia que era com Miguel, meu coração me dizia que era.

Meu amor tentou o suicídio, graças a Deus não morreu mas nunca mais foi o mesmo, os remédios que tomou afetaram seu cérebro e ele ficou doente mental. Ainda tentamos ficar juntos quando ele voltou da clínica, mas ele não era mais o mesmo e meus pais se mudaram de residência. Eu também nunca mais fui a mesma, naquela época era menina e a opressão e repressão eram intensa, vivíamos uma ditadura fora e dentro de casa, mas fiquei adulta e me prometi lutar sempre contra toda forma de preconceito. 

Hoje 45 anos depois o encontro pelas ruas da cidade, meu coração dispara e eu baixo os olhos de vergonha diante do que fizeram com ele, um amor inocente, uma vida perdida e qual foi nosso crime, termos cores diferentes.

Estes dias passei a seu lado e mesmo sabendo que ele vive em um mundo alheio ao meu por causa da sua doença senti que me reconheceu, a ignorância nos separou com seu nojento preconceito mas nunca matou o amor que carrego no peito.


Jussara Rocha Souza 


Mini conto baseado em fatos reais.


No dia da consciência negra dedico meu mini conto ao Miguel  onde estiver.

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