sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Acredite se quiser

 Quem conta um conto aumenta um ponto





Meu pai foi embora de casa quando eu tinha 10 anos, minha mãe enlouqueceu de dor e ficamos só eu e mais três irmãos.

Minha mãe em seus desvarios quebrava tudo dentro de casa, pegava "espíritos", tinha delírios, éramos quatro crianças entre 13 a sete anos, assustados, solitários, com muito medo de tudo e de todos.

Nossa casa não tinha luz elétrica e era iluminada a luz de lampião que fazia com que as imagens dentro daquela casa fossem fantasmagóricas, tínhamos amarrado tampas de panelas nas portas e escondido todas facas da casa, pois minha mãe costumava sair nas madrugadas pelas ruas e muitas vezes atentava contra a sua própria vida e a nossa.

Uma tarde bateram a nossa porta, abri e não vi ninguém, ao olhar para o chão vi um papel dobradinho, era uma corrente de orações, dizia que se você fizesse cem cópias desta corrente a São Judas Tadeu ele te concederia um pedido.

Eu corri para dentro e peguei caderno e caneta e comecei a escrever, dizia que depois de escritas as cópias deveriam ser colocadas nas portas das casas uma a uma.

A oração era grande e eu apenas uma criança que tinha esperança de trazer de volta o pai para casa, meus pequenos e finos dedos já doíam, a casa quase sem luz dificultava a tarefa, eram quase meia noite quando terminei de escrever.

Devido o tardar da hora coloquei todas folhas embaixo do meu colchão e prometi que na primeira hora da manhã sairia para destribuir as orações.

Fui colocar meus irmãos na cama e dar o remédio de minha mãe, de repente um barulho ensurdecedor de coisas voando pela casa, como se um vento tivesse aberto portas e janelas e muitas folhas e galhos de árvores se arrastassem pela casa.

Corri em direção a sala e para minha surpresa as folhas escritas das correntes saíam de baixo do colchão e se arrastavam pelas paredes e chão se debatendo contra a porta principal.

Eu e meus irmãos juntamos todas as folhas e saímos de madrugada e entregamos todas as orações, o que foi aquilo até hoje não compreendo, mas nunca esquecerei.

Acredite se quiser!


Jussara Rocha Souza

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