domingo, 24 de setembro de 2023

Tribunal da morte



Em um porão escuro e fétido divido restos com ratos e baratas.

Nunca soube quem era meu algoz, ele tinha o rosto coberto e botas pesadas, nunca falou uma só palavra, mas me matou com todas formas de abuso.

Não sei por quanto tempo fiquei aqui, só sei que não sei mais quem sou, minha mente está confusa, não sei se é dia ou noite, anos, sinto sede, por vezes tomei urina, estou doente.

Quando ouço o barulho da porta já não luto, as visitas tem escasseado, estou tão imunda e magra que mesmo um desgraçado torturador já não tem mais prazer em me estrupar.

Eu acredito em Deus, mas quem é mesmo Deus? Cada dia mais vou perdendo os sentidos, passo horas a dormir, as refeições também escassearam e estou com medo que os ratos me ataquem, pois não há comida para todos nós (ratos, baratas e pequenos insetos)

Queria um desfecho lindo para te contar, com salvamento e alegrias no final, mas não houve, meus ossos foram encontrados durante uma demolição, minha pele abriu feridas e não sei se morri de inanição, tétano ou leptospirose.

Mas posso te contar que antes de tudo isto eu era uma moça normal, com namorado, sonhos, uma família, porém o carrasco chegou como o ladrão, no início levou meus pais, segundo eles meus pais escondiam certos documentos, mas desde o primeiro dia os olhos frio de um deles me congelava o sangue.

Então ele voltou e disse que eu era como meus pais uma pessoa que não podiam confiar, disse que eu teria que prestar esclarecimentos e então me levou até aquele porão.

Soube que muitos foram encontrados como eu, apenas ossadas, outros nunca foram encontrados, mas me pergunto até hoje, por qual tribunal fui julgada e condenada a morte? 


Jussara Rocha Souza

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