Alguns são prisioneiros de si mesmo, outros a vida os tornou assim.
Vivemos no limiar entre a loucura e a sanidade, Vânia é a 'louca' da minha rua, a observo todos dias da minha janela, as vezes a loucura liberta de coisas que a sociedade nos obriga a viver.
Uns conseguem superar, outros 'preferem' enlouquecer, tento na minha ignorância a entender, mas será que a sua loucura não a tornou mais livre e feliz do que as ditas donas de suas faculdades mentais.
Assim vejo Vânia..
Tens a face da rua, sonha com a lua e vive em mundo só seu, sem roupas, perfumes ou etiquetas.
Desistiu de ser ateu, porque é muito triste viver sem Deus e Ele a faz sonhar. Já percorreu becos e vielas, dormiu ao relento e achou que não teria sustento.
É a imagem da terra, crua, com o coração canteiro preparado para germinar, semear, aguar... Vive de suas realidades mas as enfeita com efemeridade, não sabe sua idade, mas é ainda guria neste seu olhar, pés descalço, enfrenta percalço e ainda sorria.
Assim entre o chão e o céu, entre a miséria e a misericórdia vive o homem, horas bicho, horas gente, comem e bebem do mesmo lugar. A observo de minha janela, eu livre no pensar, presa por correntes invisíveis do viver, ela acorrentada pela loucura, livre no seu mundo que ninguém entende, uns riem dela, outras a maltratam, mas ela é livre, livre como os pássaros no céu, a sua mente a libertou daquilo que um dia a matou.
Hoje queria ser ela e experimentar sua loucura, quem sabe dançar nua, pés descalços, cabelos degranhados, não ter com que se preocupar, somente a liberdade de me libertar daquilo que chamam sanidade.
Jussara Rocha Souza
Jussara Rocha Souza
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