quarta-feira, 10 de julho de 2024

Cabideiro (crônica)




Hoje me despi, irei ficar nua, não quero mais ser cabideiro de mim ou de ninguém.

Você também tem se sentindo assim? Então resolva isto logo, eu passei a vida inteira sendo cabide para problemas e situações que não eram minhas.

Carreguei tantas coisas materiais, espirituais, que minhas costas envergara, minhas mãos estão repletas de artrose e uma dor no íntimo que acaba com meus sonhos e alegrias.

E a culpa é de quem? Minha, que permito que me usem, que deixo o coração falar mais alto que a razão, que achei que me doar era sempre pouco, que eu não era o suficiente para as pessoas. E aconteceu que diante de um cabideiro vazio começaram a colocar suas roupas, primeiro vieram as pequenas, era um cachecol, depois foram calças, casacos e quando me dei contas haviam várias pessoas dependuradas no meu cabide, o peso era tanto que começou a dobrar.

Hoje me despi, compreendi que não sou responsável pelos erros ou atos do meu próximo, que o amor é uma via de mão dupla.

Que por mais amor que tu dediques a alguém tem que saber que és humana, carne, sangue, com dores e sentimentos também, que não poder carregar o mundo nas costas não podes te culpar por isso.

Não quero ser cabideiro, quero ser amigo, abrigo, mas nunca mais responsável pelos atos dos outros.

Hoje só, nua, vi que nada era meu, só as dores tuas que deixaram meu corpo repleto de cicatrizes.


Jussara Rocha Souza

Nenhum comentário:

Postar um comentário