Eu tinha uns oito nove anos quando o tio chegou para morar conosco, ia trabalhar no posto de gasolina que meu pai( seu irmão)trabalhava.
Tinha vindo do Povo Novo para Canoas onde morávamos tentar a vida, fiquei encantada com ele, um castelhano alto, bonito e com uns olhos maravilhosos.
Na minha inocência de menina pensava que um dia iria casar com alguém assim, ele no início era meio fechado mas depois era o xodó da casa, brincava conosco, era muito amigo de minha mãe e admirava meu pai como se fosse o dele.
Um dia ele apareceu lá em casa dizendo ter conseguido outro trabalho e que iria embora morar sozinho, nossa aquilo quebrou meu coração de criança, nem despedi dele, fiquei com muita raiva.
Depois de um tempo ele foi nos visitar, a raiva já passada corri para o colo dele, então ele apresentou a noiva( tia Nilce) eu odiei ela, dizia que era muito feia( ela era linda) e fui muito mal educada, o pai envergonhado me botou de castigo.
Então eles casaram e foram morar em Porto Alegre, viemos embora para Rio Grande e demorei a ver ele de novo.
Então adulta precisei me tratar no hospital das clínicas e fui ficar na casa de meus tios, e um deles era meu amado tio Zé, tenho lembranças do sorriso dele, das brincadeiras, um castelhano bravo e namorador.
Amante de um bom churrasco, música, amava Shana Muller e tudo de bom que a vida lhe reservava.
Hoje ele foi morar com Deus, junto de meu pai e seus irmãos ( tio Wolme, seu irmão, meu tio faleceu semana passada) devem estar contando causos, furiosos que o Uruguai perdeu, vó Lila acarinhando cada um deles e meu pai feliz em ver toda família reunida.
Quando ficamos mais velhos vimos partir tios, pais, irmãos e isto dói, mas me sinto tranquila que fui parte da história de cada um deles.
Vó Lila não conheci, meu vô João morou em nossa casa e brigávamos como cão e gato, tio Lenir levava sempre uma goiabada, um café ou um pote de doce de pêssego em suas visitas( era o rei da paciência) tio Wolme fez papel de pai em minha vida, mediou situações comigo e tio Zé foi o tio galã de novelas.
São tantas lembranças que passaria a noite escrevendo, toca uma gauchesca que hoje quero bailar para me despedir do meu tio Jose Adir Rocha Rocha
Acrílico sobre madeira
Bailarina
Artista: Jussara Rocha Souza
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