Prosa
Escuto o barulho da chuva e lembro dos tempos de criança.
Eu e meus irmãos dançando a dança da chuva no pátio de casa, brincando, brigando, dando risadas, chorando, uma família sem saber que éramos uma família.
Lembro os ditos populares de minha mãe que sem querer levamos para a vida toda como:
Jogar sabão no telhado para Santa Clara lavar a roupa de menino Jesus. Cruz de sal para abrandar a tempestade.
Tapar espelhos e por aí vai, são memórias que a chuva me trás, hoje queria nós todos juntos, inocentes, apenas crianças sem maldades ou coerência, apenas crianças!
O tempo vai nos levando embora aos poucos, a vida e seus cursos nos afasta, assim é, assim foi preciso. Hoje me deu saudade de ser criança, tomar banho de chuva, brincar nas poças de água e os pés embarar
.
Senti saudades até das surras e broncas de meus pais, porque eles estavam lá, hoje já sendo idosa vejo que o tempo está escorrendo por entre meus dedos, ficamos chorões e as saudades começam a nos visitar.
Lembro o pai na beira da mesa a contar causos quando faltava luz, a mãe cantando e o pai acompanhando na caixinha de fósforo.
A chuva tem este dom, trazer saudades no peito, ficarmos melancólicos e querer voltar o tempo, hoje quis ser criança e na minha inocência nunca deixar de ser, lembrar do gosto da casa dos pais, o fogão a lenha, o cheiro da casa da vó, a amizade com os primos, o dormir na casa dos tios, estes que muito me socorreram das minhas artes e várias fugas de casa.
E então nesta noite de muita chuva e tormentas, me enrolei em minha colcha de retalhos de lembranças e fui dormir com a saudade.
Jussara Rocha Souza
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