sábado, 6 de julho de 2019

A solidão dos esquecidos



A lua invadiu a sala e iluminou a face enrugada, esteve sentadas horas a fio 
sem ser notado, tal qual um ser invisível sobrevive ao insensível.
A muito perdeu noção de dias e horas, apenas come e bebe o pouco que lhe dá sem se importar com o paladar, passam correndo pela sala, dão risadas, conversam entre si e ele ali sem ninguém o notar. Será que morri? Não estão a me enxergar?
De repente o bebê passa engatinhando e se agarra a seus pés, que de tanto tempo parado já congelam e adormece, a nora corre e o retira rápido de perto, será que tenho algo contagioso e ninguém me contou?
Lembro-me dos meus meninos, amavam ficar agarrados aos meus pés enquanto lhes contava histórias hoje nem os vejo, acho que devem estar muito ocupados com seus compromissos, suas famílias.
Quando minha esposa morreu, eu sabia que em breve alguém iria sugerir um pensionato, uma clinica e já fui me preparando, nunca dependi de ninguém ate que comecei a esquecer das coisas, e então fui esquecendo o meu presente e eles também me esqueceram. Aos poucos os beijos escassearam, as visitas sumiram as consultas ao médico diminuíram e eu me vi sozinho.
Quando as recordações vem me sinto pior, pois me lembro de tudo e vejo que fui esquecido, que saudade de um abraço, dos amigos, dos netos, da alegria dos domingos.
Mas logo tudo se vai, e como em um passe de mágica já nem sei quem sou hoje está muito frio, está tudo escuro, a casa silenciou ninguém veio me levar para cama, de repente vejo minha esposa linda a me olhar sorridente, sei não estarei mais sozinho.
Uma lágrima escorre no canto dos olhos e a cabeça cai, morreu só, com a lua por testemunha.
Prosa em homenagem a meus pais que hoje já não estão mais aqui, minha mãe hoje faz três anos do seu falecimento.
Muitos esquecem seus pais, eu cuidei minha mãe até morrer.

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