segunda-feira, 6 de março de 2023

Prisioneiro de si mesmo

 



Tenho andado em busca de mim, sou sombra de alguém que não conseguiu ver a si mesmo.

Ando perdido na criança que nunca fui e no adulto que não quis ser, ser indesejado, fui vela apagada e a custas de sobreviver tive que me reacender.

Me vi adulto preso dentro de um corpo de criança, suportei um vulto em minha cama de madrugada que dia me dizia filho amado, fui escorraçado por uma mulher que me pôs no mundo mas que fechava os olhos para abusos com medo de ser trocada.

Quantos de nós andam por aí em corpos frágeis de meninos e com a alma sofrida de um idoso, quantos suportam a vida miserável que levam sem saber quem os pôs neste mundo de absurdos, que os faz surdos e tristemente mudos.

Quem consegue sobreviver a lama, veste sapatos caros e chora na cama ao ver seus pés ainda sujos de barro, barro este tatuado não só na sola dos pés mas no coração manchado de dor e corrupção.

Quando por um prato de comida corrompeu sua dignidade, quando calou por imposição da sociedade.

Não é amargura não irmão, é o desabafo de quem foi violado, vendido e o pior, por aqueles a quem deviam ser seus cuidadores, hoje mora em mansão, pois mesmo se morasse em duas peças seria castelo, para quem morou em barraca de plástico preto, cozinhou de fogo de chão e comeu bicho de refeição.

E neste apagar das luzes, oro para não ter pesadelos, mesmo tendo crescido, a história se inverteu hoje o homem aprisiona o menino, que tem medo de escuridão.


Jussara Rocha Souza

Nenhum comentário:

Postar um comentário