quarta-feira, 29 de março de 2023

Domingo

 Crônica 


Quando era menina meu pai sempre fazia um churrasco aos domingos mesmo que a carne fosse pouca, mas ele fazia questão de fazer, tomava sua caipirinha ou o samba. Eu gostava daqueles dias, meu pai cantava, eu dançava com ele e o domingo ficava alegre, minha mãe era uma pessoa seca de sentimentos e muito amarga e as vezes nestes dias ela cantava e trazia uma certa leveza para a casa.

Meus pais já faleceram, a vida continuou, um irmão faleceu, outros se dispersaram, mas as lembranças ficaram.

Sinto saudades daqueles dias, rígidos, quase sem carinho, mas com lembranças tão fortes que carrego na memória afetiva do meu coração.

Hoje não vou falar de memórias ruins, afinal é domingo, dia de juntar a família, dar risadas, discutir e recordar momentos engraçados de todos nós.

Hoje ninguém mais se preocupa em estar junto dos seus, não há mais respeito, gratidão ou solidariedade, cada um quer ter mais um do que outro, quer ser dono da verdade, não há mais pureza no sentir.

Vou falar aqui de uma passagem muito engraçada de um dia de domingo, meu pai almoçava e deitava para a sesta, naquele domingo estávamos de castigo eu e minha irmã Janete, não poderíamos dar nosso passeio tradicional de domingo, eu era muito terrível e resolvi que ia incomodar o pai até ele deixar.

Incomodei tanto que o pai levantou da cama e veio no meu quarto me bater, na pressa colocou a bermuda  sem cinto, ela caiu e ele se viu só de cuecas na nossa frente, ele saiu correndo de volta do quarto e eu chorava de rir.

Só que ele voltou com outra calça e a cinta na mão e aí o pau comeu.

Apanhei e fiquei de castigo de novo kkkk

Hoje sinto saudades destes dias, a família reunida, as risadas, os contos dos causos antigos, minha mãe dando trégua para a amargura, minha irmã cantando e eu dançando em cima dos pés de meu velho pai.

Tomara que todos aproveitem seus pais enquanto viverem pois depois será só saudades. 


Jussara Rocha Souza

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